Raul Penteado: …resposta a um contexto financeiro do cliente, do promotor da obra. Exato. Tangencialmente a isso, quais arquitetos portugueses e japoneses que vocês admiravam na época que vocês produziram essas casas brancas? De onde que eles vieram? Foi através de pesquisa?
Daniel Mangabeira: Carrilho da Graça, Gonçalo Byrne, Souto de Moura, Álvaro Siza, Fernando Tavora, Sanaa, obviamente, Ry?e Nishizawa, Tadao Ando, Kenzo Tange etc. No caso da Casa Morrone é engraçado, eu vejo muito o Nishizawa nesses vazios, não sei por quê.
RP: E sobre a Casa Aresta?
DM: Na Aresta eu não vejo tanto arquitetura japonesa não. Aparece mais a arquitetura portuguesa.
RP: Eu vejo uma cara de casa do Siza (risos).
DM: Tem uma casa do Souto de Moura também, que é aquela bem inclinada, que é uma caixa. Você já viu?
RP: Sim, aquela que parece caída no terreno.
DM: Isso. Aquela que é caída, guarda uma relação formal.
RP: Lembra também uma casa do Oscar Niemeyer, uma das primeiras casas dele em frente à Lagoa.
DM: Quando a projetamos, lembramos daquele museu de Bogotá. Aí a gente olhou assim: “Meu Deus do céu, a gente está reinventando o museu de Bogotá aqui.” Mas não, pelo amor de Deus, não tem nem como comparar com essa obra do Niemeyer. Mas foi engraçado, por que brincamos com isso aqui dentro, com essa forma invertida, da parede inclinada. E é engraçado que ela é uma casa pequena, mas por causa dessa perspectiva, pela proximidade, ela ganha uma monumentalidade que não foi intencional. E é um aspecto que eu particularmente não gosto tanto.
RP: Por causa do terceiro pavimento, ela ganhou um tamanho.
DM: Isso. E é muito interessante porque no percurso da casa, você entra por uma porta bem pequenina, bem pequena mesmo, por um corredor estreito, para depois sair na sala. Então, há uma coisa meio Catedral também, sabe?
RP: Tem um mise en scène aí…
DM: É… tem um percurso. Mas não… Sei lá, é óbvio que é intencional, mas não de maneira comparativa com os arquitetos. Era mais para um percurso mesmo. E é uma casa que tem características muito fortes, né? Tem gente que não gosta tanto.
RP: Ela tem uma formação ali muito marcante, né?
DM: Ela tem uma presença muito grande na paisagem. Principalmente por causa do entorno. Então, como são casas todas quadradinhas…
RP: Ela está no começo do loteamento ali?
DM: Ela está no meio da APP [área de preservação permanente]. É longe. Mas é engraçado que tem um momento em que você está descendo a rua que dá acesso ao condomínio e você a vê no alto.
RP: E essa inclinação não foi também impulsionada por essa vista desimpedida que tem em frente?
DM: Não, a inclinação foi pura e simplesmente por causa do sol. A ideia era usar a arquitetura para proteger o andar de baixo. Então esse escalonamento da arquitetura dos andares, era para evitar o sol. A ideia é que até às 16h30 você não pegue sol dentro. A partir de 16h30, você já pega sol bem mais ameno.
RP: Daniel, muito obrigado.