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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Nessa entrevista, o arquiteto Edson Elito relata o encontro em sua trajetória pessoal e profissional com o Teatro Oficina, principalmente no momento da elaboração do projeto da sede da Companhia, em parceria a arquiteta Lina Bo Bardi.

english
In this interview, the architect Edson Elito reports about how in his personal and professional trajectory has been the meeting with Oficina Theatre, mainly when the company’s building was being designed, in partnership with the architect Lina Bo Bardi.

español
En esta entrevista, el arquitecto Edson Elito relata como en su trayectoria personal y profesional encontró con el Teatro Oficina, principalmente cuando se estaba diseñando la sede de la Compañía, en alianza con la arquitecta Lina Bo Bardi.

how to quote

PIRES, Felipe Ribeiro; LUZ, Vera Santana. Oficina: do teatro à cidade (parte 2). Entrevista com Edson Elito. Entrevista, São Paulo, ano 24, n. 095.01, Vitruvius, jul. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/24.095/8840>.


Croqui de Edson Elito representando Teatro Oficina e ocupação do entorno [Acervo Edson Elito]

Felipe Pires: Então, bom… Após o projeto do Oficina você teve uma atuação muito grande como arquiteto. A gente citou aqui, como alguns projetos, o Sesc Santo Amaro, o Teatro do Colégio Santa Cruz e os conjuntos habitacionais de Paraisópolis. De que forma o Oficina e a sua experiência influenciaram na sua concepção de arquitetura?

Edson Elito: Muito! O projeto do Teatro do Colégio Santa Cruz veio muito nessa esteira do Teatro Oficina, porque a direção do Colégio Santa Cruz chamou o José Carlos Serroni para fazer e estudar. Então ele e o Lanfranchi, Gustavo Lanfranchi, que trabalhava com ele no espaço cenográfico, eles tinham vários cenários, então… Faziam cenotécnica e chamaram ele, porque o Serroni era casado com uma das professoras lá do colégio. O Serroni fez um conceito. Ele não projeta arquitetura. E como eu tinha chamado o Serroni pra fazer a cenotécnica do Oficina, ele pegou e falou: “Bom, isso aqui é um projeto de arquitetura”. Então, me chamou. Você gosta de saber a gênese da entrada do…. Então essa é a gênese desse… Então, já tínhamos feito o Oficina. Nesse, do Colégio Santa Cruz, tem algumas coisas. Não é bem o Oficina, mas tem muita coisa. Eu tenho alguns desenhos, não sei se você chegou a ver na internet, no site da Elito Arquitetos. Então, você viu uns croquisinhos lá. Que mostram quatro possibilidades de palco. Isso é depois do Oficina… É diferente. É flexibilizar pra poder ter palco italiano, passarela, elizabetano, completamente nu. Os panos todos, aqueles que tem no teatro, proscênio, cortina, não sei o quê, são todos içados se quiser e fica completamente livre, como um estúdio de TV… E no fundo tem uma porta que dá pra fazer, como no Oficina, abre lá uma porta de 3 por 6 metros de altura. Eles usam, lá. É um colégio que tem atividades pros estudantes, teatrais e também tem coisas religiosas. As comemorações religiosas, entrar a procissão…. Então, parte da platéia é removível. Em uma hora você remove, põe embaixo, suspende, são plataformas pantográficas. Metade da plateia, metade da frente. Então fica tudo no mesmo nível, o palco fica imenso. E você entra no mesmo nível do palco. Apesar de ter 90 centímetros ali da primeira fileira, quando está desmontada a plateia frontal, as entradas laterais estão no nível do palco, então não tem nada que impeça você de chegar no palco. Então tem essa….

O Sesc Santo Amaro era pra ser feito pelo Abrahão Sanovicz. Eu tinha feito, com o Abrahão, o de Araraquara. E o Abrahão morreu, ele não viu pronto o de Araraquara. Eu terminei, os acompanhamentos, as modificações que precisavam, eles são muito dinâmicos. O projeto começa em um ano, dez anos depois é que é inaugurado. Então, até lá, cada setor… O cara da cozinha já não é mais daquela cozinha. Então é dinâmico, tem que acompanhar até o final. Aí, o Danilo me chamou e falou: “Ó, é o seguinte, tem Santo Amaro, o Abrahão ia fazer, e nós estamos pensando se te interessa”. Eu falei: “Claro”. Ele falou: “Eu sei, você fez o Teatro Oficina com a Lina, então a gente acha interessante essa visão…” Ele gostou também de como nós levamos o final da obra, as modificações que tiveram que ser feitas e tal. Então, é uma sequência. O Santo Amaro é em equipe, fiz com minha filha Joana, que está aqui nos acompanhando. Então… Outras pessoas na equipe, a Cristiane Takiy, que é arquiteta, também fez junto com a gente. Também é essa transparência. Praticamente, a não ser nos espaços necessários, não tem paredes. Eu não sei se você já foi lá…

Vera Luz: Eu frequento, porque eu sou do bairro. Eu adoro! É muito lindo.

EE: É tem algumas coisas, por exemplo, aquela piscina na entrada. Pensamos: Como fazer a piscina ser alguma coisa que não fosse só uma piscina. Então, nós elocubramos várias coisas, uma delas era ser um espelho d’água, que é. Tanto ali naquela convivência, quanto na área de comedoria, você vê a água.

VL: Aquilo é paisagem.

EE: Paisagem… E também, uma ideia que nós pensamos logo de início e que eles acharam que era importante, que contribui muito, foi que a gente pensou: Essa unidade, atrás… colado na rua, tem um terminal municipal. E ali param todos aqueles ônibus que vêm da Zona Sul.

VL: Zona Sul profunda, do Fundão do Jardim Ângela.

EE: Exatamente. Então, é um pessoal que tem poucos espaços desse tipo, ou nenhum. Então, a gente pensou que, como tem aquilo, viria aquela turma toda lá, usar. Então, a gente pensou: “E se a gente fizesse uma piscina, logo de entrada e que todo mundo tirasse a roupa ali na entrada. Ficasse de biquíni, de maiô, de sunga e a gente tenta, com isso, amenizar o tabu do corpo, essa tensão e simplificar um pouco essa contradição de sexo, de coisas e tornar mais simples, cotidiano, o corpo, inclusive tentando diminuir esses casos de agressão contra a mulher, estupro, essas coisas. Que o cara, ele vê uma mulher de biquini, está vendo ali de biquini, não precisa rasgar a roupa pra ver alguma coisa”. Eles gostaram muito dessa ideia e o encaminhamento, que é outra coisa, que faz parte do Sesc… e a gente tentou atender, é, fazer com que o usuário entre no Sesc pra fazer uma coisa e acabe fazendo outra. Então, o cara vai lá pra jogar bola na quadra e vê a biblioteca, vê uma coisa de capoeira, vê dança, vê piscina, teatro, exposiço?es… Então a gente falou: “Vamos fazer uma coisa sensorial. O cara entra e vê tudo. Então, ele pode escolher." O Sesc mesmo se define como um espaço de liberdade, de fantasia, porque os comerciários, que trabalham o dia inteiro, chegam lá pra renovar um pouco… transparência, sensibilidade, percursos livres… Não tem uma monitoração, não tem grade, você vê que é incorporado no tecido urbano, a entrada fica uma espécie de ponto de encontro.

VL: E você lá contrariou, que lá no foyer do teatro tem um terracinho em que chove… Ali vai ter que aguentar.

EE: Chove, aquele terraço chove…

VL: É pra cidade. Balcão pra cidade, adoro…

EE: É uma espécie de terraço gourmet. Tem ali um barzinho, balcãozinho de café.

VL: Mas na hora que você olha pra rua, você está vendo tudo o que acontece na rua, é muito legal…

EE: É, então, tem dois foyers, um fechado e um aberto. Fizemos também a escola de astrofísica, o restauro. Eu tive sorte, a equipe teve sorte. Nosso escritório fez poucos projetos, é pequeno, três arquitetos fazendo tudo e se associando quando é necessário, com outros escritórios, colaboradores, mas tivemos sorte de fazer coisas interessantes, como essas aí, mais a parte habitacional, que a gente fez não tanto, mas fez 1.800 unidades em Paraisópolis, mais umas quinhentas… Nós fizemos Paraisópolis em três etapas. Tem coisa que nem está construída ainda. Foi construído um dos oito prédios que a gente fez na Água Espraiada. Água Espraiada era um projeto que tinha um córrego, lá, a favela está dentro do córrego, praticamente, é impressionante. Tudo isso eu tenho pra mostrar, mas não vem ao caso agora, porque… Então, nós fomos contratados juntos com mais cinco grupos, Ciro Pirondi, eu e o José Tibiriçá, o Marcelo Suzuki, o Marcos Boldarini, o Juan Pablo Rosenberg pra fazer… Porque iam fazer um túnel que ligava, lá, a [avenida Jornalista] Roberto Marinho até o Aeroporto, e esse túnel bancaria as habitações… porque tinha que tirar as pessoas. E fazer um parque linear, que Paulo Bastos fez o projeto, e tinha quatro construtoras, que ia fazer cada uma um pedaço do túnel. E cada uma ia fazer um pouco de habitações, porque nessas obras interessa a infraestrutura. Se tiver que fazer habitação, tá bom, vamos fazer habitação. Interessa a infraestrutura, terraplenagem, água e esgoto, túnel, viário… Monotrilho. Paraisópolis também é assim. Fizeram a avenida Perimetral…

FP: Vou aproveitar uma pergunta muito pessoal que eu faço, até, sobre os projetos de habitação, mas que eu acho interessante, sobre os projetos de habitação de Paraisópolis, mas que têm um acesso por ruas internas para os edifícios.

EE: Aí é o seguinte. A Elizabeth França era superintendente da Habitação Popular — HAB, da Sehab (1). Então, ela precisava fazer, em um mês, o projeto para mil unidades habitacionais. E nós fomos contratados pela Camargo Côrrea, que já tinha pego a obra viária, porque o pacote de habitação estava dentro do viário. Era ela e outro consórcio que nos contratou, Planova. Nós dividimos em oito condomínios, o viário já estava pronto. A Ductor tinha feito um geométrico, básico, do viário, e eu poderia até mudar. Mas falei “Imagina, não vai dar tempo de mudar o viário”. O terreno todo, assim, já tinham pensado no viário. Então, nós falamos: “Tá bom”. Nós resolvemos aceitar o viário como está, dividimos em condomínios, certo? Porque tem uma lei, também, na época, que dizia que não podia fazer mais de duzentas unidades por administração de condomínio, pra habitação de interesse social. Então nós fizemos vários condomínios; vinte anos antes eu tinha feito com o Abrahão Sanovicz, João Honório de Mello Filho e o Marcos Carrilho, dois projetos para Guarapiranga. A própria Sehab, na época, tinha programas para os mananciais… Então tinha que retirar famílias e realocar. Então, pra ganhar tempo, também, eu peguei a tipologia parecida com aqueles, e era um projeto que como era uma topografia acidentada… E eles não queriam elevador, na época. Então, pela lei, você tem o térreo e pode subir quatro andares e descer quatro pra baixo. Você pode entrar por um intermediário. Então, isso nasceu dessas posturas, até legais. A gente queria pôr elevador porque daí tudo fica acessível. Então você entra, acessa por um pavimento intermediário, geralmente no ponto mais alto do terreno, porque daí você aproveita a topografia pra escalonar, inferiormente e superiormente sempre quatro, também pra manter… Então, mantivemos quatro pra cima e escalonado, de um a quatro, pra baixo. E o térreo é acessível. Porque nós partimos de um módulo de quatro apartamentos e uma escada, então se conecta. Nós também simplificamos o projeto, que tem que fazer em um mês. O gerador não é nem o módulo. É o apartamento. Que ele tem a estrutura periférica, só. Outra exigência era fazer em blocos de concreto. Então fizemos uma periférica e tudo livre lá dentro. Se quiser fazer um loft pode, tirar todas as paredes.

VL: É bloco estrutural?

EE: Bloco de concreto estrutural. O que é o bloco? Uma parede com furos, Não pode ter grandes vãos. Aquele negócio de fazer. Como é que o cara faz uma janela de 40 metros? Nada contra, acho muito legal, mas é outro patamar econômico. Mas o bloco tem que ter continuidade estrutural. Então, a modulação, a gente pôs 80 centímetros de parede, 80 centímetros de vão. Então tem bastante janela. Então, esse módulo se repete, é conectável e, ao mesmo tempo, tem ambientes de socialização. Porque geralmente se fazia o conjunto habitacional e se separava, lá, um terreno, pra fazer um centro comunitário, que geralmente não era feito, porque ficava pra depois, acabava o dinheiro. “Vamos fazer no pre?dio”. Então: construiu o prédio tem toda a parte de socialização. Então nesse térreo tem rua, tem toda parte de socialização e tem os apartamentos acessíveis, porque na época, como não tinha elevador, tinha que estar ali naquele nível. Então, colocamos naquele nível o 2% de apartamentos acessíveis.

VL: Bacana essa ideia de você colocar no prédio pra não ficar “Não vou fazer nunca”. Todos têm autonomia.

EE: É, mas hoje, todos são feitos assim. Tanto na CDHU, tal… Nós não inventamos nada. A CDHU hoje faz isso, a Sehab faz, inclusive se aproveita o terreno.

VL: Então, Felipe?

FP: Bom, as perguntas que estavam previstas no questionário… acabaram. Tinha uma última, falando da participação no centro de vídeo do Oficina. Mas foram coisas que você já comentou. Então, acho que não vale a pena a gente fazer essa última pergunta porque foram coisas que você já comentou. Então, sendo assim…

VL: Fechamos, né Felipe?

FP: Fechamos, uma senhora entrevista.

VL: Fiquei muito feliz.

EE: Obrigado, eu fico feliz de fazer isso. Porque esclarece alguns pontos, que, no meu caso, eu poderia responder. Tem outros que o Zé poderia responder. Tem outros que outras pessoas que estavam no processo… Toda a parte da Secretaria que foi importante. O Silvio Guimarães, aliás ele fez a PUC.

EE: O Silvio Guimarães era assessor de obras do Ruy Ohtake. E ele entendeu… Porque era jogo pesado, ali. A CPO, na época. Aquele negócio do vidro, do Paulo Bastos. Eu falei isso em uma reunião, cheia de engenheiros, aqueles caras fortes. E era um pessoal que tinha um pé atrás com o Oficina. Então, não tinha o vidro lá e era um item caro. Eu falei: “Vamos fazer e tal”. Eu já tinha feito estudo. Estavam bem adiantados. Quase prontos. E não tinha computador. Um monte de gente falando: “Não vai dar tempo”. Era duas horas da tarde, mais ou menos. A Secretaria da Cultura, nessa época, era na Consolação. Era um auditório. Então eu falei: “Tá bom”. Eles não queriam fazer. Falaram: “Vai começar a obra daqui um mês, se não der tempo não vai fazer”. O Silvio falou: “Tá bom, se você trouxer amanhã cedo…”. Eles pensaram que não tinha nada. O Silvio deu uma chance, ainda. Daí, eu passei a noite em claro e levei lá. Eles não acreditavam… “Voce? saiu daqui 14:00 da tarde e voltou com o projeto. Eu falei: “A gente trabalha mesmo à noite…”

VL: Sensacional! Cada uma, hem?

EE: Então, o Silvio Guimarães, depois ele bancou tudo… Chegava com uma ideia, ele sempre dava um jeito de fazer. Você faz uma reforma, sempre aparece alguma coisa. Ele contornava. Tanto é, que tem um documento do Zé Celso agradecendo… O que mais, Felipe? Você sempre tem alguma coisa no bolso do colete…

FP: Acho que de pergunta não tem mais nenhuma.

VL: Acho que a gente pode agradecer muito, não pode, Felipe?

EE: Se vocês precisarem de algum material, que você achar que precisa, você me fala e eu te mando.

VL: Eu vou agradecer primeiro e o Felipe fecha, pode ser Felipe?

FP: Pode ser.

VL: Muito obrigada, Elito, foi muito legal, aprendi mais coisa, que eu não sabia. Nossa, foi demais. Ocupou teu sábado, mas pra nós foi ótimo.

FP: Não sei se acabou com o sábado de algue?m… Eu ganhei meu sábado com isso.

EE: Não perdi não.

FP: Muita coisa que eu aprendi, coisas que ficaram mais claras, coisas inclusive que eu já tinha lido e que tive novos insights, novas percepções. Acho que vai ser muito proveitoso pro resultado final da pesquisa, espero que em breve eu possa enviar o resultado finalizado. Enfim, muito obrigado, de coração.

EE: Eu é que agradeço, foi muito legal, matei a saudade da Vera, um pouco, te conhecer também… e continuo falando, se você precisar de mais coisa. Recomendo que você fale com alguém do Oficina, se você já tem contato lá… Porque eles têm documentação de coisa de iconografia, ou mesmo de documentos… Parecer do Flávio Império. Não sei se você pretende usar.

FP: Eles digitalizaram uma boa parte de coisa, a gente conseguiu acessar. Aquelas fotos maravilhosas. Mas é isso, muito obrigado novamente.

EE: Agora vamos para as tarefas domésticas, lavar prato, lavar roupa…

VL: Abraçar o cachorro… Muito obrigada, adorei. Tchau.

EE: Tchau

FP: Tchau.

nota

1
Secretaria Municipal de Habitação da Prefeitura da Cidade de São Paulo.

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Arquitetura, estratégia e projeto

Rafael Schimidt

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