Memória Moderna - A trajetória do Edifício Esther, Fernando Atique. Editora Rima, São Carlos, 2003, 21x28 cm, 364 p., ISBN 85-86552-61-5
Projetado em 1934 pelos arquitetos Vital Brazil e Adhemar Marinho, o Edifício Esther converteu-se em um marco na história da arquitetura moderna brasileira e em uma referência no cenário do centro da cidade de São Paulo. Neste livro, o arquiteto Fernando Atique faz uma análise minuciosa da trajetória deste prédio. Investiga o projeto de arquitetura do Esther, identificando a gênese de soluções projetuais adotadas e qualificando a noção corrente da obra como eminentemente inovadora. Relata as reações iniciais ao arranha-céu na imprensa paulistana e analisa as diversas leituras do prédio feitas desde os anos trinta por arquitetos e pesquisadores de história da arquitetura moderna brasileira. Ao estudar a ação dos primeiros proprietários do prédio – a família Nogueira – neste e em outros projetos arquitetônicos e urbanísticos, explora um aspecto pouco abordado na historiografia de arquitetura e urbanismo no Brasil, que diz respeito à atuação dos promotores privados.
Ao analisar a peculiar forma de gestão do prédio adotada por seus proprietários através da criação da Sociedade Predial Esther, investiga mecanismos de regulação de moradores e usuários de prédios de uso coletivo, outro tema pouco estudado pela historiografia de arquitetura. Os usos e os usuários do Esther ao longo de sua existência são outros aspectos abordados no livro, que enfatiza o prestígio inicial do edifício, sobretudo junto a um seleto grupo de artistas e intelectuais, e a progressiva perda deste prestígio, correlata a mudanças de uso do seu entorno. A obra mostra como tal processo foi acompanhado por uma crescente descaracterização e sub-utilização do prédio. O ciclo se fecha com a análise das iniciativas para preservar e restaurar o edifício, bem como das resistências a estas iniciativas.
Através desta leitura inovadora do Esther, o livro desvenda não apenas a história de um prédio, mas aspectos relevantes do rápido processo de mudança de significado, de uso e de forma do centro da cidade de São Paulo ao longo do século XX.
[Telma de Barros Correia, Profa. Dra., Docente do Departamento de Arquitetura EESC/USP]