O projeto da habitação popular no Estado do Amazonas busca sua identidade através de uma questão que vai além do material e que se faz presente em todo lar amazonense, no modo de viver e interagir com o espaço e nos costumes locais.Duas diretrizes norteiam o projeto de habitação popular sustentável no Amazonas – uma diz respeito ao caráter cultural e forma de ocupação da casa; e outro está diretamente relacionado com a materialidade e viabilidade do projeto, escolha do sistema construtivo e conceito formal da proposta.A proposta do projeto é criar muito mais do que uma casa ou uma unidade de habitação, mas sim uma espécie de sistema, um jogo simples entre módulos que podem existir sozinhos ou agrupados de forma eficiente e funcional. Como uma cadeia de átomos interligados em que diferentes componentes dão caráter e matéria aos módulos.
Partindo da idéia de que uma casa é como uma equação de diferentes variáveis de ocupação, de identidade e uso (estar – dormir – comer- banhar), ela pode ser pensada primeiramente como uma estrutura básica que une estas diferentes atividades. Cada função é moldada em escala e proporções adequadas de acordo com seu programa e existindo como estrutura, esse esqueleto da habitação está pronto para receber fechamento externo e interno, criando infinitas possibilidades de variações em diferentes locais de inserção.
Num clima extremamente quente e úmido, a preferência por espaços bem ventilados e livres de insolação, como varandas e salas bem abertas são convidativas e se tornam os espaços mais utilizados nas tradição da casa do Amazonas.
Desta forma o projeto privilegia um espaço unificado zonas de permanência neste clima “avarandado”, construído em módulos, de forma um destes abriga uma função (banheiro, cozinha, quartos) e as divisões internas podem variar de acordo com os hábitos e necessidade de cada família. Da mesma forma funciona o conceito do envólucro da casa, dependendo da situação, os painéis fixos podem se transformar em planos móveis pivotantes, como os tampões de madeira que escureciam e protegiam as casas de antigamente.
Esse importante aspecto sócio cultural, a forma de apropriação do espaço pelo usuário, busca flexibilizar o uso da habitação, que pode se fechar ou se abrir mais para o espaço externo de acordo com a situação, por exemplo – mais fechado num dia de muita chuva ou bem aberta quando há brisa.
Materiais / Soluções técnicas
O uso do material também é uma forma de aproximar as questões de identidade com as questões de viabilidade. Para habitação popular, é necessário que ela seja sustentável e eficiente em termos funcionais e de durabilidade, evitando a sua degradação e conseqüentemente a péssima imagem que nos remetem outros projetos de conjuntos populares que apenas consideram a questão “custo” sem critérios coerentes ou opções demasiado alternativas. A escolha do aço na estrutura e revestimentos exteriores, possibilita uma execução rápida com o uso de materiais que não absorvem umidade do ambiente.
Na mesma lógica, o material proposto para o fechamento interno do esqueleto é a chapa de madeira de reflorestamento (compensado), assim como também um mobiliário básico para o conjunto. A intenção é o uso da madeira de forma ecologicamente correta, usufruindo do seu toque, do seu valor cultural e material.
Além da proposta base, nada impede que diferentes aplicações de materiais o modifiquem de acordo com a necessidade de implantação, assim como também ocorrem variações quando a unidade se multiplica formando pequenos conjuntos dinâmicos.
A linguagem utilizada é contemporânea, com toques de regionalismo. A própria estrutura pré-fabricada em aço remete aos antigos edifícios de estrutura em ferro que chegavam pelo porto de Manaus.
As imagem do porto, das casas abertas e descontraídas das populações de baixa renda nos inspiraram. A idéia de espaços pouco divididos, cheios de redes penduradas, de gente alegre, tudo isso nos leva a refletir sobre o modo de vida do habitante do Amazonas e suas casas diretamente conectadas com o espaço exterior e com a natureza.
A casa enquanto unidade, tem um partido simples e linear, que se abre na zona central para uma varanda e pátio. Estes módulos, estão dispostos de modo a evitar a insolação direta Leste/Oeste, voltando as maiores fachadas para Norte e Sul.
A ventilação cruzada é uma das prioridades para o clima quente e úmido, por isso, entradas e saídas de ar estão dispostas em locais estratégicos de nos ambientes, além do estar central, que pode se abrir quase que por completo. A proteção solar também é primordial para amenizar elevadas temperaturas no interior da casa, sendo a cobertura verde, brises e tramados de madeira as soluções adotadas.
O aproveitamento racional dos recursos naturais, como aproveitamento da água da chuva está previsto no projeto com um pequeno reservatório para o sanitário e outros usos que não necessitem água potável tratada, como a caixa de descarga.
A questão do esgoto doméstico pode ser solucionada parcialmente com uso de fossa séptica bem posicionada para unidades isoladas, sendo possível a previsão de uma pequena estação de tratamento na implantação de maior número de unidades.
ficha técnica
Autores
Cristiano Lindenmeyer Kunze, Nathalia Cantergiani Fagundes de Oliveira
Escritório
Espaço Sideral – arquitetura atômica
Colaboradora
Roberta Frichenbruder, estudante de arquitetura