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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
A utopia urbanística e arquitetônica de Brasília, identificada com as propostas de Le Corbusier, agora pode ser associadas às idéias contemporâneas de Rem Koolhaas, como um sistema urbano complexo

english
THe urban and architectural utopia of Brasilia, once identified with Le Corbusier proposals, now can be associated to the contemporary ideas of Rem Koolhaas, working as a complex urban system

español
La utopía urbanística y arquitectónica de Brasília, identificada con las propuestas de Le Corbusier, ahora pueden estas asociadas a las ideas contemporáneas de Rem Koolhaas, como sistema urbano complejo

how to quote

SEGRE, Roberto. Brasília 50 Anos. Minha Cidade, São Paulo, ano 10, n. 117.04, Vitruvius, abr. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/10.117/3417>.



Neste mês de abril, para comemorar o 50º aniversário de Brasília, rios de tinta fluirão em livros, revistas, ensaios, entrevistas, programas na TV, filmes, sites. Mas que se deseja comemorar? Com certeza todos os textos estarão acompanhados pelas fotos do Eixo Monumental, do Congresso Nacional ou da Praça dos Três Poderes. Mas Brasília se resume a estas imagens? Sem dúvida, elas representam Brasília. E isto é o primeiro ponto fundamental. Lucio Costa e Oscar Niemeyer, conseguiram uma proeza única no século 20: criar a imagem icônica de uma cidade moderna, reconhecida, não somente no Brasil, mas no mundo inteiro. Ou seja, a arquitetura monumental de Brasília, que representa o Estado brasileiro, obteve a mesma ressonância popular que o futebol, o carnaval e a bossa nova. Nunca isto tinha acontecido com a arquitetura que identificasse uma cidade nova: os ícones históricos, sempre ficaram em cidades tradicionais: São Pedro em Roma, a Torre Eiffel em Paris, o Empire State Building em Nova York.

Mas os prédios simbólicos do Plano Piloto são a expressão da procura ideal da utopia. E a utopia foi sempre destruída pela realidade. O Capitólio de Washington, identificação da democracia americana, foi negado pela política imperialista dos sucessivos governos de Estados Unidos. O monumento da Terceira Internacional de Tatlin na Rússia, imagem da vanguarda da Revolução Russa, foi negado pelo stalinismo. E o Ministério da Educação e Saúde, símbolo da vanguarda cultural e arquitetônica brasileira, necessitou da ditadura de Vargas para ser concretizado. Ao mesmo tempo, a utopia social de Brasília, imaginada por Costa e Niemeyer, fracassou com a chegada da ditadura militar em 1964, pouco depois da sua inauguração. Nunca os pobres que construíram Brasília conseguiram morar nas superquadras, pois foram expulsos para as bordas distantes do Plano Piloto.

Além do seu valor icônico tem que se comemorar a sua função pioneira de promover a ocupação do território brasileiro e criar a articulação entre o sul e o norte do país. Mas, ao mesmo tempo, as comemorações não podem se limitar à exaltação do Plano Piloto. Ele representou a concretização das idéias urbanísticas do Movimento Moderno, de Le Corbusier e da Carta de Atenas, em um espaço e um tempo limitados. Ninguém poderia supor que esse esquema inicial ficaria congelado eternamente. E a cidade expressa agora as contradições políticas, econômicas, sociais e culturais existentes no país. Por uma parte, as intervenções questionáveis no Plano Piloto, contrárias á proposta inicial de Costa: o desordem da área dos hotéis, a ocupação da beira do lago, as mansões individuais de luxo, a especulação imobiliária nas áreas residenciais; assim como os novos prédios inseridos por Oscar Niemeyer. Seria ingênuo pensar que Brasília ficaria incontaminada e distante da pobreza, da violência e da corrupção que existiu sempre em Rio de Janeiro, São Paulo ou Belo Horizonte. É um paradoxo que a cidade que simboliza o Brasil no mundo foi administrada recentemente por dois governadores corruptos – Joaquim Roriz e José Roberto Arruda – negando a imagem utópica da arquitetura. E que o purismo das formas imaginadas por Costa e Niemeyer, associadas às suas visões maçônicas e à representação do estado laico, são opostas ao misticismo que domina a cidade, com a maior concentração de seitas e grupos religiosos do Brasil.

Então, o que tem que comemorar é que a cidade nestes cinquenta anos manteve a sua vitalidade e capacidade de transformação. E que a utopia urbanística e arquitetônica, identificada com as propostas de Le Corbusier, agora pode ser associadas às idéias contemporâneas de Rem Koolhaas, já que Brasília é um território urbanizado, um sistema urbano complexo, e não uma “cidade”. Brasília é o Núcleo Bandeirante, Taguatinga, Gama, Ceilândia, Cruzeiro, Sobradinho, Planaltina, Brazilândia, Samambaia, Vale do Amanhecer, com todas as suas contradições sociais e espaciais, com as suas injustiças, com a sua feiúra, com a sua corrupção. Agora, no 2010, Brasília não é mais um símbolo abstrato, mas a representação real do Brasil.

sobre o artigo

Autor Roberto Segre. Artigo publicado originalmente, com diversas modificações, no Portal Uol, 17 abr. 2010 <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/especial/2010/brasilia-50-anos/2010/04/17/especialistas-em-arquitetura-e-urbanismo-fazem-uma-revisao-dos-50-anos-de-brasilia.jhtm>.

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