Adalberto da Silva Retto Júnior: O titulo escolhido pela equipe brasileira “Modernidade como tradição” constitui-se em uma hipótese desenvolvida a partir de um percurso, que começa com imagens de habitações do Parque Indígena do Xingu ao lado de projetos de Lina Bo Bardi e Severiano Porto. Há claramente uma explosão do arco temporal passado por Rem Koolhaas: 1914-2014. Como a equipe explica esse deslizamento temporal?
André Corrêa do Lago: Essa é a ironia. A arquitetura indígena ainda é contemporânea no Brasil! Ainda temos milhares de índios que vivem e constroem dessa maneira. todas as fotos se referem a aldeias construídas com práticas tradicionais mas necessariamente depois de 1914! Estamos, portanto, dentro do arco temporal de maneira excepcional. O Brasil, como explica o texto na exposição, ainda tem cerca de cem 'povos isolados' (sem contato com a "civilização") quando em todo o mundo estima-se que existam menos de 150! É uma riqueza inestimável e única.
ASRJ: Pela primeira vez, a habitação indígena aparece como elemento de resgate da modernidade brasileira a partir de Lina Bo Bardi e Severiano Mário Porto. As cidades mineiras visitadas pelos nossos modernistas e que ilustraram a capa do catálogo da exposição “Brazil Buildings” no MoMA, em 1943, aparecem em um segundo momento. O que isso significa do ponto de vista historiográfico?
ACL: As primeiras construções no Brasil foram as indígenas, e tiveram forte influência pela técnica construtiva e materiais. Acho que houve menos atenção a essas construções de origem pré-colombiana por ser menos sólida e espetacular do que, por exemplo, o que existe no Peru ou no México. Mas justamente por essa maior fragilidade (as ocas devem ser reconstruídas com certa frequência – a cada 15 anos apontam certos estudos) e a necessidade de reconstrução, essas construções se tornam contemporâneas. Não são apenas construções do passado.