Durante o início dos anos 1990 quando estava ainda na graduação em arquitetura e urbanismo na cidade do Rio de Janeiro, ao me interessar por estudar arquitetura brasileira, havia uma dupla de então jovens arquitetos que me atiçava fortemente a curiosidade, em razão de sua instigante produção em Minas Gerais. Tratava-se de Éolo Maia e Jô Vasconcellos que, desde aquele momento, começavam a despontar e aparecer no cenário nacional e internacional com seus projetos de arquitetura e com a qualificação de pós-modernos, dentro do que foi chamado por Hugo Segawa de Pós-mineiridade (1).
Na ocasião da minha formação tive a oportunidade ser aluno do professor de Teoria da Arquitetura Mauro Neves Nogueira (2) que, muito provavelmente, foi um dos primeiros a se debruçar na realização de uma crítica a respeito daquela produção que ainda incluía, em boa parte, a importante participação do arquiteto Sylvio de Podestá no grupo então chamado de “Os 3 Arquitetos”.
De alguma forma, os novos ventos vindos de Minas mudaram o roteiro pré-definido de discussões de estudantes e professores de arquitetura do eixo Rio-São Paulo, até então fechados em si mesmos, ainda acomodados nas categorizações já conhecidas da tradição modernista da Escola Carioca e/ou da Escola Paulista.
A pós-mineiridade despertava então amor e ódio, inclusive pelo inusitado e surpreendente que provocava nos arquitetos e críticos que não entendiam ainda as pontes e conexões que aquele grupo já estava fazendo com a recente produção internacional. Não há como não citar, portanto, a chegada ao cenário arquitetônico do icônico Rainha da Sucata, assinado por Maia e Podestá, e construído em 1990, na tradicional praça da Liberdade de Belo Horizonte, e do Edificio Office Center, popularmente conhecido como Marmitão, de autoria de Maia e Vasconcellos.
Falecido precocemente em 2002, Éolo Maia deixou a sua marca registrada não apenas na cidade de Belo Horizonte como em tantas outras partes do Brasil e, certamente, o registro importante de uma provocativa contribuição para aquele cenário da arquitetura brasileira, numa sociedade recém saída de 21 anos de uma ditadura civil-militar e à espera de novos ventos que lhe faria jus ao nome. Sua parceira profissional e de vida, com quem teve três filhas, a arquiteta Jô Vasconcellos, é a personagem que aqui apresento nesta longa e importante entrevista onde ela, a um só tempo, revê seus momentos de juventude e formação e as parcerias realizadas com Maia e outros, mas também se reposiciona e insere a sua produção autoral no que chamou de “quarto movimento” de sua carreira como arquiteta.
Mal podia imaginar aquele jovem estudante de arquitetura dos anos 1990, que algum tempo depois teria a oportunidade de construir um diálogo franco e simétrico com esta importante arquiteta brasileira que aqui nesta entrevista se mostra bastante consciente do percurso que trilhou, e do que conseguiu produzir tanto na parceria com Éolo Maia, como mais recentemente na sua careira solo.
Resta ao leitor agora apreciar esta entrevista e esta visita à obra e à vida de Jô Vasconcellos por ela mesma.
notas
1
SEGAWA, Hugo. Pós-mineiridade revisitada: Éolo Maia. MDC — Revista de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte / Brasília, 2007.
2
NOGUEIRA, Mauro Neves. A nova arquitetura de Minas Gerais. Anuário de Materiais e Serviços Projeto, São Paulo, fev. 1984, p. 25.