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interview ISSN 2175-6708

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português
Entrevista com a arquiteta paisagista Rosa Kliass, concedida a Antônio Agenor Barbosa, Rachel Paterman e Stella Rodriguez no dia 28 de outubro de 2013.

español
Entrevista con la arquitecta y paisagista Rosa Klias, concedida a Antonio Agenor Barbosa, Rachel Paterman y Stella Rodríguez el 28 de octubre de 2013.

how to quote

BARBOSA, Antônio Agenor; PATERMAN, Rachel; RODRIGUEZ, Stella. Entrevista com a arquiteta paisagista Rosa Kliass. Entrevista, São Paulo, ano 16, n. 063.04, Vitruvius, ago. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/16.063/5585>.


Roberto Burle Marx, paisagista [Foto divulgação]


Antônio Agenor Barbosa, Rachel Paterman e Stella Rodriguez: Como foi essa sua relação com Fernando Chacel?

RK: Foi uma das coisas mais lindas. Eu tenho uma saudade muito grande do Chacel. Ele morou no mesmo prédio que eu moro. Ele era casado com a Vera Severo e moravam aqui neste prédio.

Quando nós chegamos aqui, o projeto era do Ruy Ohtake e ele tinha feito o jardim. O projeto era um espelho d’água, com umas rodelas, que você tinha que pular de uma para outra para entrar no prédio. Sendo que até foi feita uma outra entrada, porque era impossível aquela.

Houve uma coisa muito interessante; um certo momento convidamos Garrett Eckbo, arquiteto americano, para visitar São Paulo. E no dia em que ele chegou nós o convidamos para um jantar em minha casa. Vieram o superintendente da região metropolitana e o Jorge Wilheim. O Eckbo foi trazido direto para o jantar. E quando ele chegou no apartamento, ele me perguntou: “o jardim do prédio é seu?” E eu respondi: “não, pode ficar tranquilo que não é.” Depois disso, eu e o Chacel propusemos ao condomínio uma reforma deste jardim.

AAB / RP/ SR: Em que bairro é este jardim?

RK: No Itaim Bibi. Chacel foi meu vizinho, meu amigo, meu companheiro, uma pessoa de quem eu tenho muitas saudades.

AAB / RP/ SR: Com quais profissionais a senhora já trabalhou? Não só arquitetos, paisagistas, mas também botânicos, biólogos, agrônomos, geógrafos, dentre outros.

RK: Fernando Chacel, que já havia falado, e alguns arquitetos paisagistas como a Miranda Magnoli, de quem fui sócia no início da minha carreira. Mas eu quero citar os geógrafos, estes tiveram uma importância muito grande em minha vida. Principalmente Carlos Augusto Figueiredo Monteiro e Aziz Ab’saber, que também tive a felicidade de fazer trabalhos com ele. O botânico Harry Blossfeld, que foi quem me apoiou nos primeiros passos.

AAB / RP/ SR: Quais são as atribuições de um arquiteto paisagista, hoje, no Brasil? Essas atribuições estão em sintonia com o que ocorre nos outros países ou não?

RK: Essa é uma questão que está sendo alvo de trabalho no CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Existem apenas as atribuições referentes aos arquitetos. Nós não temos as atribuições referentes à profissão de arquiteto paisagista no Brasil. A história das instituições é diferente da história dos nossos tempos. Os arquitetos levaram cinquenta anos para sair do CREA, para criar o CAU. Agora, nós temos outro embate que é a criação da profissão, porque em âmbito mundial a profissão existe e há também uma Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas, a IFLA. É uma profissão específica, mas aqui no Brasil nós não temos.

AAB / RP/ SR: Que horas que a senhora começa a trabalhar? Onde trabalha? E como é seu dia-a-dia de trabalho?

RK: O meu primeiro escritório era em casa. Minha casa conviveu com o escritório durante muito tempo. Em certo momento, eu resolvi ter um escritório fora de casa. Então eu aluguei dois apartamentos em um andar, que era localizado na Av. Brigadeiro Luís Antônio, próximo da Alameda Santos; eu tinha a chave da porta debaixo, então subia uma escada e o andar de cima era todo do escritório.

Eram dois apartamentos, e a minha intenção é que futuramente eu iria fazer uma reforma. Mas eu nunca tive dinheiro para arrumar o escritório, então era tudo meio improvisado, como por exemplo, a cozinha era o arquivo. Então assim eu convivi durante muito tempo com este escritório. E nesse meio tempo nós compramos este apartamento do Ruy Ohtake, aqui no Itaim Bibi, e fizemos uma reforma total deste apartamento.

Acho até mesmo que ele nunca soube que eu fiz, e de repente eu pensei: eu posso trabalhar em casa. O meu filho já havia saído de casa e só morava comigo a minha filha. Então adaptei o apartamento para fazer o escritório em casa. A sala de estar e jantar, é na verdade a sala de reuniões do escritório. Então eu trabalho em casa desde essa época, há muitos anos, o que eu chamo de “home office”.

AAB / RP/ SR: Quantas pessoas trabalham com a senhora?

RK: Neste momento, nenhuma. Hoje eu trabalho com parcerias. Eu tenho três escritórios de arquitetura paisagística que têm toda uma história comigo e que são meus parceiros. Quando é encomendado um projeto, eu delego para o escritório que tem mais semelhanças com ele. Por exemplo, com o Luciano Fiaschi ou então vou fazer uma parceria com a Ciça, que tem um escritório de arquitetura paisagística com o marido. Luciano Fiaschi é um excelente arquiteto paisagista que tem uma história com projetos residenciais. Comigo, além de projetos residenciais, ele tem colaborado em outras escalas, com muito sucesso.

A Ciça, Maria Cecília Barbieri Gorski, é casada com o Michel, que é meu sobrinho. Eles têm uma firma chamada Barbieri Gorski. Os dois são arquitetos e se conheceram na faculdade e foram meus alunos quando eu dei aulas no Mackenzie. E a Ciça, assim que saiu da faculdade, veio trabalhar comigo.

O terceiro parceiro é José Luiz Brenna que tem uma empresa chamada “Soma”. Ele trabalhou sete anos comigo. Quando saiu, abriu seu escritório, bem-sucedido, já ganhou até prêmio internacional. O último projeto em que ele trabalhou comigo foi o Parque da Juventude e ele foi um grande colaborador.

Além dos projetos elaborados com esses parceiros também faço consultorias.

AAB / RP/ SR: A senhora foi uma das fundadoras da ABAP. Por que a senhora resolveu participar desta associação? Quais são as atribuições da ABAP hoje?

RK: Na verdade eu criei essa associação. Um dia eu recebi do Manfredo Gruenwald, editor da revista Acrópole, uns livros: eram os anais de um congresso da Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas (IFLA). Até então eu não sabia da existência desse órgão internacional.

Isto ocorreu na década de 70 e me tornei membro individual. Esta categoria era possível em países que não fossem filiados à IFLA e havia o compromisso de criar a associação nacional e filiá-la à IFLA.

E então quando eu me associei e fiquei sabendo que neste mesmo ano, 1975, ia haver um encontro no Texas (EUA) e eu fui para lá. Chegando lá, eu encontrei pela primeira vez os membros da Federação Internacional. Conheci o Presidente que era um alemão, que morava em Portugal e também o Secretário Geral que era português. Este português pegou no meu pé: “Por que no Brasil não há uma Associação de Arquitetos Paisagistas?”. Então eu disse que não havia arquitetos paisagistas. E ele falou: “como você pode falar isso com o Burle Marx lá?” Então eu falei: “nem o Burle Marx é arquiteto paisagista”.

Eu prometi a ele que, chegando no Brasil, iria tentar montar uma associação, esta não iria ser de arquitetos paisagistas, mas de arquitetos que faziam paisagismo. E eu vim com essa missão. Quando cheguei aqui chamei as pessoas que eu sabia que faziam paisagismo.

Então foram: Francisco Riopardense de Macedo, professor de paisagismo em uma escola de arquitetura no Rio Grande do Sul, que tinha escrito um pequeno postulado sobre paisagismo. Chamei também uma moça do Pará, que também fazia projetos paisagísticos, algumas pessoas da Bahia, enfim, vieram todos e no mesmo dia foi criada a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), com dezoito membros.

AAB / RP/ SR: Fernando Chacel estava entre eles?

RK: Não me lembro bem. Mas então foi criada a associação e no ano seguinte, em 1978, eu montei o Congresso Internacional da IFLA em Salvador, com essa precariedade de associação nós fizemos esse Congresso Internacional.

AAB / RP/ SR: E quais as atribuições da ABAP hoje em dia? A senhora acompanha a ABAP ainda?

RK: Acompanho sim. Eu não participo mais da diretoria. Felizmente, consegui estruturar a ABAP, fortalecê-la. Hoje existem a ABAP central e as ABAP’s estaduais, denominadas de núcleos regionais. A presidente da ABAP, hoje, é uma paranaense, chamada Letícia Hardt. O núcleo de Curitiba é muito importante, muito forte. A ABAP é membro da IFLA e do CAU também.

AAB / RP/ SR: Como a senhora situa o seu trabalho, a sua concepção de paisagismo em relação a profissionais como Burle Marx, Haruyoshi Ono, Fernando Chacel, Benedito Abbud e outros?

RK: São todos meus colegas e eu tenho muito respeito por todos eles. Vamos começar pelo Haruyoshi Ono. Haru, supostamente, seria o herdeiro de Burle Marx. Mas eu digo que o continuador da obra de Burle Marx, na verdade, foi Fernando Chacel, pelo conteúdo programático da obra do Roberto Burle Marx.

Roberto Burle Marx foi atrás da vegetação nativa, trouxe vegetação não-nativa; teve uma base muito forte da vegetação e o Chacel também. O desenho do Roberto é um desenho pictórico, ele era um pintor. Ele pintou quadros nos jardins, ele não pode ser imitado, ele não pode ser seguido. É como se você estivesse copiando um quadro dele. Pode-se adaptar certos critérios, infelizmente eu acho que o Haru faz isso, ele tentou dar continuidade ao trabalho de Roberto, o que eu acho um equívoco.

AAB / RP/ SR: Quais paisagistas lhe servem de referência quando a senhora precisa se inspirar para algum trabalho?

RK: Eu acho que já absorvi todas essas influências e o meu trabalho, hoje, tem uma força própria. Eu não me inspiro em nenhum paisagista.

AAB / RP/ SR: Como a senhora vê o paisagismo atualmente no Brasil?

RK: Eu vejo como muito promissor. Eu acho que é uma profissão que tem realmente que tomar fôlego e se organizar.

AAB / RP/ SR: A senhora tem algum projeto que já foi tombado pelos órgãos de preservação?

RK: Eu não tenho ainda nenhum tombado. Ainda não virei história.

AAB / RP/ SR: Recentemente, no Rio de Janeiro, o Parque do Flamengo, tombado pelo Iphan, foi declarado pela Unesco patrimônio da humanidade, na categoria de Paisagem Cultural. Como a senhora entende esta categoria “Paisagem Cultural” e como, na sua opinião, se tomba um projeto paisagístico?

RK: Existe uma matéria tão importante relacionada com esta questão de tombamento. É uma questão muito complexa para eu dizer quando um jardim ou um parque deve ser tombado. É muito complexo, eu não saberia te dizer.

Em relação à “Paisagem Cultural”, eu não entendo muito esta denominação. Todas as paisagens são culturais. No caso do Parque do Flamengo, pode-se entender que é um projeto de uma relevância muito grande, provavelmente um dos maiores parques urbanos existentes. Quando ele foi criado ele era o maior parque urbano que se tinha, e com a “grife” de Roberto Burle Marx.

AAB / RP/ SR: A senhora já teve experiência como docente, em cursos livres ou mesmo em cursos regulares em universidades? Quais foram essas experiências?

RK: Duas vezes eu fui professora regular em escolas de arquitetura, nas duas vezes foi para criar a “cadeira” de Arquitetura Paisagística.

A primeira foi na Mackenzie, foi quando a Ciça e o Michel Gorski foram meus alunos. Eu fui chamada para criar a “cadeira” de Arquitetura Paisagística e assim seguiram dois anos, depois eu saí.

E a outra vez foi em Curitiba. Quando foi criada a Faculdade de Arquitetura da PUC de Curitiba, um grande amigo me chamou. Ele era o diretor da faculdade, o curso estava chegando ao quarto ano e não tinha a “cadeira” de paisagismo. Então ele queria que eu desse aulas de paisagismo. Eu assumi o encargo de ir quinzenalmente para lá. O aeroporto era muito ruim, nunca tinha teto para o pouso dos aviões. Era um sacrifício.

Mas eu criei a “cadeira” e depois quem foi professor desta “cadeira” de paisagismo foi a Letícia Hardt, que hoje é presidente da ABAP, e o Orlando Busarello que, hoje, é o diretor do Núcleo Paisagístico Paranaense da ABAP. Ambos foram meus alunos e são profissionais excelentes, formados na PUC de Curitiba.

AAB / RP/ SR: Por que a senhora classifica o seu trabalho como “Arquitetura Paisagística”?

RK: Não existe essa profissão no Brasil, mas eu faço o que deveria ser feito por um Arquiteto Paisagista. Pois eu considero que sou uma Arquiteta Paisagista apesar de não ter o diploma. Eu tenho diploma de Arquitetura.

AAB / RP/ SR: Existe uma paisagem brasileira?

RK: Não, existem “paisagens brasileiras”. Pode-se citar vários grupos de paisagens. A paisagem do árido, da floresta amazônica, paisagem do cerrado, o pantanal... Por exemplo, a paisagem do pantanal “invade” outros países, como a paisagem do Rio Grande Sul que passa para o Uruguai. As paisagens não têm limites políticos.

AAB / RP/ SR: A senhora pode falar mais um pouco sobre essa questão da paisagem não poder ser limitada? Até que ponto se delimita um espaço? Como a senhora pensa essa questão?

RK: Eu nunca tive encomendas deste gênero. Mas eu já fiz um trabalho regional, onde existiam os limites políticos, mas as paisagens não se limitam. Uma paisagem poderia estar em três municípios; um município poderia ter cinco paisagens diferentes.

AAB / RP/ SR: A senhora acha que esta questão, sobre a existência de uma “paisagem brasileira”, é importante para os arquitetos paisagistas atualmente ou não?

RK: Eu acho que é uma questão muito importante sim. Se for buscar o Burle Marx, ele já tinha essa preocupação com a paisagem brasileira.

AAB / RP/ SR: Qual a idade da senhora hoje?

RK: 81 anos. Nasci em 15 de Outubro de 1932.

AAB / RP/ SR: E se formou em que ano?

RK: Eu me formei em 1955 na FAU/USP.

AAB / RP/ SR: Rosa, agradecemos muito a sua generosidade em nos conceder essa entrevista.

RK: Foi um prazer, também gostei muito.

Sesc, Centro Campestre, São Paulo, arquitetura paisagística de Rosa Kliass [Foto divulgação]

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