O projeto se orientou pela perspectiva de propor uma nova tipologia para a habitação social, que seja um contraponto ao binômio “simples e barato” que, nas ultimas décadas em nosso país, com raríssimas exceções, marcou a produção habitacional, tanto privada como governamental.
A solução adotada propõe um sistema de módulo espacial único e adaptável associados aos elementos de suporte à habitabilidade. Visa solução adotada visa ainda à redução dos custos por meio da redução das ações construtivas, sem deixar de considerar a qualidade arquitetônica dos edifícios.
A unidade habitacional
O desenho da unidade parte do princípio da sua execução a partir de poucas ações construtivas que deixem marcado o processo construtivo na arquitetura resultante.
Adota-se uma solução construtiva simples: os planos verticais transversais são estruturais – independentes do material ou técnica construtiva adotada de acordo com as possibilidades – e geram dois módulos espaciais: um módulo de convivência de 3,00 metros de largura por 8,3 metros de profundidade, destinados à permanência prolongada – estar e dormir, e outro módulo de serviços de 1,00 m por 8,3 m, onde se situa o bloco hidráulico e a escadaNo módulo espacial de convivência o espaço de estar e o de dormir, podem permanecer integralmente abertos, o que é mais conveniente para a ventilação cruzada, ou serem organizados ou divididos de múltiplas maneiras, de acordo com as necessidades, por meio da disposição de mobiliário ou divisórias leves.
No módulo espacial de serviços a cozinha se liga diretamente ao espaço da sala e o banheiro situa-se no pavimento superior ligado pela escada. A área de serviço está associada ao banheiro, o que parece mais conveniente do ponto de vista do funcionamento.
O pé direito duplo do modulo espacial de convivência sugere futuras ampliações por mezaninos, restringindo o crescimento da unidade ao interior da construção, preservando o aspecto do volume externo e os espaços comuns, evitando improvisações na infra-estrutura do conjunto. Assim justifica-se o sanitário no pavimento superior do bloco hidráulico considerando sua ligação com os dormitórios a serem constituídos posteriormente, ou imediatamente considerando os custos reduzidos de execução dos mezaninos.
As aberturas situam-se nos planos transversais na orientação N-S e conformam-se no momento da execução dos planos longitudinais verticais estruturais, ou seja, são grandes aberturas opostas que garantem a ventilação transversal e a dupla orientação, admitem uma maior flexibilidade no momento da implantação das unidades.
Duas varandas opostas estendem o espaço do modulo de convivência além de garantir uma proteção adequada das aberturas em relação a insolação e intempéries. Seu piso de madeira articulado é ventilado e permite a circulação do ar resfriado que circula sob a laje de piso.
Os caixilhos encerram ambas as faces da edificação de forma integral e são fixados diretamente na estrutura. Trata-se de um único caixilho de madeira repetido serialmente, fechados com vidros ou painéis de madeira, o que permite que a luz transborde do interior da unidade para fora, de noite, e no sentido contrário, de dia.
Tanto a cozinha como os banheiros são iluminados por vidros não transparentes – serigrafados ou aramados – sem caixilho, fixados diretamente na estrutura por meio de insertes metálicos. A ventilação se realiza através de uma folha pivotante na fachada. Os painéis de fechamento, tanto do modulo espacial de convivência como de serviços, visam evitar a escala diminuta típica destes pormenores na arquitetura tradicional da habitação social.
Um único espaço, um bloco sanitário, escadas sobrepostas e reduzidas ações construtivas conformam a unidade habitacional.
A implantação
A associação das unidades é facilmente realizada pelo alinhamento dos lotes, respeitando-se os seus limites.
As unidades também podem ser articuladas e organizadas pelos panos verticais longitudinais estabelecendo blocos contínuos de unidades geminadas que liberam áreas comuns para uso comunitário. Neste caso deveria ser revisto o lote tradicional e adotar-se uma organização condominial.
Em ambos os casos, admitem-se várias possibilidades de implantação, sobretudo considerando-se as diferentes situações topográficas. De qualquer forma, a orientação das aberturas transversais das unidades deverá sempre ser N-S.
O exemplo de implantação no terreno hipotético sugerido demonstra apenas um caso aplicado. Vale destacar a total independência das unidades habitacionais e terreno e também a total independência das unidades entre si.
ficha técnica
Autores
Alvaro Puntoni, Jonathan Davies, João Sodré, Mina Warchavchik e Edson Riva