Transformação da favela em bairro
Uma área degradada
O enfrentamento das inúmeras ocupações urbanas periféricas existentes nas metrópoles brasileiras, e a necessidade urgente de uma proposta viável motivaram e nortearam a escolha de uma área no bairro União de Vila Nova – parte do Parque Ecológico do Tietê – na Zona Leste do município de São Paulo.
Trata-se de uma antiga várzea do Rio Tietê que, após sua retificação, sofreu sucessivos aterros ao longo dos últimos 30 anos, tendo sido ocupada irregularmente por mais de 15 anos.
Com o objetivo de permitir ações de urbanização e recuperação ambiental para a regularização dos assentamentos, esta área foi dada em permissão de uso à CDHU, e pelo novo Plano Diretor do Município de São Paulo foi classificada como ZEIS – Zona Especial de Interesse Social.
Plano Diretor do Município de São Paulo foi classificada como ZEIS – Zona Especial de Interesse Social.
Como transformar
A partir desses dados, é proposta uma solução que, disseminando-se ao longo do tempo, pudesse influenciar o tecido urbano promovendo a sua renovação.
Sendo a área densamente urbanizada e parcelada (em sua maioria, lotes de 6,50m x 11m), houve a preocupação de se desenvolver um módulo habitacional que pudesse ser instalado nos lotes sem grandes alterações na estrutura existente e que ao mesmo tempo mantivesse diálogo constante com o entorno.
A habitação de baixo custo proposta será construída a partir da simples montagem de componentes leves e industrializados, num sistema desmontável e adaptável a vários tipos de terreno e famílias. O nível de qualidade da unidade habitacional certamente será elevado com a composição de espaços variados, flexíveis e ampliáveis.
A vital importância de um suporte financeiro
Esta proposta apresenta soluções em vários níveis, que vão desde a aquisição e/ou requalificação da habitação individual promovida pelo morador, passando por agrupamentos de habitações que podem ser organizados a partir de cooperativas, até a execução de conjuntos habitacionais com prédios de até 4 andares, produzidos pela iniciativa pública, em parceria ou não com a iniciativa privada.
Para todas as situações há possibilidades de incentivo e financiamento. No primeiro caso, a Carta de Crédito Associativo Recursos FGTS Individual, o PSH – Programa Subsídios à Habitação de Interesse Social Conjugada com Programa Carta de Crédito FGTS, ou a Carta de Crédito FAT Habitação – Individual – SFI – Sistema de Financiamento Imobiliário, podem ser aplicados dependendo da renda dos moradores.
Já a construção de conjuntos habitacionais ou de prédios de até quatro andares, seria assistida pelos programas PAR – Programa de Arrendamento Residencial – Aquisição e Produção de Empreendimento / Arrendamento Residencial, desenvolvido pela iniciativa privada ou Programa Pró-Moradia, desenvolvido pelo poder público.
O suporte financeiro para iniciativas individuais poderá proporcionar a disseminação do sistema pelo bairro, como exemplo a ser seguido e repetido, porém de forma personalizada, dimensionado e adequado às necessidades de cada família.
A madeira como estrutura
A madeira utilizada na estrutura – Eucalipto Citriodora – será de reflorestamento (resistência C60, maior classe de resistência das madeiras), laminada e colada no sentido das fibras para obtenção de peças com dimensão e comportamento estrutural uniformes, com melhor desempenho quando submetidas à tração, à compressão e ao momento fletor.
A opção pelo uso de estruturas de madeira apóia-se não somente na possibilidade de um ciclo produtivo altamente sustentável, utilizando materiais renováveis e de baixo consumo energético, mas busca ao mesmo tempo, derrubar o preconceito que restringe o uso desse material na habitação popular, inserindo-o como elemento de qualificação.
Dimensionada corretamente, apresenta maior resistência ao fogo do que estruturas de aço projetadas para suportar a mesma carga, por se queimarem mais lentamente e resistirem à penetração do calor, ao contrário do aço que entra em colapso. O avanço da combustão na madeira laminada colada é muito lento, em torno de 0,6 mm/mi.
Segundo Szücs, a aplicação da madeira tem um potencial enorme e será destaque na construção civil, “A madeira ganhará competitividade, não só pela redução dos custos de produção, mas pela necessidade de preservar o meio ambiente”.
ficha técnica
Autores
Bruno Silva Balthazar, Maria Izilda Donato da Silva e Renata Davi da Silva
Instituição
FAUUSP
Prof. Orientador
Antônio Carlos Barossi
Colaboradores
Alexander Yamamoto e Renato Stockler