Marcelo Bezerra: Qual tema de projeto que mais trabalha?
Sergio Rodrigues: O mobiliário. Sou um apaixonado pela madeira, gosto do mobiliário, tinha algum princípio nesse sentido. Não é o produto, não é a criação do produto do Design, por que eu me dedico ao mobiliário. Eu não sou formado em Design, não tenho esse título de designer, para mim é um pouco mais complicado. Eu prefiro ser um arquiteto que desenha móveis. Antigamente eu produzia também, agora só desenho.
Agora posso divagar um pouco, por não ser professor e ser velho, eu posso estar dizendo uma porção de coisas que podem não interessar, podem não ser percebidas. Mas eu tenho uma certa cisma com esse nome de Design por que eu acho que por ser derivada de uma palavra latina, por que é que nós não usamos como os espanhóis ou ibéricos, que chamam de “Diseño”. E vamos copiar dos estrangeiros e usamos a palavra “Design” e não usamos a palavra “Diseño” que teria mais relação conosco, por ser ibérica e derivada do latim. Agora nós poderíamos catar uma nossa, uma expressão um pouco mais perfeita, um pouco mais exata, usando palavras brasileiras.
MB: Como iniciou no desenho de mobiliário?
SR: Bem surgiu no início a vontade de desenhar, de criar mobiliários. Foi uma loja. Mas os primeiros trabalhos foram atendendo a amigos. Depois eu tive a ideia de criar uma loja e aí comecei a desenhar para atender ao público em geral, porém fui muito criticado na época por muitos colegas arquitetos, como eu iria ter uma loja com móveis que não tinham nada a ver com as tendências da época. Porque eu fazia mobiliário sem consultar os clientes ou pessoas entendidas ou ligadas diretamente ao mobiliário, etc. Aí eu achei que se fosse para responder isso eu diria: eu desenho aquilo que eu gosto. Eu sei que tem muitas pessoas que vão gostar daquilo que eu faço. Então eu desenho do meu modo, sem depender de tendências ou de coisas que estejam sendo feitas, modas, eu desenho aquilo que quero, que eu gosto. Por isso que consegui fazer uma poltrona do gênero da poltrona Mole, porque não estava dependendo, vamos dizer assim, de exigências de clientes.
MB: Você também projetava a partir de demandas?
SR: Não, surgiu porque a vontade de criar coisas, a vontade de criar, a secura de estar criando coisas, ia fazendo sem mesmo haver a necessidade, de haver um pedido especial de clientes ou de fábrica.
MB: Quais os tipos de clientes e como se aproximavam?
SR: Eu fiz muitos trabalhos atendendo a clientes, as pessoas me procuravam porque eu tinha uma boa formação de arquitetura de interiores, de planejamento de interiores, de ambientação. Eu tive um bom preparo, de maneira que comecei realmente fazendo o que chamavam na época o que se chama hoje de decoração. E, realmente, para atender a muitos pedidos de clientes e eu completava às vezes, porque eu comecei a Oca vendendo coisas da Forma, então completava com desenhos meus algumas coisas. Depois eu substitui o que recebia da Forma por desenhos meus e a Oca em dois anos só produzia móveis meus.
MB: E o material sempre madeira?
SR: Em princípio sempre a madeira, 99% madeira. Fiz umas experiências com estrutura na época de latão, porque era mais barato que aço inoxidável.
MB: O tema sendo arquitetura ou design dita a forma de projetar?
SR: Eu considero as duas coisas praticamente iguais, vamos colocar assim: arquitetura e design. São criações desenvolvidas. Claro que a arquitetura tem uma escala bastante maior e o produto – do Design – como complemento dessa arquitetura que é desenvolvido praticamente com a arquitetura.
MB: Qual das fases do projeto mais lhe atrai?
SR: Se eu quero ter o produto, todas as fases para mim são interessantes. Na hora que eu estou imaginando eu começo, o Lucio Costa tinha um nome para isso, o risco inicial, é interessante, faço uma porção. O risco inicial é muito interessante porque você vai criando. Cria e nos primeiros desenhos, desenvolve e vai aproximando daquilo que você está imaginando.
Depois você passa para a fase do desenho, primeiro os desenhos sem escala, com as perspectivas, depois uma espécie de projeto, anteprojeto, na escala de 1/10, depois conforme for, com o detalhamento, passo para a 1/5 e, por fim, para 1/1. Eu entrego todos os detalhes em escala 1/1. Para não haver problemas. Eu tive muitos aborrecimentos, inclusive, a primeira poltrona que desenhei, para caber num papel de 1.00 x 0.50 m, desenhei na escala 1/5, entreguei ao marceneiro para desenvolver o esqueleto e ele fez a peça em 1/5, de modo que ficou uma cadeira para criança. Eu fiquei decepcionado com aquele negócio e foi quando eu percebi que tem que se entregar todos os detalhes para o marceneiro, por melhor que seja, em tamanho natural, para não haver problemas.