Edson Jorge Elito é arquiteto formado pela Universidade Mackenzie e, desde 1998, é sócio do escritório Elito Arquitetos, junto a Joana Fernandes Elito e Cristiane Otsuka Taiky. Sua carreira é marcada pela experiência na área de projetos, que transitam entre diversas escalas e programas, além de sua atuação no Instituto dos Arquitetos do Brasil — IAB e como professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Brás Cubas — FAU UBC. Na presente entrevista, Edson Elito nos conta sobre um projeto de grande importância para sua carreira e para história da arquitetura brasileira: O Teatro Oficina. Seu relato, no entanto, não se circunscreve ao período entre 1984 e 1994, no qual participou do projeto e da construção do edifício. Elito revela aqui uma ligação que extrapola a relação de arquiteto e cliente, passando por espectador, participante ativo da vida do teatro, como organizador do núcleo de vídeo e cinegrafista, e peça fundamental para concretização da concepção do diretor Zé Celso Martinez Côrrea. Em suas palavras, vemos um relato de um arquiteto que consolidou sua carreira, realizando diversos outros projetos, mas carregando a influência de sua experiência singular com o Oficina. Edson Elito, nos revela grande conhecimento do processo histórico da companhia e dos projetos de arquitetura que antecederam sua intervenção junto a Lina Bo Bardi e uma ligação com o Teatro que se estende até os dias de hoje.
A entrevista, realizada na tarde do sábado 29 de maio de 2021, por meio de plataforma digital, compõe uma série de três entrevistas, da qual também fazem parte as conversas com Marcelo Suzuki (1) e Newton Massafumi (2). Esses documentos foram todos realizados no âmbito de uma pesquisa acadêmica, cujo principal intuito foi a investigação da trajetória da companhia teatral, com enfoque no período compreendido entre 1980 e 2020. Tal enfoque é definido por uma “luta de território”, nas palavras de Edson Elito, na qual participam o Teatro Oficina e o Sisan Empreendimentos Imobiliários, braço das empresas do Grupo Silvio Santos. A disputa se iniciou no ano de 1980, quando a empresa tentou adquirir o imóvel onde fica a sede do teatro, com o objetivo de construir um shopping center. Apesar dessa primeira querela ter sido solucionada com o tombamento do Teatro pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico — Condephaat, e posterior desapropriação, tornando-o patrimônio público e definindo a permanência do Oficina naquele local, se iniciou uma outra disputa, que perdura por mais de quarenta anos, com a reinvindicação da companhia de que os terrenos vizinhos ao teatro possam ser de uso público.
Nesse contexto, o relato de Edson Elito é de grande importância, tanto pela sua proximidade com as vivências do grupo, a partir de suas experiências no Núcleo de Vídeo, tanto pelo papel fundamental que o projeto desenvolvido em parceria com Lina Bo Bardi tem na história da companhia. As proposições concebidas pela dupla de arquitetos, referenciadas na linguagem cênica de Zé Celso, configuram o teatro como rua na cidade, demandando a sua abertura para o entorno. Aqui se faz necessário entender um aspecto central do pensamento do Oficina. Assim como destaca Maria Angélica Rodrigues de Souza: “a noção de arte enquanto transformação irá operar ao longo da história do grupo como aglutinadora de correntes artísticas e estéticas das mais diversas” (3). O projeto do Oficina, elaborado por Lina Bo Bardi e Edson Elito, está imbuído do mesmo entendimento de arte como força transformadora: o novo espaço ali colocado age no meio urbano como vetor de mudança. Sua abertura para a cidade pressupõe que o contexto urbano no qual se insere se modifique, da mesma forma que permite que a cidade penetre o teatro e o transforme. Desta forma, se potencializa o espaço do entorno da Companhia como local de interesse público, aberto para as mais diversas manifestações culturais e artísticas e como ponto de encontro e lazer na área central de São Paulo. Esse entendimento do espaço urbano, como possibilidade de vivência democrática e plural, guia o Oficina em uma longa disputa, que é hoje um processo vivo e aberto a debates, cujas consequências esbarram no próprio entendimento do que deve ser o futuro da cidade.
Aqui se faz necessário uma modesta homenagem ao diretor José Celso Martinez Côrrea. Esse texto foi concluído um pouco antes de Zé Celso falecer, aos 86 anos em São Paulo, no dia 6 de julho de 2023. Todos os agradecimentos e homenagens a esse nome se fazem insuficientes frente ao impacto que sua arte, sua ação e seu pensamento tiveram e tem até hoje no teatro e na cultura, não só do Brasil como do mundo. Deixamos aqui nossos sentimentos à família do diretor e a toda equipe do Teatro Oficina, que perde um de seus fundadores e figura que esteve a frente da companhia por mais de sessenta anos. Nessas entrevistas ficam registros de convivências de arquitetos com Zé Celso e fragmentos da história de sua incansável luta pela arte e pela possibilidade de um Bexiga e uma São Paulo abertos para a convivência democrática, com espaços que potencializassem a vida urbana, a convivência respeitosa com o meio ambiente, o teatro e a cultura.
nota
1
Ver: PIRES, Felipe Ribeiro; LUZ, Vera Santana. Oficina: do teatro à cidade (parte 1). Entrevista com Marcelo Suzuki. Entrevista, São Paulo, ano 24, n. 094.01, Vitruvius, maio 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/24.094/8789>.
3
SOUSA, Maria Angélica Rodrigues de. Quando corpos se fazem arte: uma etnografia do Oficina. Dissertação de mestrado. São Carlos, Ufscar, 2013.