O fenômeno da mobilidade das populações humanas no território tem tido nos últimos anos uma relevância particular que afeta igualmente os países desenvolvidos e em desenvolvimento. As áreas econômicas estão cada vez mais abertas à circulação de recursos financeiros e tecnológicos, e os bens e serviços transpõem fronteiras nacionais sem barreiras alfandegárias.
Nesta situação atual os seres humanos se trasladam de um lugar para outro, apesar dos freqüentes entraves impostos por necessidades, quase sempre políticas. A residência das pessoas, pensada como lugar único, deu lugar a um espaço de vida muito mais amplo, que às vezes transpõe as fronteiras nacionais.
As novas formas de mobilidade espacial são agora motivo de nosso estudo, que se focou na interpretação de uma estática (origem e destino) e de uma dinâmica que contemplam múltiplas formas de relacionamento do homem com os espaços geográficos: as idéias do “espaço de vida” e da “reversibilidade” dos movimentos. Para nosso projeto temos obtido especial handicap na diferença entre o conceito de “espaço de vida” e de “residência base”.
Residência base definida como ”o lugar ou conjunto de lugares a partir do qual (ou dos quais) os deslocamentos têm uma probabilidade de retorno mais elevada” e oferece a possibilidade de abrir grandes categorias para os deslocamentos territoriais: dentro da residência base (trabalho, estúdios, negócios); ao exterior da residência base, que termina em um retorno (por criação de uma nova residência base ou porque se trata de movimentos sucessivos ambulantes). Ampliador do conceito de residência base, a “reversibilidade” dos fluxos permite classificá-los segundo a referência de serem reversíveis ou irreversíveis.
As formas de mobilidade temporal e/ou circular propõem uma referência conceitual global para determinar as diferentes formas de mobilidade que afetam às dinâmicas urbanas, contemplando os seguintes aspectos: os espaços residenciais e os demais componentes dos espaços de vida dos indivíduos e de sua família que estejam relacionados com o exercício das atividades econômicas e sociais; e os principais movimentos (as redes de mobilidade) entre os diferentes lugares constitutivos dos espaços residenciais, econômicos e sociais, assim como aqueles que traduzem um deslocamento ou uma mudança de tais espaços.
Neste sentido, temos buscado desenvolver uma série de categorias a partir da explosão do modelo doméstico tradicional, de maneira que possamos entender seu uso de forma fragmentada. A partir do acompanhamento de vários sistemas móveis de habitação, temos obtido dados dos fluxos migratórios diários de alguns habitantes de Madri, inclusive o nosso.
As novas realidades são visualizadas primeiro conceitualmente: a sociedade do tuning , da venda de componentes e montagens personalizadas de computadores, automóveis, roupas, etc. constituem um modelo contemporâneo de formação social que temos levado em conta.
O projeto se centra no sistema de implementação da residência base. Para seu desenvolvimento, temos assumido alguns pressupostos sem os quais nossa proposta doméstica seria praticamente utópica.
O primeiro se baseia em assumir da residência base de cada indivíduo. Residências de todo tipo: unidades mínimas, habitações compartilhadas, residências parentais… Esta residência base, na maioria dos casos se encontra em uma periferia, o que lhe dá o caráter de uma habitação dormitório. O modelo de semi-independência dos jovens em nosso país também é um dos pressupostos de nosso projeto.
Assumimos, portanto, o modelo doméstico estabelecido, e não propomos eliminá-lo, mas evolui-lo segundo os modelos de vida contemporânea.
Queremos começar a abrir novas vias de debate sobre modelos de ocupação da cidade atual, novos modelos de residência e/ou semi-residência, que levem em conta também os espaços residuais da cidade, terrenos intersticiais, locais inabitáveis no modelo tradicional, solos baratos que de outra maneira não teriam forma de ser ativados.
Estas unidades, que temos denominado “U.E.P.O” (Unidades Espaciais de Proteção Oficial), respondem a cada um dos modelos de uso doméstico, definindo assim os tipos:
- U.E.P.O. de desenvolvimento de atividades;
- U.E.P.O de relação social;
- U.E.P.O de espaços livres;
- U.E.P.O úmido;
- U.E.P.O de armazenamento ou “M.E.M.O.R.I.A”;
- U.E.P.O de descanso.
Estas unidades terão uma gestão específica segundo seus usos, podendo ser de renda única ou plural; um por um, os programas dos U.E.P.O.S. são:
- U.E.P.O. de armazenamento ou “MEMORIA”: em nosso modelo de consumo o armazenamento de pertences físicos se converte em um dos lastros principais para os processos de movimentos migratórios e pendulares. O uso de residência base como residência-armazém começa a se estender, por isso propomos unidades mínimas de armazenamento em sua forma geométrica mais eficaz e econômica, os hexágonos. No subterrâneo do edifício incorporamos alguns recipientes de reciclagem de objetos e utensílios, com espaços para sua reciclagem e conserto; assim o consumo se equilibra, por um lado o armazenamento, e pelo outro a reutilização dos objetos obsoletos ou que queremos que desapareçam de nossa memória.
- U.E.P.O. de relação social: com esta tipologia tratamos de solucionar aspectos de problemas sociais relacionados ao ócio. Por um lado, a carência de espaços adequados de relação social para determinadas situações e grupos sociais, fora dos circuitos de bares e discotecas, para o qual propomos esta tipologia de uso lúdico e relação doméstica. A gestão destes espaços podem ser aluguéis coletivos para um grupo de amigos, grupos, etc. A implantação será em lugares tais como cruzamentos de rodovias e espaços residuais, zonas baratas aonde o ruído não cause transtornos sobre outros espaços de residência. O aspecto de “faroletes” é uma metáfora do conceito de festa sobre as rodovias de Madri.
- U.E.P.O. de desenvolvimento de atividades: nesta tipologia o conceito de espaço privado tem um limite difuso, digamos que mais do que um aluguel coletivo, trata-se de uma “associação” de participação. Freqüentemente as zonas de desenvolvimento de atividades se desenvolvem solitariamente, em garagens, habitações, muitas vezes com problemas de espaços. Pensamos que o espaço de atividade não deve ser fragmentado, mas que deve ser um espaço qualificado para a produção de sinergias que vão enriquecendo todas as atividades, e que se vão complementando com as distintas disciplinas com as quais convivem.
- U.E.P.O. úmido: as zonas úmidas da habitação tradicional se convertem em uma tipologia de relação com a água, de desfrute e aproveitamento, zonas de descanso que reutilizam a água e fazem um uso responsável e sustentável, purificando as águas sujas para rega e reativando assim zonas de regatos esquecidos e nascentes aqüíferas tão comuns em nossa região. Em terrenos próximos às zonas residenciais. Além de ser um espaço aonde conviver com as plantas, em um clima úmido, ao modo de uma “estufa doméstica”.
- U.E.P.O. de descanso: trata-se de unidades de relaxamento e descanso, aonde se pode ter momentos de tranqüilidade, aproveitar as horas de descanso e siesta . Estes módulos estão situados em zonas livres públicas, como parques e espaços verdes de zonas comerciais próximas a núcleos de trabalho.
- U.E.P.O. de espaços livres: estruturas leves recicladas de materiais de obras que se instalam nas coberturas às quais se acessa por as zonas comuns do edifício e cujo aluguel, mínimo, traz benefícios para as próprias comunidades de vizinhos. Estes espaços são solariums privados dentro da cidade para aqueles usuários que carecem de terraços em sua residência base e querem ter uma zona privada de espaço livre em seu espaço doméstico diário ou semanal.