re.cu.pe.ra.ção – sf (lat recuperatione)Ato ou efeito de recuperar ou recuperar-se; recobramento, reconquista, restauração.
Um processo analítico dos pontos históricos e espaciais, possibilitou a captura das potencialidades do terreno. Não há imposição sobre o existente e sim a identificação de suas qualidades. O desafio era de criar meios que possibilitassem novas relações entre edifícios.
As intervenções, ordenadas de acordo com o programa, basearam-se nos espaços livres e nos edifícios remanescentes, previamente definidos pela análise histórica e funcional. Capturando os espaços, configurando o vazio, tudo é envolvido em um leque de ações (isoladas ou não), unindo-se ao verdadeiro e único gesto original. Nesse preâmbulo projetual, vemos um conjunto de condições que se torna ponto de partida, buscando o objetivo sempre intrínseco ao respeito, a preservação de uma história, a qualidade do espaço público e a potencial transformação de uma sociedade.E é nela que o projeto se inicia.
“Para um pintor um olho vê e o outro sente” Paul Klee
O Centro inicia-se em um espelho d´água onde estão inseridas peças metálicas que nos remetem ao início do desenvolvimento da cidade de Araras. Peças escultóricas que procuram reconquistar a importância da estação, buscando em um passado distante a verossimilhança entre épocas.
Uma laje contínua na altura da plataforma de embarque e dos pisos dos galpões percorre grande parte do terreno. Este gesto, possibilita a criação de diferentes níveis, interligando todo o complexo, unindo os edifícios, criando cheios e vazios, transitando entre passado e futuro: um exercício da história.
Não há começo nem fim... não há limites. A idéia de pátios e praças é transformada em uma trama interconectada, desafiando a busca da conectividade com o urbano.
1º nível – a 1.30m acima da rua, na altura do piso dos edifícios existentes, contém a administração, oficinas, exposição e café.
2º nível – intermediário, variável e existente. Estão os estacionamentos e a praça em frente ao prédio da administração
3º nível – a 2.00m abaixo do nível da rua, contém espaços públicos e o auditório e a biblioteca estão localizados nele.
Um eixo paralelo aos galpões e a estação, é cortado por três edifícios perpendiculares a eles. Foram preservados os antigos armazéns e a estação, bem como a sua plataforma. As unidades residenciais foram demolidas por não apresentar potencial construtivo de acordo com o programa.
Dos três edifícios, dois (Auditório e Biblioteca) foram semi-enterrados, pela proximidade dos prédios existentes e dando uso ao nível inferior, e outro (Café) no mesmo nível da laje que paira sobre o terreno, indicando-o como ponto de encontro. É nele que se tem a exata noção da totalidade do Centro Cultural.
Outro elemento marcante e de transição é a densa vegetação localizada entre os limites do terreno e a fábrica da Nestlé. Ela protege os edifícios acústica e visualmente, auxiliando na eliminação de ruídos, além de proporcionar aos usuários, uma iminente proximidade com a natureza. Esta “Barreira Verde” transfere o olhar de prédios vizinhos e foca uma intensa área arborizada.
CyberCafé
O café é um edifício totalmente novo com loja, café, lanchonete, vestiários para funcionários e cozinha que dão suporte ao Centro. As duas faces laterais se alternam em vidro e painéis metálicos de correr, dinamizando a fachada.
Este edifício é de estrutura mista: as vigas que atravessam o vazio da praça são metálicas e os pilares que sustentam o edifício são de concreto. Estes pilares são distribuídos de maneira a caracterizar um espaço que interaja com o usuário, proporcionando uma percepção espacial diferente do convencional.
A localização central ao terreno facilita sua identificação. No nível inferior, a sua projeção resulta numa praça coberta.
Administração
A administração está no edifício da estação propriamente dita. De valor histórico evidente, este prédio externamente é totalmente preservado. Internamente foram feitas adequações para receber o novo layout, com exceção das duas paredes que compreendiam os antigos banheiro, todo o restante foi preservado. Divisórias que se desprendem do antigo formam as salas de reunião, banheiros para funcionários e um pequena copa para o apoio ao staff do Centro. Este prédio também comporta dois banheiros públicos que tem acesso pela Praça principal. Todos os materiais característicos e originais da estação serão restaurados, evidenciando a História.
Galpões
Os dois galpões (antigos armazéns) serão preservados por entendermos a sua importância histórica para o desenvolvimento da cidade e por apresentar grande potencial para receber as novas funções. Em um deles estarão as oficinas e nos outro as salas de exposição, configurando um Museu. Com acessos independentes, o funcionamento de um independe do outro.
Oficinas
Será preservada toda a arquitetura original e restaurado todo o telhado. Foi através de suas aberturas originais (duas nas extremidades e quatro voltadas para o interior), que a disposição das oficinas surgiu, orientando todo o projeto. São espaços flexíveis que permitem ampliações através de portas de correr metálicas. Um trilho, que corre por fora do edifício, permite que as portas definam um ritmo para a fachada bem como a identificação das salas. Tudo é feito de maneira a preservar e restaurar o existente.
Exposição
Consiste de duas salas, hall, recepção e banheiros. Como no galpão anterior será preservado toda a arquitetura original e restaurado todo o telhado. Nele, painéis removíveis, que também correm através de trilhos, formam no interior uma pele abrangendo quase o perímetro integral. Essa pele multifuncional, preserva a obra exposta, criando um plano de fundo que auxilia na exposição. Simultaneamente, proporciona a flexibilização das salas, podendo configurar espaços diferentes de acordo com a necessidade e o tamanho do evento.
A recepção e os banheiros estão inseridos em uma caixa metálica disposta no Hall.
A climatização é executada por meios mecânicos.
Toda a fachada é restaurada e o interior preservado – o edifício não se descaracteriza, apenas recebe o novo.
Auditório
O acesso independente ao restante do complexo confere identidade ao edifício.
O edifício, localizado próximo em uma das extremidades, portanto próximo a um dos estacionamentos, evita de certa maneira, a confluência e a aglomeração com todos os outros prédios que fazem parte do Centro.
O auditório conta com uma platéia de 200 lugares, uma sala de projeção, um hall de espera, um pequeno café para atendimento local e banheiros.
Biblioteca
Semi-enterrada, localiza-se em meio a duas praças na qual forma um interstício entre elas, possibilitando a passagem de um espaço ao outro e tendo-as como apoio, estimulando ao usuário a utilizar esses espaços para leitura, privilegiando a concentração e tranqüilidade e como premissa, o silêncio.
Conta com recepção, espaços para leitura, arquivos, salas de projeção para vídeo e midiateca e banheiros.
ficha técnica
Arquitetos
Marcus Ricco La Motta, Paula Andrade e Ivan Nishihata