Fontes bibliográficas, textos e imagens com referências arquitetônicas sempre foram matéria-prima preciosa para o conhecimento de arquitetura. No entanto, na prática de projetos de arquitetura e no exercício do ofício, pessoalmente, desde cedo, aprendi com Le Corbusier e outros arquitetos viajantes que a visita in loco a obras referenciais, ou simplesmente a vivência em contextos urbanos distintos, trazem outro nível de percepção e aprendizado, próprio da experiência. Passei, portanto, boa parte de minha vida fazendo viagens arquitetônicas, muitas vezes condicionando familiares e acompanhantes em férias a este objetivo.
Nos últimos anos, dedicado à pesquisa no campo do ensino do projeto de arquitetura, em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Propar UFRGS, lendo material a respeito e participando de eventos da área, senti a mesma necessidade: ver in loco o que fazem e pensam professores/ arquitetos de projeto em outras instituições, em escolas referenciais e em seus escritórios. Conversar com "fontes bibliográficas" e "referencias arquitetônicas" ao vivo, visitar seus espaços de ensino e de trabalho e ouvir seus depoimentos sobre o futuro de nossa profissão tem sido uma fonte de compreensão da cena contemporânea igualmente preciosa. Durante três anos, com verba proveniente do Prêmio Capes de Tese, coloquei em marcha um plano ambicioso de visitas a instituições referenciais e professores/ arquitetos formadores de opinião, de diversos segmentos, gerações ou tendências. Após estadias em Toronto, Nova York, Troy, Boston, Cambridge, São Diego, Los Angeles, Santa Bárbara, São Francisco, Paris e Lima, nas missões de pesquisa já realizadas até agora e com algumas dezenas de entrevistados, o material recolhido e absorvido começa a permitir compartilhamento. Peter Eisenman talvez dispense apresentações, pelo menos aos da minha geração, mas para quem não vivenciou a crise da arquitetura moderna no Brasil, a partir do final dos anos 1980, vale a pena conhecer um dos grandes críticos e pensadores de arquitetura da segunda metade do século 20, bem como um dos exponenciais arquitetos da cena internacional, cujos textos e obras impactaram a cultura arquitetônica mundial por mais de uma geração. Esta entrevista, portanto, mostra um Peter Eisenman "sênior" e sua visão sobre as novas crises que se avizinham, mudanças contemporâneas e o futuro da arquitetura.