Idéias geniais e inusitadas ganham concursos de anteprojeto e vão para o arquivo morto, nunca se materializando. Este é um filme por demais já visto e repetido, infelizmente. Como mudar este cenário e fazer com que os projetos vencedores de concurso sejam realizados? São vários os caminhos, mas nos interessou que estava ao nosso alcance o que traduziríamos como:
Entender o contexto socioeconômico de Itaqui
Poder-se-ia falar genericamente das cidades de fronteira do Rio Grande do Sul: são quase todas marcadas tristemente por período passado de apogeu e desenvolvimento seguido por declínio, resultante de diversos fatores, tais como a perda do mercado externo vizinho, também em declínio. Vivem, pois, estas cidades, forte deterioro econômico, sustentadas por pecuária e agricultura, no caso de Itaqui, a rizicultura.
Um projeto viável
Nosso objetivo era um projeto viável, fator de auxílio a um provável esforço de recuperação das condições urbanas de Itaqui. O desenho proposto é claramente condicionado a um dado pré-determinado de custos, compatíveis com a realidade de Itaqui.
Um projeto construído no tempo e por etapas
Isto permite a reapropriação do espaço renovado, ao mesmo tempo em que esta utilização pode proporcionar renda, pela locação comercial e a execução das etapas seguintes, colocando no mesmo nível a solução arquitetônica e a gestão do processo de recuperação.
Os conceitos e as decisões
- Concentrar as atividades culturais em novo bloco a ser construído junto à divisa norte do terreno;
- Restringir a intervenção nas fachadas externas do Mercado a restauro, pintura e iluminação sendo a nova construção deverá ser claramente contrastante com a existente: outro século,outras tecnologias;
- Criar grande praça interna conectada a outra, externa, resultante do fechamento de trecho da rua Oswaldo Aranha em frente à entrada principal do Mercado;
- Optar pelo conceito de open-mall em oposição ao modelo shopping center. Um espaço mais democrático, aberto, unindo lazer e cultura;
- Usar os espaços existentes, construídos, do Mercado, para lazer/comércio. Estes espaços podem ser flexibilizados em área (módulos) para irem se adaptando aos usos que vão ser indicados com o tempo e o uso.
- Conservar a circulação existente, antiga “rua das carroças”.
A solução adotada
Primeira Etapa
- O fechamento da rua Osvaldo Aranha ao tráfego, exceção a serviços e abastecimento criando praça externa ao mercado e pensando que, no futuro, os prédios abandonados em frente ao acesso principal poderiam ser incorporados ao complexo.
- Criar uma grande praça interna, semicoberta, pela simples recuperação da estrutura de aço existente; refazer/requalificar pelo desenho o piso da praça interna e da praça externa.
Segunda Etapa
- Recuperação do espaço construído existente.
- As fachadas para a rua, existentes, conservarão o desenho original, recuperadas, pintadas e com iluminação projetada; propõe-se a criação de, como rebatimento fachada interna circundando a praça, com duplicação das paredes existentes e desenho modular, em tijolo à vista; oposta à esta fachada interna, na tradição das antigas praças fechadas, galeria em U com cobertura translúcida.
Terceira Etapa
- A proposta separa nitidamente o programa em dois setores, o comercial ocupando o prédio existente reciclado e o cultural em espaço a ser construído na faixa colada à divisa norte.
ficha técnica
Arquiteto Cesar Dorfman (RS).
Equipe
Arquitetos Andreoni da Silva Prudêncio, Carlos André Soares Fraga, Rodrigo Adonis Barbieri, Cristina Jeannnes Rozisky, Adriana Sanmartin e Liege Koetz Amabile.