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PORTAL VITRUVIUS. 6º Prêmio Jovens Arquitetos 2004. Projetos, São Paulo, ano 04, n. 043.01, Vitruvius, jul. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/04.043/2351>.


Categoria Arquitetura – Projeto

 

Olho para o céu buscando a Deus e sinto que minha fé quebra a realidade quando vejo o movimento das coisas que me cercam e que só existem para mim da forma em que posso percebê-las. Para cada um o mundo é feito, não para todos. Crio a dimensão e a enquadro.

Olho para o chão buscando a Deus e sinto meus pés parte dele; pois só me descolo por um instante para logo encontrá-lo, quem sabe talvez até com minhas mãos.

Cada pessoa se conhece subjetivamente por “eu” e se analisa por partes de uma total complexidade que existe pela relação entre inúmeros “eus”.

Só apenas nos seres humanos esta relação chega ao ponto da filosofia que em todo o resto se caracteriza por um ciclo de coação irracional com a mesma classificação de “eus”.

Então, sinto a somatória de indivíduos , de percepções diferentes, de um ser só, de eu, de eus, de deus. Então se olho para o céu, busco puramente à contemplação e se no chão me encontro, movimento-me para a percepção de “D(eu)s”.

A obra será implantada de modo que não separe a natureza presente no local e permita que os fiéis e padres criem relações das partes da criação divina que serão enquadradas pela construção.

De formato retangular, uma marquise plana periférica,à 4,00 metros de altura, delimitará, a uma primeira visão, o corpo construído. Esta marquise, simbolicamente, coroará a cobertura que levemente inclinada apontará tanto para o solo quanto para o céu; como em sinal de respeito, esta “cabeça”, agora coroada, louva e se une a toda a criação.

Esta cobertura central permitirá que a nave e o altar da igreja tenham a luz solar como principal iluminação e a perspectiva do céu como fundo ou parte da nossa visão.

O altar tem ao fundo duas paredes desencontradas de 2,50 metros de altura e 30 centímetros de distância que as separam no eixo central da igreja. Esta distância, criada pelo desencontro, forma a haste vertical da cruz tendo o sacrário como único ponto de encontro destas paredes e base da mesma cruz.

No topo destas paredes, no sentido do seu desencontro central (haste vertical) para os seus lados, há um desnível de aproximadamente 30 centímetros a fim de formar a haste horizontal da cruz; e por fim, uma coroa de espinhos pendurada sobre todo o conjunto.

Atrás do altar, seguindo o mesmo eixo central, fica uma área reservada para o confessionário. Do lado esquerdo fica a sacristia/sala de reuniões com acesso tanto interno da igreja como externo para o sanitário de uso exclusivo do padre e acesso aos confessionários.do lado direito estão os sanitários masculino e feminino,sendo um, dimensionado para a utilização de deficientes físicos; e um sanitário de uso exclusivo do padre, todos com acesso externo a igreja.

Envolvendo toda a igreja, um sinuoso fechamento de estrutura metálica circular com distância de 1,20 metros cada, com placas de perfil de madeira e revestimento de juta tratada filtra a luminosidade e visão permitindo quando destravadas, seu movimento ao vento e percepção ao

Tempo enquadrado em imagens da complexa criação. Estas placas de madeira e juta poderão ser manufaturadas pela própria comunidade, a fim de reduzir o custo da obra e incentivar a união comunitária.

Este revestimento de juta tratada acolhe os fiéis junto a natureza e remete à vestimenta e manto de cristo; uma vez que a cruz posta no exterior inclinada junto ao solo, indica a sua presença e quem sabe sua passagem.

Os bancos de madeira estão dispostos nas laterais da nave a fim de liberar o eixo central que liga o exterior ao altar e que será revestido com cimento queimado facilitando a locomoção dos fiéis; uma vez que o piso sob os bancos será de pedras de paralelepípedo sobre o solo sem a utilização de cimento para o seu travamento, propositalmente fará com que cada indivíduo preste atenção ao solo em que pisa,na vida em que brota espontaneamente sob seus pés, alterando seu ritmo e o levando a respeitar nossas próprias fragilidades.

Os sentidos levarão à percepção individual da obra e o que a emoldura.

A visão criará focos de luz, sombras, infinito, finito, fragmentos e totalidade. A audição ampliará o volume daquilo que existe, mas nos é às vezes, invisível. Os materiais que só através do tato nos mostrarão a identidade daquilo que nos cerca de várias texturas e movimentos; filtrando em nosso olfato, cheiros trazidos pelos ventos.

E por fim, receberemos o corpo de cristo em nossas bocas e todos os sentidos nos levarão à percepção de D(eu)s.

ficha técnica

Autor
Arquiteto Adriano Carnevale Domingues

Obra
Igreja Católica Comunitária / Comunidade São Gaspar Bertoni

Área
250,00m2

Capacidade
Mínimo de 100 pessoas

Local
Parque Shangrilá / Campinas SP

Data do projeto
2004

source
Arquiteto premiado
São Paulo SP Brasil

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