Cultura – Princípio fundamental das sociedades abertas, a idéia de democratização da cultura integra o painel de valores modernos. Entendida como concepção abrangente significa, em primeiro plano, a difusão das artes e dos conhecimentos, das idéias e dos sistemas de interpretação do mundo. Denota o empenho deliberado das forças sociais vivas e conscientes no sentido de remover os obstáculos que se interpõem entre grandes contingentes da população e o patrimônio espiritual acumulado pela humanidade.Mais, no entanto, do que propriamente distribuição e difusão da cultura, ela implica a noção do fazer cultural, ou seja, de estender ao maior número possível de pessoas a possibilidade de criar e expressar sua criação, de pensar e de externar seus pensamentos, de julgar e de comunicar seus julgamentos acerca da criação alheia, individual ou coletiva.Subentende a participação ativa e vigorosa de todos na construção da cultura.No seio de uma sociedade que continuamente fica mais complexa, que permanentemente se reestrutura sob o impacto da tecnologia, que incessantemente se reveste de novo sentidos à luz do foco reinterpretativo da criação artística, ausentar-se da vida cultural equivale a marginalizar-se, a renunciar ao direito de cidadania.A cidade então passa a ter um papel fundamental em tal panorama desenvolvido através do tempo, que é abrigar as diferentes formas de cultura polarizando em espaços que seduzam o público de tal forma, que a cultura personificada, materializada e distinta, seja absorvida e aproveitada pelo público, além de criar uma identificação que organize e distribua diferentes formas de cultura para quem estiver disposto de absorvê-la, em ambientes que favoreçam tal acúmulo de informação, surgindo assim um pólo, um ponto de convergência da cultura, um “Centro Cultural”.Sabemos que a valorização e o entendimento do passado, fazem com que nossos passos para o futuro sejam sólidos e corretos, e qual a melhor maneira de nos firmarmos como homens e cidadãos senão a nossa família e o lugar em que temos uma identidade construída e consolidada?E qual o melhor lugar para se implantar um “Centro Cultural”, senão o lugar em que a cultura floresceu para o país, e se tornou um marco para todo o nosso desenvolvimento intelectual e por conseqüência social, senão o local que “recebeu” e redistribuiu a Semana de 22?...como demolir um lugar que suas paredes e alicerces são a “cultura”?... e ainda mais para implantar um Centro Cultural !!! A restauração então não é apenas um Partido Arquitetônico mais econômico ou cômodo, e sim um Partido congruente com o passado e com o futuro da implantação, e essa relação seria atingida com a tecnologia que novos usos trariam para as edificações existentes , como os ateliês, a videoteca, o cyber café, emoldurados por eventos culturais, abertos ou fechados, cobertos ou ao ar livre, que trariam desde sarais de poesias em teatros de arena, até o grafite, o cinema, a música em suas diversas formas, unindo e interagindo valores, gerações e costumes.
Os prédios existentes então, após passar por um detalhado trabalho de restauro, abrigariam quase todo o programa solicitado, exceto o auditório, a lanchonete e o estacionamento. Adotando esse tipo de solução, a interligação entre prédios acontece através das praças abertas ou simplesmente cobertas que se situam atrás dos prédios existentes e também através da reconstituição da plataforma e da criação de uma passarela até o prédio da biblioteca, unindo todo o complexo organizando-o e marcando a intervenção proposta. Essas praças além de servirem como áreas de estar, servem também como áreas para diferentes eventos itinerantes, simultâneos ou não, e se convertem para a praça rebaixada, onde esta localizado principal ponto de encontro, com a lanchonete/restaurante, o teatro de arena, e o grande bloco que abriga o auditório multifuncional e as áreas de exposições.Esta praça rebaixada então por si só, se torna o principal ponto de encontro do Centro Cultural, com áreas cobertas e descobertas, organizando e compondo diferentes funções e sensações, completando e iniciando um ciclo que dificilmente se tornará monótono, pela própria natureza da implantação proposta.
Os diferentes tipos de materiais também marcam a transição do antigo para o novo, como na reconstituição dos espaços e prédios existentes, passando pela grande pérgula de madeira, até chegar com o bloco do auditório, delimitando o grande “rasgo” central com a passarela metálica, que faz a transição da plataforma até os ateliês marcando o eixo monumental da proposta.
Com a maleabilidade dos espaços, diferentes tipos de eventos florescem em meio à rigidez das formas.A mescla de acontecimentos e lazer fica evidente nos espaços para leitura, como na proposta de se colocarem redes de descanso na extremidade sul da plataforma, onde as pessoas pegassem as redes como se fossem livros e as pendurassem nas estruturas da plataforma, se deixando “embarcar” nos livros, musicas ou simplesmente relaxando, cercados por uma área arborizada, delimitando o apêndice sul da implantação, com a possibilidade dos chamados “artistas de rua”, terem um lugar para exporem seus pensamentos e habilidades, como por exemplo o grafite no muro que faz divisa com a Nestlé na praça onde se encontra o “Monumento à semana de 22”, como o teatro de arena e as inúmeras possibilidades de uso, dentre tantas outras coisas que realmente caracterizariam como um espaço de cultura, onde o ambiente, lúdico ou não, em uso ou simplesmente transitório, fizesse com que cada um se sentisse absorvendo um pouco mais de cidadania, de cultura e de vivência.
ficha técnica
Arquitetos
René Miliauskas, Rodrigo Fernandes Carbone, Paulo Luiz Boe Júnior, Caio Augusto Fioretto Micelli e Adriano Ramos Passarelli