Isabella Serro Azul: Como foi a experiência de projetar o Crusp?
Sidney de Oliveira: A ideia inicial era do Crusp ser construído para os IV Jogos Panamericanos de 1963 e depois ser utilizado para a habitação. Para os jogos, não teríamos tempo de empregar a pré-fabricação porque não tinham indústrias nem livros disponíveis. Nós não conseguimos nenhum livro de pré-fabricação na época.
Conseguimos um adendo na concorrência pública para que a construtora se comprometesse a utilizar o pré-fabricado do projeto original. Nós fizemos isso para comover mesmo: ninguém melhor do que a Universidade de São Paulo – USP para fazer algo inovador! A firma que pegou a concorrência teve que mandar um engenheiro estudar sobre pré-fabricados na Europa.
Não tínhamos grua, então foi montado um trilho no sentido do comprimento do prédio e foram utilizadas rodas de trem mesmo. Era mais seguro ter o trilho para o guindaste não oscilar. Esse trilho era reaproveitado nos outros edifícios.
Nós, o [João Batista Villanova] Artigas, o Ícaro de Castro Mello e o Rino Levi nos reuníamos na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Rua Maranhão para fazermos o planejamento da Cidade Universitária, foi quando decidimos onde ficaria o Crusp. Nós queríamos que os estudantes andassem de um prédio para o outro no coberto. Fizemos os edifícios intercalados, mas os intervalos projetados não foram mantidos como projetamos.
Depois dos jogos, seis prédios estavam prontos e seis, só o esqueleto. Nessa época, começou a Revolução de 1964 e foi colocado um reitor na USP [...] que quis desmontar o prédio do eixo da avenida para ele poder ter aceso direto ao Crusp. Isso mostra uma vantagem do pré-fabricado: a possibilidade de desmontar os edifícios. As peças puderam ser usadas em outros lugares e perdemos só a fundação.
As peças já vinham com os vazios feitos para as instalações que eram artesanais. Não tivemos nenhum problema para içá-las e as fôrmas eram metálicas.
Fizemos um prédio de cada cor [...]. Não eram para serem pintados. Pré-fabricado não é para ser pintado no canteiro de obras.
Fiz uma excursão para o Rio de Janeiro pelo Instituo de Arquitetos do Brasil – IAB e fui na empresa Formiplac, na cidade de Niterói. Eles fabricavam fórmica colorida que era o que estávamos precisando. A fórmica na fachada desgasta com o tempo e continua colorida. A placa tinha que ter 1 cm de espessura. Voltei para São Paulo com uma sacola de amostras da Formiplac.
Naquela época, podíamos fazer o elevador parar a cada meio nível e isso gerou economia porque era muito caro fazer cada parada. Com o primeiro meio nível acima do térreo, não precisamos fazer as molas enterradas com impermeabilização.