Marcelo Bezerra: Você adota alguma metodologia? Como varia de acordo com cada situação?
Sergio Rodrigues: Eu diria do meu trabalho, não sei se todos fazem isso. Eu vejo, por exemplo, nesses títulos, nessas dicas, de decoradoras, que ficam presas a tendências, o que está se usando. Então ela tem já de saída alguns freios. Para mim não tem esse negócio, eu posso gostar de uma tendência, eu posso gostar e utilizar. Então vou utilizar não por ser tendência, mas sim porque me agrada.
MB: E o seu processo de projeto, o primeiro risco? A velocidade é sempre a mesma?
SR: Não, havendo uma sintonia com o cliente o negócio é realmente bastante rápido. Mesmo com problemas um pouco complexos, o negócio é rápido. De maneira que é essa a forma que eu sempre trabalho. Primeiro uma conversa, recebo o esquema, o programa, visita-se o local, no caso da arquitetura, as condições todas, vamos desenvolvendo o estudo preliminar, anteprojeto, projeto, desenvolvimento, detalhamento, isso daí é comum. Muitas vezes a gente encontra determinados clientes que querem uma coisa e depois mudam de ideia e não admitem que tenham mudado. Aí nos acusam de ter interferido no projeto deles. Nós temos alguns trabalhos em que o cliente muda de ideia, um casal, a mulher tem uma ideia e não fala com o marido e transmite para nós. Nós desenvolvemos, aí quando o marido chega acha ruim, discorda. Esse problema de quando no lugar de um cliente são dois clientes que discordam, para a mesma coisa, aí é um problema. Por isso mesmo que eu estou me desligando dessa parte de interiores, deixando tudo isso com a Veronica, que enfrenta essa situação perfeitamente bem, tem essa parte diplomática, conseguindo contornar esses assuntos, eu já não tenho mais saco para isso.
MB: Como você trabalha a criatividade? Principalmente na primeira fase do projeto, para as ideias surgirem.
SR: Claro que, a ideia, eu já percebi isso, inclusive voltando a um certo tempo atrás, no caso da poltrona Mole, que foi um dos poucos casos em que eu já desenhei a poltrona praticamente na escala de 1/1 e aquilo que foi desenhado é aquilo que foi feito. E é o que é até hoje. Mas quando a gente pensa, como foi fácil o desenho da poltrona Mole, eu cheguei a conclusão que já tinha isso na cabeça há muito tempo e quando chegou aquela oportunidade, sem eu perceber, inconscientemente, alguma ligação daquilo com o que anteriormente estava gravado na cabeça foi desenvolvido. Em princípio são essas coisas. Agora eu recebi também uma informação quando eu estava na Forma, eu passei um ano como o primeiro brasileiro a fazer a parte de ambientação de interiores. E tinha um designer italiano (Nota de Rodapé: Giò Ponti) que era realmente um camarada excepcional, era muito bom, ficamos grandes amigos, fomos sócios, inclusive. Ele me vendo sentado em frente a prancheta, tentando rabiscar alguma coisa, perguntou: “O que você está fazendo?”. Então eu respondi que estava procurando fazer alguma coisa, mas que não tinha certeza do que seria. Ele então me falou que não adiantava eu ficar em frente a prancheta: “Quando você vai para a prancheta já vai com a coisa praticamente resolvida.” Eu achei aquilo brincadeira, mas depois percebi que era exatamente aquilo. Tanto assim que quando não aparece a solução de imediato, eu não fico rabiscando, aí é um rabisco mesmo. Risco é depois que você tem a ideia para a produção. Quando você não tem eu acho que é rabisco mesmo. Então eu não fico mais rabiscando. Quando eu fico rabiscando, fico perdendo tempo, estou enchendo linguiça.
MB: Existe algum profissional que seja uma referência?
SR: Influência você sempre tem, querendo ou não querendo, influência você sempre tem, não há dúvida nenhuma. E eu não admitia isso logo que saí da faculdade. Porque eu lia o que saia em livros e revistas estrangeiras, sempre tive um acesso muito grande a essas coisas todas, e quando eu começava a projetar, se por acaso encontrasse algumas coisas parecidas em alguma daquelas revistas, eu suspendia. Por que eu não queria jamais receber a pecha de estar copiando ou me inspirando em alguma coisa. Depois eu percebi que certos desenhos meus, depois terem sido feitos, e eu não ter encontrado, não ter me baseado em alguma coisa já executada, por brasileiro, estrangeiro, eu percebi que tinha influência. Aí atrás mesmo (Nota de Rodapé: na sala em que fizemos a entrevista) tem uma cadeira, a Oscar, ela teve uma influência, e vi depois de muito tempo, de designers dinamarqueses.
Eu tive uma paixão muito grande pelos móveis nórdicos. Porque os nórdicos utilizam a madeira maravilhosamente bem. Os italianos utilizavam em determinado período muito a madeira e depois começaram a usar outros materiais, materiais sintéticos e fizeram pesquisa em todo o universo de materiais.
Eu tive uma surpresa muito grande, quando estive em Copenhague, entrando em uma das mais importantes lojas da cidade, vi a poltrona Mole no fundo da loja. Eu disse “esse pessoal está copiando a poltrona Mole”. Aí chegando perto vi que era a poltrona Mole, que já era feita na Itália, que passou a ser feita lá, que lá tinha outro nome. Era importada na Dinamarca para venda também. E nessa casa (loja) só modelos nórdicos. A poltrona Mole era a única exceção, única peça que estava lá praticamente como se fosse um modelo nórdico ou que tivesse características agradáveis a eles. Aí eu comecei a ver que realmente tinha alguma coisa, embora a poltrona Mole não tivesse nada ver com aquilo, mas eles estavam respeitando. Inclusive na revista Mobilia, que é uma revista dinamarquesa, colocaram a poltrona Mole, logo depois que ela foi premiada, dizendo que “agora a tendência italiana está sendo fazer a estrutura de madeira com esses almofadões todos assim”, aí aparece o desenho da poltrona Mole com embaixo dizendo a fotografia do “designer” italiano Sergio Rodrigues. Pelo fato de ela ter sido premiada lá, o pessoal já pensava que ela era italiana. E quando eu chegava para dizer que a poltrona era minha o pessoal falava que era um arquiteto mexicano, porque eu tinha “z”. Então o pessoal imaginava que eu fosse de outro lugar: brasileiro não, brasileiro não sabe fazer esse negócio.
MB: E a área acadêmica?
SR: Eu não dou aula não. Eu não tenho tino de professor. Não tenho uma sistemática que um professor tem que ter, uma maneira de tratar, uma maneira de apresentar ao aluno. O que eu faço, o que eu já tenho feito, em diversas ocasiões, são bate-papos, palestras, sobre o meu trabalho e defendo, mostro meus problemas, porque eu não consegui fazer bem esse negócio aqui, porque isso aqui falhou, quais os problemas que eu tive. É uma coisa que poucos professores dizem ou porque não tem uma experiência maior, então contam os problemas teoricamente, não “isso aqui não se faz”. Eu já, diferentemente, conto que fiz assim e fiz errado. Então é uma maneira de conversar quase no mesmo nível dos alunos. Para aula eu teria que ter um currículo, teria que ter uma sequência, uma ordem, explicar isso primeiro, depois aquilo. Eu prefiro contar os meus problemas e os alunos vão anotando.