Sérgio M. Marques: E para exercer o ofício, fazer projetos, ter um escritório, o que você acha que é importante hoje em dia?
Peter Eisenman: Bem, antes de tudo, eu sou uma pessoa excêntrica no contexto do mercado, quero dizer que sou uma pessoa muito específica. Não somos grandes escritórios profissionais como Skidmore, Owings e Merrill, KPF ou IM Pei. Eles ainda são gigantes, você sabe, têm milhares de colaboradores. Eles fazem muitos trabalhos grandes, prática global, no Oriente Médio e Extremo Oriente. Essas pessoas têm escritórios enormes em Pequim e filiais em vários outros locais. Então eu só posso falar sobre o tipo de prática que eu tenho e que está realmente na margem...
SMM: Entendo... E em relação às questões estéticas?
PE: É disso que se trata minha prática, de questões estéticas! Quando eu ensinava nos anos sessenta e setenta, tínhamos autoridade, havia Le Corbusier, havia Mies Van der Rohe, havia Venturi, Rossi e Stirling. Sempre havia uma referência que os alunos procuravam. E você podia colocar o livro de Le Corbusier em cima da mesa, podia colocar o livro de Aldo Rossi, ou Manfredo Tafuri. Agora não temos estética no mundo acadêmico. Nenhuma norma, nenhuma autoridade. Não há ninguém que tenha peso. Você não pode ensinar, quero dizer, eu não posso ensinar a Zaha Hadid... Essas coisas são loucas, certo?
(risos)
PE: Totalmente maluco, certo? E você não pode ensinar Bjarke Ingels... A propósito, você deveria ver o prédio dele no lado oeste, é interessante ver. E Frampton vai te dizer as mesmas coisas, quero dizer, nós somos muito próximos e da mesma idade. Creio que atualmente não há autoridade na arquitetura. Acho que há outros interesses nos alunos. Eles querem algo que os prepare para conseguir um emprego. Precisam conhecer BIM, precisam conhecer o Revit, precisam saber dos softwares, precisam saber como escrever algoritmos, coisas técnicas, informações em tecnologias. Então, estamos nessa situação, tipo, qualquer universidade é a mesma coisa, os estudantes querem saber como vão conseguir um emprego. E para conseguir um emprego, precisam ter um grau técnico avançado. Necessitam conhecer sustentabilidade, precisam obter certificados LEED, precisam de todos os tipos de coisas que não me interessam como arquiteto...
Na verdade, não interessam a muitas pessoas como arquiteto. Como Bernard Tschumi ou Rem Koolhaas. Há certos arquitetos assim em todo o mundo, mas, eles são muito diferentes. Você não poderia escrever este livro hoje ("A Revisão do Movimento Moderno? Arquitetura no Rio Grande do Sul dos anos 1980" de Sérgio, que estava sobre a mesa), porque, antes de tudo, ninguém iria lê-lo. Ninguém está lendo livros. Número dois: ninguém publicaria em inglês o que estou falando (bate na mesa). Porque o clima mudou. Nós elegemos um tolo. Somos um dos países mais poderosos do mundo e temos um idiota para presidente. E claramente deve haver mais idiotas do que pensávamos...
(Risos)
PE: E agora eu vivo assim, o que posso lhe dizer? Linguagem, linguagem... eu não posso falar sobre o mercado e o contexto de escritório, e eu não acho que Ken Frampton também será capaz de lhe falar. Talvez o pessoal da RPI (Rensselaer Polytechnic Institute) saiba mais. O que posso dizer? O reitor é um cara muito bom na RPI e talvez ele saiba mais. Nós atualmente estamos fazendo isso (apontando para um projeto preso na parede). É um edifício que estamos fazendo em Istambul. Trinta e cinco mil metros quadrados. É um grande museu arqueológico.
SMM: Foi um concurso?
PE: Sim, foi um concurso. Que vencemos. Esse é um modelo de trabalho decente. Este vai ser construído. À esquerda estamos vendo outro projeto em Istambul e um projeto em Milão, Itália. Temos um projeto na Cidade do México. Então, eu não quero muito trabalho... Eu tinha um escritório grande, com trinta, quarenta pessoas, mas eu não quero mais isso. Com seis ou sete pessoas agora é suficiente, porque eu não faço projetos executivos. Temos arquitetos associados que fazem o projeto executivo e os cálculos. Você não precisa estar em Istambul para controlar o que eles estão fazendo lá. Eles têm um escritório com cem pessoas e podem produzir mil e seiscentas folhas de desenhos de obra, quero dizer, eu não estou interessado em fazer isso. Revisamos este material, mas é isso basicamente. Existem vários escritórios que não fazem mais desenhos de construção, eles apenas fazem o que é chamado de desenvolvimento de design e entregam para outros escritórios fazerem o projeto executivo. Porque é muito caro, muito tempo etc.