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A breve história do Parque das Mangabeiras visa apontar alguns atores e questões relativas à gestão urbana em especial da serra do Curral, marco da cidade de Belo Horizonte que teve tombamento municipal em 1991
LOPES, Myriam Bahia; et. al. A cidade, seus habitantes e a serra. Breves notas sobre a história do Parque das Mangabeiras (1960 -2010). Minha Cidade, São Paulo, ano 11, n. 130.04, Vitruvius, maio 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.130/3798>.
A breve história do Parque das Mangabeiras visa apontar alguns atores e questões relativas à gestão urbana em especial da serra do Curral, marco da cidade de Belo Horizonte que teve tombamento municipal em 1991. A história das instituições que gerenciaram esse espaço também nos indica relações de interesse econômico e estratégico diversificadas. A anamorfose da linha da cumeada da serra perceptível na iconografia aponta para as marcas nela deixadas por diferentes grupos sociais.
Antecedentes
Observando detalhadamente as figuras 1, 2 e 3 podemos verificar as alterações sofridas e o efeito da expansão urbana na paisagem belohorizontina. No intervalo entre as décadas de 30 e de 50 o conjunto serrano permaneceu inalterado. O Pico Belo Horizonte ponto mais elevado da foto foi local de pequinique dos estudantes, marco físico e afetivo da paisagem urbana da primeira metade do século XX. A transformação ocorreu e pode ser visualisada se compararmos a fotografia da década de 50 com a de 70. Notamos que o trecho do conjunto serrano foi rebaixado no entorno do Pico Belo Horizonte pela atividade minerária. A Ferro de Belo Horizonte empresa controlada pelo Estado de Minas Gerais se instalou no local no qual mais tarde foi criado o Parque Municipal das Mangabeiras. Na década de 1960 parte da área então gerenciada pela Ferrobel foi loteada. O nome do empreendimento que foi inicialmente denominado de Cidade da Serra é hoje o bairro das Mangabeiras (1).
Da extração de minérios à urbanização de favelas?
Vizinha ao parque se situava a Pedreira do Acaba Mundo que forneceu brita e macadame para as obras de construção da capital no início do século XX. Por volta da década de 1950 e após o esgotamento da pedreira, a população de baixa renda ocupou a área e formou a Vila Acaba Mundo (2).
A Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) empresa de economia mista, de âmbito municipal foi criada a partir da transformação da estrutura ocorrida em 1983 da empresa Ferro Belo Horizonte S.A (Ferrobel) que por sua vez era regulada pela lei nº. 898 de 30 de abril de 1961 e que exercia atividades de exploração, comercialização e industrialização de minérios no município de Belo Horizonte.
Em setembro de 1983 a Ferrobel adquiriu novas funções e passou a ser denominada de Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). De acordo com entrevista concedida pelo primeiro presidente da Urbel, Dr. Jaime Pecconick: “...o parque (das Mangabeiras) era da Ferrobel, a Ferrobel tinha sede ali”
Ocupação: mineração, moradia, ecologia
O Parque Municipal das Mangabeiras abriga em sua área parte da Serra do Curral. A formação do desenho do atual Parque revela sua história. Entre os usos do solo temos em um primeiro momento a exploração mineral e em um segundo momento a disputa pela ocupação da serra para uso residencial por dois setores distintos da população, a favela e o bairro de alto luxo que hoje coexistem como vizinhos do parque. Em resposta à pressão dessas duas tendências o parque serviu para consolidar a ocupação residencial da classe abastada e do governo estadual. O espaço público livre urbano atuou desde a criação do parque como uma espécie de cinturão verde que conteve a expansão da favela. A área pública livre produz uma faixa verde de amortecimento entre os dois processos de densificação diluindo em sua extensão a fronteira social.
Palácio e bairro das Mangabeiras
Na década de 1960 terrenos pertencentes à antiga área de decreto de lavra da Ferrobel foram parcelados e usados pela CODEURBE sociedade de economia mista municipal que projetou e desenvolveu o bairro das Mangabeiras. O bairro deve seu nome ao Córrego das Mangabeiras cuja calha é hoje a rua Professor Lair Rennó Remusat e que foi soterrado pelas obras de arruamento. Para a implantação do bairro o Município subscreveu capital da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado de Minas Gerais (CODEURB) utilizandose, no todo ou em parte, de créditos do Município na extinta Companhia Urbanizadora Serra do Curral (CIURBE). O parcelamento implantado pelo poder público foi destinado à população de renda alta e instalou um novo padrão de lotes de 1.000 m² antes praticados somente nos bairros Pampulha e Cidade Jardim que na década de 50 haviam sido parcelados diferentemente dos demais bairros do município.
O apelo de sofisticação que o nome do bairro das Mangabeiras traz hoje faz com que bairros vizinhos sejam erroneamente designados como sendo também parte deste, mas os seus limites são a Serra do Curral, a Avenida das Agulhas Negras, a Avenida dos Bandeirantes e a área do Parque das Mangabeiras. Neste mesmo bairro encontramos o Palácio das Mangabeiras, residência de verão dos governadores de Minas Gerais, construído pelo então governador do Estado Juscelino Kubitschek de Oliveira a partir de projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer e paisagístico de Roberto Burle Marx.
A questão da moradia
A partir do final da década de 1970 observamos no Brasil crise econômica, agravamento de desigualdades socio-espaciais, ascensão de movimentos sociais e processo de redemocratização do país. Em Belo Horizonte destacamos a ocorrência de mobilizações populares lideradas por entidades e instituições ligadas às favelas. Em 1982 esses movimentos impulsionaram o órgão metropolitano Plambel a estruturar o anteprojeto de lei do Programa Municipal de Regularização de Favelas, o Profavela. Em janeiro de 1983 o prefeito Júlio Arnoldo Laender aprovou a Lei Municipal 3.532 que autorizou o Executivo municipal a criar o Profavela. O Decreto 4.489 de 13 de julho de 1983 produziu mudanças na estrutura do Executivo municipal ao criar nove secretarias especiais, entre as quais a Secretaria Municipal de Ação Comunitária (SMAC) responsável pela questão da habitação popular e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) encarregada do planejamento e da execução da política urbana. Duas alterações ocorridas nos instituições municipais merecem destaque devido a sua interface com a questão habitacional. Em primeiro lugar uma espécie de divisão de trabalho entre a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) e a Secretaria Municipal de Obras foi extinta, visto que aquela cuidava dos projetos de obras de maior envergadura e esta se ocupava dos projetos de menores proporções. A mudança ocorreu pois todas as obras passaram para o âmbito da Sudecap e à Secretaria de Obras foi atribuido o papel de fiscalizar a legislação urbana ou seja de aprovar projetos de construção e de fiscalizar obras. Em segundo lugar a Companhia Ferrobel teve seu estatuto alterado em dois importantes aspectos, primeiro em sua denominação passando a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte, Urbel e em sua função principal, que passou a ser a de urbanizar terrenos e dividir áreas municipais em pequenos terrenos de 80 a 100 m² que deveriam ter sido distribuídos às camadas de baixa renda.
No início do segundo semestre de 1984 a SMAC e a SMDU juntamente com a Secretaria Municipal de Assuntos Especiais (SMAE) e a Secretaria Municipal de Planejamento (SMPL) e sob a coordenação da primeira lançaram o Plano Municipal de Habitação Popular. A vinculação da Urbel a essas quatro secretarias configurou o Sistema Municipal de Habitação Popular, ou seja, um formato institucional em que cada instituição ou órgão cumpriria um determinado papel ou uma determinada função. Teriam por atributos respectivamente a SMAC mobilizar a comunidade, a SMAE em conjunto com o órgão ou agente promotor no caso a Urbel captar recursos em âmbito estadual, federal e internacional, a SMDU acompanhar “o Plano (...) bem como sua compatibilização com o Plano de Desenvolvimento Urbano do Município”, a SMPL compatibilizar a “atuação dos órgãos e entidades municipais envolvidos na elaboração e implementação da política municipal de habitação popular”. O Plano enfatisava os chamados “programas alternativos” em contraposição àqueles considerados como “programas tradicionais de habitação popular”. Em 1993 o Sistema Municipal de Habitação foi implantando e nele a Urbel detinha o papel de elaborar e executar a Política Municipal de Habitação Popular. Em 2001 houve a reforma da estrutura administrativa da Prefeitura de Belo Horizonte que criou a Secretaria Municipal de Habitação (SMHAB) com as mesmas atribuições da Urbel relativas a implementação da Política Municipal de Habitação Popular. Em maio de 2003 o Poder Executivo Municipal através da lei 8.146/00 reestruturou a Urbel. Embora essas transformações institucionais apontassem para a necessidade de se criar novas áreas na cidade que abrigassem a população de baixa renda, o que vemos a partir da década de 1980 foi a ocupação extensiva da classe abastada que subiu a serra. Como vimos os terrenos do atual parque eram da então Ferrobel/Urbel e no momento no qual o parque foi implantado nele não foi disposto acesso direto às comunidades do conglomerado da Serra, esse acesso só foi criado na década de 80. Em seu início o parque virou as costas aos seus vizinhos pobres. Numerosos incidentes tais como incêndios florestais que assolaram por diversos momentos as áreas de mata do parque ocorreram na área limítrofe com a favela. Em 1982 um terreno de 34 mil metros quadrados foi destinado a um clube para a população de alta renda na vizinhança do parque e no processo de sua instalação houve processo de remoção de favelados.
Alguns marcos da história do Parque das Mangabeiras
O Parque das Mangabeiras que hoje forma o maior complexo de parques urbanos de Belo Horizonte tem uma história bastante peculiar e diferente das demais áreas desse tipo no município. No século XIX, quando se iniciou a construção da cidade pela equipe do engenheiro-chefe Aarão Reis, a área onde se localiza o Parque pertencia à Fazenda do Capão. Daí passou à posse do Município de Belo Horizonte. Em 1941 instalou-se no local a primeira estação de tratamento de água de Belo Horizonte, pertencente ao Departamento de Águas e Esgotos de Belo Horizonte. A Caixa de Areia, como era conhecida na época, abastecia o bairro Serra e localizava-se próximo à atual Portaria Norte, onde funciona o Projeto Casa Menino no Parque. Pedro Nava em suas memórias de infância conta como tinha o hábito de escondidos nadar com outras crianças na caixa até o dia em que o guarda os surpreendeu. Como vimos anteriormente no texto a partir de 1961 a Ferrobel deteve direitos minerários, decretos de lavra e explorava minério de ferro e britava, principalmente onde hoje é o Parque Mangabeiras. O seu domínio ultrapassava a crista da Serra do Curral.
A mineradora ocupou os espaços onde hoje situam-se o estacionamento Sul e as Praças do Britador e das Águas. Em 14 de outubro de 1966 por meio do decreto nº. 1.466, o Parque das Mangabeiras foi criado com a finalidade de preservar a Serra do Curral, a reserva florestal existente e criar uma nova área de recreação para a cidade. Em 30 de dezembro de 1974 o município por meio da Lei 2403 autorizou “a implantação do Parque das Mangabeiras, a urbanização de terrenos adjacentes”. Em meados da década de 70 as atividades de mineração das Minerações Brasileiras Reunidas S.A. (MBR) no município de Nova Lima atingiram a crista da Serra do Curral modificando o perfil da mesma. A paisagem da Serra do Curral principalmente em sua linha de topo foi dessa maneira comprometida seriamente o que causou muito constrangimento à população e deu origem a um movimento da sociedade civil em defesa da preservação da serra. Esse movimento teve como representantes artistas plásticos de Belo Horizonte. O artista plástico Manfredo de Souza Neto criou o slogan ¨Olhe bem as montanhas¨ que virou adesivo automotivo. A visibilidade da causa expressa no aviso olhe bem as montanhas enquanto é tempo ganhou adesão significativa da sociedade civil. A pressão conseguiu deter novas futuras modificações na linha do perfil da montanha e ensejou os mecanismos de proteção da serra hoje existentes.
A implantação do Parque das Mangabeiras se efetuou no contexto da desmobilização da atividade mineraria do próprio município, de introdução da atividade de parcelamento do solo na região das Mangabeiras, e por outro lado da transformação de Ferrobel em Urbel, atendendo às novas pressões sociais, dessa feita dos movimentos populares pela moradia.
O impulso inicial para a criação do parque surgiu como uma resposta aos efeitos da mineração. A preocupação com a questão ambiental de forma mais ampla se deu em um momento posterior e pode ser vista no ato do tombamento da serra e na inserção administrativa na área ambiental. Em 1979 a Ferrobel teve a sua atividade na área mineraria interrompida. Em 13 de maio de 1982 o Parque das Mangabeiras foi inaugurado sob a administração da Empresa Municipal de Turismo, BELOTUR. Em 1983 por meio do decreto nº 4.539 o espaço passou a funcionar com estrutura administrativa própria tendo sido subordinado à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Em 1989 o Parque das Mangabeiras passou a ser administrado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Saneamento. Em janeiro de 2005 O Parque das Mangabeiras passou a ser administrado pela Fundação de Parques Municipais, vinculada à Secretaria Municipal de Políticas Urbanas, criada para administrar e manter os parques municipais. Embora seja um parque público e administrado atualmente pela Fundação de Parques e Jardins do Município de Belo Horizonte, não fica claro nos documentos encontrados até o momento, a propriedade fundiária do imóvel onde se situa o parque, se da administração direta ou da companhia municipal Ferrobel/Urbel e seus sucessores. As informações que poderiam ter esclarecido essa questão não foram encontradas. Outra ausência recorrente detectada em nossa pesquisa foi a representação lacunar da área na cartografia do município.
O empreendimento inicial do Parque ocupou uma área de 2.350 mil m2 e foi realizado por meio de aplicação de recursos públicos municipais e a participação do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e das Minerações Brasileiras Reunidas (MBR).
Projeto
O projeto paisagístico do parque foi inicialmente elaborado por Roberto Burle Marx e sua equipe tendo sido parcialmente realizado, o projeto foi dividido em:
1. Praça das águas
Na região central do Parque com uma área de quatorze mil metros quadrados, piso de mosaico português em branco, preto e vermelho, um lago artificial composto de ilhas perguladas, repuxos luminosos, plantas aquáticas, peixes e várias áreas de estar. Possuindo um teatro de arena com capacidade para 1000 pessoas e um grande pavilhão. (ver desenho)
2. Parque Esportivo
Conjunto esportivo composto por seis quadras polivalentes e vinte e nove quadras de peteca com iluminação e alambrado, e sistema de vestiários, sanitários, aluguel e venda de material, bar com plataforma pergulada. (ver desenho)
3. Conjunto Alpino
Constituído de um mini-sistema teleférico, destinado a transportar o público para o alto de uma das principais elevações do Complexo, e de um tobogã de montanha, com trajeto circular acompanhando as curvas de nível desceria da elevação. Na estação superior, funcionaria um restaurante panorâmico com snack-bar e mirante. (ver desenho)
Em 1991 O Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural realizou o tombamento da Serra do Curral incluindo todo o perímetro do parque. Em 27 de janeiro de 1999 por meio da lei estadual nº. 13.190 uma área do Paredão da Serra do Curral foi incorporada à reserva do Parque das Mangabeiras. O espaço inicia-se na portaria sul estendendo-se ao longo da Avenida José do Patrocínio Pontes até a Praça Estado de Israel.
O parque é um dos poucos remanescentes de mata da região metropolitana de Belo Horizonte. Ocorrem 13 espécies de mamíferos na área como o mico estrela, escolhido como mamífero símbolo de Belo Horizonte, gambá, esquilo, quati. Há ainda 158 tipos de aves, 12 de répteis e 16 de anfíbios. A vegetação do parque reúne espécies que variam entre o campo de altitude, como as gramíneas, canelas de ema e algumas espécies de orquídeas; cerrado, como o pau-santo, barbatimão, candeia, caviuna e a mangaba; e matas de galeria, como o jacarandá, vinhático, jequitibá, e a quaresmeira, eleita árvore símbolo de Belo Horizonte.
Usos atuais
Meio ambiente, lazer e cultura integram as três missões da atual administração do Parque das Mangabeiras que em conjunto com universidades têm desenvolvido um trabalho interdisciplinar de pesquisa. O parque funciona como um laboratório no qual o levantamento e processamento de informações tais como mapa de solo e relevo, com análises químicas, físicas e mineralógicas das amostras, estudo dos recursos hídricos tem sido fundamentais para o planejamento de uso do espaço. As parceiras do parque ocorrem com a UFMG, PUC Minas, Faculdade Arnaldo Jansen, Instituto Izabela Hendrix, Fumec, Centro Universitário UNI-BH, Faculdade Estácio de Sá, Escola Superior de Meio Ambiente (Esma) e Centro Universitário Newton Paiva. O gerenciamento atual da área é de responsabilidade da Fundação de Parques e Jardins da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, sendo um dos maiores parques urbanos do país. Além de ser ponto de encontro de milhares de pessoas é palco de atividades culturais e habitat de várias espécies vegetais, animais e funciona como centro de pesquisa e de educação ambiental. Para visitar o parque, existem três opções de roteiros que podem ser usados: o Roteiro das Águas, o Roteiro da Mata e o Roteiro do Sol. Logo na entrada, uma sala multimidia orienta os visitantes sobre as atrações do local. As principais atrações encontram-se na Praça das Águas, Morro do Pic-Nic, Parque Esportivo, Ciranda de Brinquedos, Praça do Britador, Viveiro, Mirante da Mata, Vale dos Quiosques, Recanto.
Como a imprensa registra a vida do parque
Se o espaço é memória em ação nossa pesquisa estendeu-se à leitura de textos de jornais da Hemeroteca do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte sobre o parque. O período consultado correspondeu às datas-limites da coleção, ou seja, de 1983 a 2008. Entre as notícias há uma predominância de assuntos relativos às atrações, às más condições de conservação, às reformas, às promessas de renovação dos atrativos fixos, ao conflito com os moradores do Bairro Mangabeiras, à sempre possível implantação das fases 2 e 3 do projeto do parque, dentre outras.
Destacamos uma lacuna importante, a ausência de informações relativas ao uso anterior da área na qual o parque está instalado. Apenas a partir de 1998 vincula-se o parque à antiga área de mineração da Ferrobel (3).
Ao longo da década de 1980 a imprensa noticia a ausência de público no parque. Em 1986 foi lançado o evento mais famoso sediado no parque, “O fantástico mundo da criança”, evento contínuo que perdura até o presente. Nesse mesmo período novas atividades são criadas para atrair a população (4). Se considerarmos que o parque está inserido em um bairro de classe socioeconômica elevada, a realização de shows amplificou alguns problemas. As associações de moradores desse bairro que por ocasião da instalação do parque o haviam rejeitado se posicionaram de forma contrária a circulação e a frequência da população de baixa renda (5).
A discussão sobre o “abandono” do Parque das Mangabeiras é outro tema recorrente nos jornais. Entre os anos de 1984 e 1985 textos abordam a falta de estrutura do parque e apontam para a necessidade de reformas. Esse tema se repete nas décadas de 1990 e 2000 (6).
Em 2004 é publicada uma entrevista com o ex-prefeito Maurício Campos, em cuja administração o parque foi inaugurado. Campos realiza um diagnóstico negativo ao afirmar que sentiu “na carne a necessidade de implantar este parque, para garantir à população um local digno de lazer. Me decepciona hoje a situação de abandono daquele espaço, que deveria ser atenção especial dos governantes. Faltam a eles responsabilidade e, principalmente, o exercício de autoridade" (7).
A história da área e a sua representação na cartografia
O registro iconográfico do Parque das Mangabeiras mostrou-se lacunar em consulta que realizamos às representações cartográficas do município, conforme disposto no quadro abaixo. Os mapas, cartas e plantas consultados compõem o acervo da Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Minas Gerais que se encontra distribuído entre a Biblioteca do Instituto de Geociências e a Biblioteca da Escola de Arquitetura e o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte. Para delimitar a pesquisa, selecionamos todas as cartas, mapas e planta s do Município de Belo Horizonte disponíveis no acervo de ambas as unidades da Biblioteca Universitária e no acervo do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte a partir da data do decreto de criação do Parque das Mangabeiras de 1966. O Parque das Mangabeiras conta com apenas 28 anos de existência, mas ele pertence a uma área de representatividade para Belo Horizonte. As representações cartográficas são valiosas para a (re)construção da memória. Pois os mapas, as cartas e as plantas, permitem o reconhecimento territorial, oferecem a oportunidade de uma visão “ampliada” do espaço, demonstrando a importância daquilo que é representado para os agentes planejadores do território.
Como resultados preliminares podemos observar que há uma ausência de cartas da capital mineira da década de 1960. Dentre as cartas da década de 1970 não há qualquer referência ao parque e sequer às suas futuras instalações, mesmo considerando que as cartas de 1970 e 1977 foram produzidos por órgãos municipal e metropolitano. Já as cartas da década posterior apenas a Planta da Cidade de Belo Horizonte de 1987 não traz referência ao parque. Esse é de autoria desconhecida e embora tenha sido produzida em uma escala grande, parece haver sido ignorado que o Parque das Mangabeiras é, em termos de área, o maior dos parques municipais, uma vez que outros parques municipais, com áreas menores foram representados. Quanto às produções da década de 1990, todas trazem referências ao Parque das Mangabeiras, inclusive representando o mobiliário do mesmo.
À guisa de conclusão
A história do parque das Mangabeiras nos traz várias questões relativas ao uso do solo e ao conflitos de interesses de grupos sociais que impulsionam as práticas de gestão urbana e provocam muitas vezes uma contradição entre de um lado, os objetivos formais das instituições e da legslação municipal criadas a partir da pressão por habitação dos movimentos sociais e de outro a dinâmica efetiva de ocupação do território. Nessa primeira abordagem nos perguntamos se a criação do Parque das Mangabeiras além de visar a recuperar e preservar a serra do Curral após os efeitos das atividades minerárias, não respondeu indiretamente aos interesses do capital imobiliário ao parcelar o solo e consolidar o loteamento de classe alta e a a ocupação dessa classe no vetor sul da cidade e ao mesmo tempo conter o avanço da área de favela e estabelecer uma fronteira verde para a população de baixa renda.
notas
1
TEIXEIRA, C. M. Em obras: história do vazio em Belo Horizonte. São Paulo: Cosac Naify Edições, 1999.
2
ARREGUY, C. A. C; RIBEIRO, R. R. História dos Bairros de Belo Horizonte: Regional Centro-Sul. Belo Horizonte: APCBH; ACAP-BH, 2008.
3
O Tempo, 04/07/1998. P.M. é uma excelente opção de lazer em BH;
O Tempo, 26/07/1998. P.M. é o 2º maior do país;
Estado de Minas, 12/05/1999. Música e circo nos 17 anos do Parque.
4
Estado de Minas, 20/01/1985. Turismo vai reformar o Parque das Mangabeiras;
Diário da Tarde, 17/04/1985. Parque das Mangabeiras não seve ser um elefante branco;
Estado de Minas, 07/10/1985. Atenção, meninos de todas as idades: embarquem nesta fantasia;
Estado de Minas, 02/05/1987. Ponha o Parque das Mangabeiras na sua vida. Lá tem o que você merece.
5
Estado de Minas, 30/06/1996. Show é discórdia no parque.
6
Estado de Minas, 20/01/1985. Turismo vai reformar o Parque das Mangabeiras;
Diário Minas, 04/10/1985. Prefeito garante obras no Parque das Mangabeiras;
Estado de Minas, 14/11/1993. Realidade supera o sonho no Parque das Mangabeiras.
7
Estado de Minas, 30/06/1996. Show é discórdia no parque.
bibliografia complementar
http://www.boonic.com.br/enciclopediapt/183990/mangabeiras.html
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:N2Ddfs0v4Q0J:www.fafich.ufmg.br/historiaoral/index.php%3Foption%3Dcom_content%26task%3Dview%26id%3D84%26Itemid%3D34+ferrobel+urbel&cd=16&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
http://www.habitare.org.br/pdf/publicacoes/arquivos/colecao7/capitulo_14.pdf
BARRETO, Abílio. Belo Horizonte, memória histórica e descritiva, história média. Planejamento, estudo, construção e inauguração da nova capital (1893-1897). Belo Horizonte: Rex. 1936.
CEREZO, F. L. B. Vegetação urbana, áreas verdes e espaços públicos em Belo Horizonte. IN: PAIVA, E. F. Belo Horizonte: histórias de uma cidade centenária. Belo Horizonte: Faculdades Integradas Newton Paiva, 1997.
CORBIN, Alain. L’homme dans le paysage. Paris: Les éditions textuel, 2001.
FONSECA, L. P. Áreas verdes públicas de Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte: Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, 1997.
FONSECA, L. P Planejamento Estratégico de Sistemas de Parques, Viçosa, UFV,JORNAL Estado de Minas, Caderno Gerais, página 28, publicado em 29 de setembro de 2008
PEREIRA, Rubem Gomes. Avaliação ambiental da bacia do córrego da Serra em Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado, 2005. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
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PUCMINAS
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http://www.fafich.ufmg.br/historiaoral/entrevistas/Hist%F3ria%20das%20Elites/JAIME%20PECCONICK/Jaime%20Pecconick.pdf Consultado em 10 de dezembro de 2010
sobre os autores
Myriam Bahia Lopes é Professora Adjunta MACPS EA UFMG; Marieta Cardoso Maciel é Professora Assistente MACPS EA UFMG; Yara Landres Marques é Mestranda MACPS EA UFMG e Arquiteta UFMG; Rejane M Silva Sanches é Mestranda MACPS EA e Geógrafa UFMG; Fátima Maria Ramos é Mestranda MACPS EA e Geógrafa UFMG; Murilo Gentil é Mestrando MACPS EA UFMG; Cleber Teofilo de Freitas é Engenheiro-civil UFMG, CBTU; e Maria Eugênia Soares da Matta é Mestranda MACPS EA UFMG Arquiteta UFMG.