Isabella Silva de Serro Azul: Como foi a experiência de projetar a Faculdade Farias Brito?
Sidney de Oliveira: Essa é a joia da coroa! Nós nos colocamos no lugar do Artigas quando fez a FAU na Cidade Universitária, imagina a satisfação dele?
Lá no terreno já existia a Igreja com sino e tudo, atrás tinha um convento e uma Faculdade de Filosofia. O terreno vai descendo até chegar em um brejo.
Estávamos dando aulas em salas adaptadas nos prédios antigos e a cantina era lá no pátio das clausuras. A gente ia adaptando as salas, demos aula até no salão de festas do prédio do vizinho.
Em um almoço, me perguntaram o que achávamos dessas construções e dissemos que estávamos ocupando horizontalmente [...]. E qual era a solução? Na nossa opinião, era vim de baixo para cima. Eles toparam, mas precisava ser bem econômico, então fizemos com pré-fabricado.
Nessa época, já tínhamos a grua para montar o edifício. Os alunos que estudavam lá viram as máquinas montando toda a estrutura. Era uma aula!
Primeiro, cravaram as estacas. A partir da estaca, as demais peças pré-fabricadas encaixavam. Os pilares já encaixavam do tamanho do prédio todo e aí vinham as vigas berço. Encaixaram todos os pilares. Vieram as carretas com as vigas berço. Depois vinham as vigas laje com “abinha” e a obra continuava mesmo quando chovia porque era com peças pré-fabricadas. Na cobertura colocamos a iluminação zenital.
Foi feita a torre de banheiros em concreto aparente ligada ao outro prédio pela escada. A escada é arredondada e moldada in loco. Para fazer as fôrmas arredondadas foram utilizadas chapas de madeirite com furos para passar os torniquetes de ferro que as deixavam envergadas. Esses furos foram mantidos nas peças para que os alunos pudessem vê-los.
Tínhamos que dar originalidade na fachada e sermos econômicos, então fizemos o quebra sol. Fizemos com todos com ângulos do esquadro. Fomos em vários fabricantes de telha de fibrocimento e eles falaram que não dava para executar porque a peça quebraria. Aí fizemos de fibra de vidro na firma de um ex-aluno. Ele disse que a peça era ideal para desencaixar do molde porque era cônica. E ele fez um protótipo. E o perigo do fogo? Ele tinha uma solução com resina antichamas e me mostrou no protótipo.
O cliente disse que ia estourar o orçamento com o quebra, aí falamos que o seguro caía para a metade e ele falou: pode fazer! Ficou sendo, até hoje, o logotipo da Universidade de Guarulhos – UnG (antiga Faculdade Farias Brito). Essas peças de fibra de vidro têm 10% de transparência, elas protegem do Sol e deixam a iluminação natural entrar.
Nós convidamos outros professores da escola para fazerem os projetos de instalações de elétrica e hidráulica. O projeto de elétrica foi feito pelo professor Elia Cury. Ele fez um sistema que os professores recebiam uma caixinha de alumínio com o projetor de slides e eles injetavam isso na parede para acender a luz. Desse jeito, não tinha como ninguém deixar a luz acesa na sala de aula que não estivesse sendo usada. O projeto de hidráulica foi feito pelo professor Adolfo Coihem. Os banheiros estavam na torre de concreto aparente, a cuba também era de concreto e pintada por dentro de branco com tinta epóxi. No feminino, tinha um plano na parede para as moças deixarem suas maquiagens. As instalações hidráulicas foram projetadas para serem todas aparentes e isso era uma verdadeira aula para os alunos!
Terminamos no prazo e o cliente ficou feliz. Ele quis outro prédio só que disse que dessa vez sem ser pré-fabricado. Aí ele mexeu conosco! Fizemos protendido!
O outro prédio tem o mesmo quebra sol que funciona como brise vertical e horizontal. Em cada fachada as peças ficam em uma posição, dependendo da incidência do Sol.