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O catalão Josep Maria Montaner, após explicar a importância internacional da sede do Ministério da Educação e Saúde Pública, afirma que sua venda à iniciativa privada é um ultraje e uma insensatez.
MONTANER, Josep Maria. A venda do Palácio Capanema é um ultraje e uma insensatez. Carta aos arquitetos Carlos Eduardo Comas e Abilio Guerra. Minha Cidade, São Paulo, ano 22, n. 253.09, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/22.253/8225>.
Hoje Palácio Capanema, o antigo Ministério da Educação e Saúde do Rio de Janeiro é uma obra emblemática da arquitetura do século 20. Na verdade, foi o primeiro edifício público moderno do planeta, demonstrando a grande capacidade criativa dos então jovens arquitetos brasileiros. Sob a influência de Le Corbusier, sim, mas de uma monumentalidade inesperada. Obra-prima de síntese, conjuga a colunata de sabor clássico com a modernidade de composição e movimento abstratos, de lançamentos axiais e encaminhamentos oblíquos, integrando arte e jardinagem. Ícone octogenário, é patrimônio que não pertence só aos brasileiros.
Patrimônio nos informa o dicionário, é herança. O patrimônio demarca e incorpora a história comum, e nenhum tipo de patrimônio é mais eficaz nesse sentido que o patrimônio arquitetônico. Mas a privatização do patrimônio arquitetônico ameaça a sua acessibilidade e transparência, o seu usufruto democrático, a sua persistência enquanto memória edificada que edifica.
Bem faz a lei brasileira que proíbe a alienação de bem público tombado, ou seja, reconhecido formalmente como patrimônio nacional. É o caso do Palácio Capanema. Vender um patrimônio significativo da história nacional é ilegal no Brasil. Mesmo que não fosse, por à venda o Palácio Capanema é já um ultraje, amostra da miséria cultural de um pensamento para o qual tudo é mercadoria e o mercado tudo decide e tudo consome.
Por à venda um patrimônio significativo da história universal é também insensatez, considerando que o valor do Palácio – obras de arte incluídas – está muito além do que o mercado pagaria. Espera-se que o ultraje não prospere e a insensatez se recolha. Mas antes prevenir do que remediar.
notas
NE 1 – o documento “Heritage under siege in Brazil – the Bolsonaro Government announced the auction sale of the Palácio Capanema in Rio, a modern architecture icon that was formerly the Ministry of Education building”, redigido pelo Docomomo Internacional e Brasil, pode ser lido e assinado no link <https://bit.ly/3D7bglQ>.
NE 2 – sobre o tema, veja a série de artigos:
CAU/BR, Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil; et. al. “O MEC não pode ser vendido!”. Manifesto contra ameaça de venda do Palácio Capanema. Drops, São Paulo, ano 21, n. 167.06, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.167/8203>.
COMAS, Carlos Eduardo. Equipamentos, documentos, monumentos, desgovernos. A desventura do Palácio Capanema. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 253.10, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.253/8226>.
CURTIS, William J. R. A destruição da memória. Contra a privatização de um importante monumento histórico e cívico. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 253.07, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.253/8220>.
DANOWSKI, Miriam. Memória ameaçada. Governo federal continua evasivo sobre o destino do Palácio Capanema. Minha Cidade, São Paulo, ano 22, n. 254.01, Vitruvius, set. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/22.254/8239>.
FRAMPTON, Kenneth. Carta de Kenneth Frampton a Ana Tostões e Renato Gama-Rosa Costa, presidentes do Docomomo International e Brasil. Palácio Capanema em risco. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 253.06, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.253/8218>.
HATOUM, Milton. Palácio Capanema. O difícil processo de alfabetização. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 253.12, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.253/8234>.
LIERNUR, Jorge Francisco. Lembrete para autoridades sem memória, e sem juízo. O Palácio Capanema não é mercadoria. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 253.08, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.253/8223>.
MONTANER, Josep Maria. A venda do Palácio Capanema é um ultraje e uma insensatez. Carta aos arquitetos Carlos Eduardo Comas e Abilio Guerra. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 253.09, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.253/8225>.
ROLNIK, Raquel. Feirão de um sonho de país. Palácio Capanema à venda. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 253.03, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.253/8204>.
SCHLEE, Andrey Rosenthal. Oportunidade perdida (mais uma...). Ignorância e ignorância assolam o Palácio Capanema. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 253.11, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.253/8235>.
TOSTÕES, Ana; COSTA, Renato da Gama-Rosa; INTERNATIONAL, Docomomo; BRASIL, Docomomo. Patrimônio sob cerco no Brasil. Palácio Capanema à venda. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 253.04, Vitruvius, ago. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.253/8216>.
sobre o autor
Josep Maria Montaner é arquiteto, historiador e professor. É professor catedrático da Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona. É autor de dezenas de livros, dentre eles Arquitectura y política (Gustavo Gili, 2011) e Arquitectura y crítica en Latinoamérica (Nobuko, 2011), com versão brasileira pela Romano Guerra Editora.