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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Entrevista realizada a partir da Pesquisa "A Educação do Arquiteto para o Século 21 – O Ensino do Projeto de Arquitetura e Urbanismo no final do Curso", em desenvolvimento no Propar UFRGS, com verba de custeio Capes.

english
Interview based on the survey "Architect's Education for the 21st Century – Teaching the Architecture and Urbanism Project at the end of the Course", under development in the Propar UFRGS, with funding from Capes.

español
Entrevista basada en la investigación "La educación del arquitecto para el siglo 21 – Enseñanza del Proyecto de Arquitectura y Urbanismo al final el Curso", en desarrollo en el Propar UFRGS, con fondos de Capes.

how to quote

MARQUES, Sérgio M.; BOHRER, Mônica L.; MARQUES, Lucas Canez M.. Peter Eisenman in loco. Entrevista, São Paulo, ano 21, n. 082.01, Vitruvius, abr. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/21.082/7694>.


Peter Eisenman mostrando seu escritório e explicando o projeto para o Yenikapi Archaeological Museum and Archeo Park, feito em parceria com Alper Aytac Architects, vencedor de concurso em Istambul em 2012
Foto dos autores

Sérgio M. Marques: A razão de estarmos aqui advém de uma pesquisa sobre a Educação do Arquiteto para o século 21 que estou desenvolvendo. Sou descendente das primeiras gerações de arquitetos modernos no sul brasileiro e filho de um representante desta vanguarda na região. Portanto me criei em contato com a arquitetura moderna. No entanto, quando estava na escola, nos anos 1980, esta arquitetura estava em crise, dentro do chamado pós-modernismo, o qual me pus a estudar para entender o fenômeno. Peter Eisenman era uma referência importante. Depois de estudar o pós-modernismo no mestrado, estudei o movimento moderno no doutorado. Agora sou professor e participei da elaboração de projetos pós-modernos e modernos com meu pai... Meu filho Lucas é estudante de arquitetura e vivemos outras crises, com mudanças importantes na tecnologia, meio ambiente, economia, política etc. Portanto minhas questões consistem em conhecer sua opinião sobre a cena contemporânea, o futuro da educação em arquitetura e a formação necessária para o ofício e qual sua percepção sobre as novas gerações.

Peter Eisenman: Meu sentimento em relação à geração Millennium é a seguinte: sinto que, em geral, nos Estados Unidos e na Europa os jovens pensam que já sabem o que precisam saber. Não necessitam ser ensinados. Eles não precisam aprender nada porque já sabem o que necessitam... Apesar de não saberem nada, certo (risos)? Esses grupos de pessoas são realmente difíceis de ensinar. Porque não acreditam em conhecimento. Em outras palavras, eu ensino há cinquenta anos e escuto dizerem: "não nos importamos com o que vocês sabem. Nós sabemos o que precisamos saber. Não precisamos que vocês nos ensinem". Então essa é uma situação realmente difícil, especialmente em uma escola como a Universidade de Yale, onde eu leciono. Onde todos os alunos são ainda mais que Millenniums. São Millenniums ricos, certo? Então eles não apenas acham que sabem tudo, mas sabem melhor do que ninguém! Portanto você tem alguns alunos realmente muito difíceis... Eles acham que não precisam conhecer a história. Eles só precisam conhecer técnicas, saber como rodar um computador, conhecer o software, eles precisam saber construir sistemas de informação...

SMM: Atuar em ambientes virtuais.

PE: Sim... sim.... Então o que eu defendo, o que eu ensino, é algo que é referência na maior parte do que já foi discutido antes. Para mim, arquitetura e educação em arquitetura estão em uma espécie de crise, como na política. Se você olhar para a política deste país ou da União Europeia ou da América do Sul... Acho que a democracia, não o capitalismo tardio, mas a democracia não consegue mais competir com o populismo nacionalista, porque o populismo nacionalista diz que a democracia não está nos trazendo o estilo de vida que precisamos, o tipo de emprego que precisamos, o tipo de informações de que precisamos. Assim este país está se voltando contra os sistemas democráticos. Outro dia o presidente disse que temos que ter uma verdade alternativa... Mas que diabo? Isso é voltar ao fascismo... Quero dizer, vocês todos no Brasil sabem sobre essas coisas tão bem quanto eu.

SMM: Sim...

PE: Então, a democracia no Brasil é muito frágil, mas está se tornando ainda mais frágil neste país. E na Europa. Hoje mesmo me comentaram, sabe, porque eu fiz o Memorial do Holocausto em Berlim, e o partido alemão de direita disse: não queremos mais esse memorial em Berlim. Nós queremos destruí-lo! O mundo está mudando...

SMM: Sim. Muito rápido.

PE: O medo... Veja, o nacionalismo, seja fascismo ou comunismo, é contra o globalismo. Globalização é o que o nacionalista populista enxerga como um problema. Que trabalhar com a China, com países muçulmanos é um problema. Existe esse sentimento geral de que não queremos mais fazer isso, queremos nos fechar... E então acho que são tempos muito estranhos. Veja a Grã-Bretanha, a Alemanha, olhe para a França, a Itália, veja os Estados Unidos... E você pensaria que um país grande e poderoso como o Brasil não teria problemas, e ainda assim está sempre tendo problemas políticos, econômicos. Constantemente... Então, ensinar é o mesmo. Como lidamos com a educação arquitetônica? O verdadeiro problema atual é: como lidamos com as situações sociais e políticas? Estruturas que suportam, supostamente, a arquitetura.

Portanto penso que é um momento muito difícil. Eu ministro um curso sobre a evolução da teoria no século 17 na Itália, porque eu não sei nada da atualidade que eu possa ensinar, quero dizer, as coisas que acontecem no mundo são malucas... Você sabe, não há nada que substitua o movimento moderno, quer dizer, ele foi substituído, mas nenhuma estrutura ideológica, cultural ou social substituiu o modernismo. Então eu não tenho resposta para a sua pergunta!

(risos)

Quero dizer, eu pensava que tinha várias respostas, porém eu não sinto mais isso, e é muito difícil. Hoje eu acho muito difícil ensinar, antes de tudo, porque eu sou mais velho, e os alunos dizem que ideias europeias são ideias antiquadas. Se você quer ideias jovens, então você quer professores que não sabem de nada...

(risos)

Portanto não posso fazer nada, além de dizer: Ei! Ainda acredito em arquitetura, ainda acredito no ensino, ainda acredito na possibilidade da democracia e não sou populista. Esse tipo de novas ideias, pensamentos coletivos que, você sabe, ouvimos todo mundo e eles nos dizem o que fazer... Não há perícia, então eu não acredito nessas coisas. Acredito que temos que ter escolas de excelência, temos que ter profissionais de excelência, temos que ter pessoas que sabem o que é bom e o que é ruim. E temos que ter certos valores ou temos que ter certas verdades. Meus alunos, por exemplo, não sabem quem é Bob Venturi (risos). Como você pode fazer qualquer coisa hoje se não sabe quem é Bob Venturi? Eles não sabem quem é Aldo Rossi!

(risos)

Quem é Aldo Rossi? Perguntei aos alunos na semana passada, uns vinte e oito, vinte e nove estudantes. Talvez dois ou três sabiam. Eu acho importante, eles precisam saber quem é Aldo Rossi, precisam saber quem é Jim Stirling, precisam saber quem é Bob Venturi, se não sabem, como podem fazer alguma coisa? Eu disse ao meu reitor: olha, nós temos que dar a eles um curso sobre o que é arquitetura, onde estamos, quem foram os mestres. Esqueçam de saber quem é “Chenko”, ou quem é “Ladú”, ou saber de qualquer figura do século 19. Eles não conhecem as figuras do século 20! Eles mal conhecem Adolf Loos, sabia? Portanto, não pode haver visão sem conhecimento. Mas eu sigo muito otimista comigo mesmo, porque realmente não me importo com o que as pessoas dizem. Eu, você sabe, escrevo meus livros, (bate na mesa), construo meus edifícios, tenho bons projetos a fazer... Então, eu escrevo, ensino, projeto e construo. Isto é tudo o que um arquiteto pode fazer.

Maquete de estudos do projeto, feita no escritório de Peter Eisenman
Foto dos autores

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