Hoje o mundo é um espaço sem horizonte, aonde não se pode ler nem a identidade, nem a relação, nem a história. Aonde coexistem solidões sem vínculos ou emoções.
O espaço se volta contra a memória, destruindo suas referências para substituí-las por simulacros e não deixa nada que possa reter as lembranças.
O tempo se faz instantâneo, se acelera, as distâncias se anulam.
A terra é percorrida por movimentos frenéticos. Turismo, negócios e migrações urbanizam o mundo. A cidade substitui a natureza, se apropria de seus contornos, a coloniza e se converte no meio natural da humanidade.
O mundo se polariza e as pessoas fogem rapidamente para o interior do sistema. No espaço pode ser lido o enfrentamento. A geometria se converte no símbolo.
Nesse mundo ferido, sobre cuja pele as cidades se estendem como manchas e alargam seus filamentos para interconectar-se, a humanidade se concentra e os arquitetos escrevem no espaço obras singulares, assinadas, de autor. Obras que não mantém relação com seu entorno imediato, que não expressam metonimicamente nada do lugar no qual se implantam. Obras de sentido planetário.
É vital encontrar outro espaço, buscar um horizonte, frear o tempo, torná-lo habitável, voltar a ter esperança.
A Bienal buscou ações concretas que sustentem essa esperança. Através de seu primeiro concurso de idéias de arquitetura na rede, pediu aos jovens universitários ibero-americanos que se aproximem a sua terra, que calculem a distância que existe até o outro e a percorram inscrevendo no espaço um lugar de todos. Solicitou às universidades, relações, vínculos, identidade, compromisso, uma consciência planetária, ecológica e social. Bálsamos para tentar cicatrizar as feridas do mundo, para começar a fechar a descontinuidade de sua pele e tentar acalmar a angústia de um século de infinitas separações, o século da emigração.
As respostas de 44 universidades, 70 trabalhos, 13 países e mais de 151 criadores estão por detrás de algumas siglas. Escondidas atrás do endereço eletrônico há uma enorme quantidade de ilusões esperando um olhar, esse olhar que pode converter os reflexos de uma tela de computador em sulcos na terra, em canais para receber o bálsamo que cimentará o futuro. Um futuro no qual possamos juntos voltar a olhar o horizonte. Para isso, agora, necessitamos dar um primeiro passo, precisamos de seu olhar.
[Ivone de Souza Gois, coordenadora do 1º Concurso de Idéias de Arquitetura na Rede]