Paisagens-limite. Projeto de reestruturação urbana e paisagística no Horto
A área de estudo para a elaboração deste projeto está localizada no vale conformado pelo rio dos Macacos, na região do Horto, localizado no bairro do Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro. O projeto consiste em urbanizar esta região dando ênfase a questões ambientais. Por esta ser uma área inserida próxima a locais de grande importância ecológica, como o Parque Nacional da Tijuca, o parque do Jardim Botânico e o Horto Florestal, além do próprio rio dos Macacos, importante no abastecimento de vários bairros da zona sul da cidade, as questões ambientais tornam-se imprescindíveis para o projeto.Esta é uma região que possui uma grande diversidade social, com diversos tipos de habitações. Convivem em um mesmo ambiente residências de classe alta e baixa. A área ao norte da rua Pacheco Leão é consolidada e contrasta com á área ao sul, que começa a sofrer um processo de favelização.O objetivo principal deste projeto é devolver à natureza e à população da cidade a área que está sendo desmatada e ocupada irregularmente, tanto nas margens dos rios, como nas encostas dos morros. Este problema vem ocorrendo em muitas outras partes da cidade, principalmente com a ocupação irregular por favelas de áreas de proteção ambiental, nas encostas dos morros e margens dos rios e lagoas, gerando poluição e degradação ambiental.
A ocupação e, principalmente, a ocupação desordenada desta área especifica, somada aos conseqüentes desmatamentos, queimadas e ocupação de encostas, acarreta inúmeras conseqüências, tais como a erosão do solo e a poluição dos rios (principalmente o rio dos Macacos), que geram, por sua vez, enchentes e a perda da diversidade biológica da Floresta da Tijuca e do Jardim Botânico, tornando fundamental a preservação da cobertura florestal existente.
A partir da identificação de áreas verdes e construídas, de áreas ocupadas legal ou ilegalmente, dos rios que passam pela área de estudo, entre outros itens, será feita uma proposta com base na “reconstituição” de elementos tais como as margens dos rios ou de áreas desmatadas, realocando, conforme necessário, famílias que ocupem áreas ilegais ou destinadas à mata atlântica. Áreas das quais nem mesmo a população do bairro tem conhecimento se tornarão públicas e com seu uso destinado ao lazer.
Metodologia
A principal referência para a elaboração deste projeto é o trabalho de Ian McHarg, exposto em seu livro Design with nature. Nele, McHarg demonstra sua metodologia de projeto, cujo resultado vai determinar quais áreas de um determinado local poderão ser desenvolvidas e quais deverão ser devolvidas à natureza.
Para chegar a este resultado, são feitas sobreposições de inúmeros itens, (através de mapas), que são os “limites” para que certa área seja desenvolvida. No caso deste projeto foram determinados seis limites: 1) os terrenos com inclinações acima de 20%; 2) limite de 30 m a partir das margens de rios e riachos (rio dos Macacos e riacho Iglesias); 3) a vegetação de mata existente; 4) os terrenos das instituições presentes na área; 5) limite de 25 m a partir dos fios de alta tensão (por questões de segurança) e 6) as áreas já urbanizadas e consolidadas.
Para cada um destes itens foi elaborado um mapa, demarcando as áreas que não deverão receber novas edificações. A partir da sobreposição destes mapas, chegou-se a um grande mapa, no qual podem-se visualizar quais serão as áreas que poderão ser desenvolvidas e as que serão reflorestadas e devolvidas à natureza e à população da cidade.
As construções que se encontram nas áreas que possuem impedimentos serão retiradas, com algumas exceções (o Solar da Imperatriz, por exemplo). Todas as construções que foram retiradas são casas, a maioria em situação irregular, que foram realocadas em uma área livre existente no Caxinguelê (área em que moravam antigos funcionários do Jardim Botânico), que já é uma área mais consolidada e que não possui impedimentos para a sua manutenção.
O projeto
Após a demolição das construções (aprox. 130 a 140 unidades) que estejam em áreas inadequadas ou irregulares (áreas determinadas através dos mapas sobrepostos), serão construídas novas unidades habitacionais (128 unidades) para que as famílias sejam realocadas. O local determinado para a construção destas novas unidades será o Caxinguelê, que também receberá uma praça em seu acesso, com sede para a Associação de Moradores do Horto e comércio local, conformando o centro desta região, principalmente para os moradores.Ao longo do rio dos Macacos será criado um parque público, com áreas de lazer e estar e equipamentos localizados por toda a região ao sul da rua Pacheco Leão e em um terreno ao norte. Seguindo junto ao rio, foi criada a estrada da Imperatriz, uma nova via que liga a rua Pacheco Leão ao Solar da Imperatriz, com uso destinado principalmente ao lazer, com ciclovia, passagem para carros, conectada ao parque ao longo do rio dos Macacos. No Grotão, localizado após o acesso ao Serpro, será implantada uma área de lazer com quadras de esportes e áreas de estar.Para impedir a invasão em direção à mata atlântica e à Floresta da Tijuca, foram determinadas glebas localizadas em terrenos que não poderiam mais receber construções. Ao pé do morro, estas glebas seriam destinadas ao uso institucional e teriam um limite máximo de ocupação do terreno. Cada instituição seria responsável por não permitir que seu terreno seja invadido. No limite entre as glebas e as áreas públicas foi criada uma outra via que se liga à estrada da Imperatriz e também tem seu uso destinado principalmente ao lazer. Um dos aspectos mais importantes do projeto é assegurar que as áreas que estão sendo protegidas não voltem a ser ocupadas irregularmente, o que poderia gerar uma maior degradação ambiental.
ficha técnica
Aluna
Renata BertolOrientador
Flávio FerreiraFaculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro