Entendemos Educação como uma atividade social que requer da arquitetura espaços que favoreçam o encontro, a convivência, a comunicação e a troca.
Lugar
Junto à Represa Billings, a área de topografia variada, densamente vegetada e permeada por nascentes e cursos d’águas, oferece ao novo Campus da Unifesp uma rara condição natural. Em Diadema, município de dimensões territoriais reduzidas, de grande ocupação e altamente populado, essa condição se evidencia e se exacerba. Assim, independente das imposições legais, nos parece decorrente a prerrogativa de manter preservada a maior parte possível dessa vegetação. Essa prerrogativa nos conduz a um projeto extrovertido, que reitere sua condição social e pública, absorvendo em seus espaços a magnitude do ambiente natural.
Fase 1
Dois platôs e uma ponte
Ocupa-se uma faixa contínua das áreas a Nordeste da Gleba A1. São definidos dois platôs que, interligados por uma Ponte de Pedestres, respeitam a geografia do lugar.
Percurso linear
Propomos um grande eixo de circulação que estrutura a ocupação. Esse Percurso Linear, gerador de acontecimentos e regulador da paisagem, conecta e distribui seqüencialmente os edifícios e as atividades do Campus Universitário - tanto os da Fase 1 de projeto, quanto os da futura Fase 2.
Uma seqüência de espaços
Faceando o braço da Represa Billings, uma rampa generosa, entremeada por escadas e patamares, recebe e conduz os pedestres à Praça da Reitoria (platô cota 771.00). Nessa praça de recebimento dos fluxos urbanos se encontra o Edifício Administrativo.
Uma Ponte de Pedestres une, em nível, o platô da Praça da Reitoria ao Complexo de Ensino e Pesquisa, ao platô seqüente, também à cota 771.00. Sobrepassando a faixa não edificante do curso d’água (entre a depressão que separa os dois platôs), a Ponte de Pedestres se debruça às vistas da represa. Sem apoiar-se sobre os limites da APP, preserva e mantém intacta a exuberante vegetação.
Na seqüência do percurso pela Ponte de Pedestres, o Complexo de Ensino e Pesquisa concentra as atividades acadêmicas do Campus. As Salas de Aula e os Laboratórios, em três corpos distintos, se lançam sobre os desníveis do terreno natural absorvendo em seus espaços a vegetação e as perspectivas visuais da represa e do entorno. Tocando no solo apenas nos pontos de apoio dos pilares, esses edifícios não maculam a continuidade da mata nativa configurada.
Estruturadas ao longo de uma Rua de Convivência coberta, as áreas de Docentes e os Espaços Culturais e de Apoio Acadêmico completam esse conjunto. As cantinas em um grande Deck de Convivência sob os pilotis dos edifícios de Ensino e Pesquisa, criam espaços dinâmicos de encontro.
Na continuidade do Percurso Linear, uma Praça de Eventos, ampla e agregadora, recebe o público conduzido pelo transporte coletivo que chega ao Campus.
Acesso veículos
O percurso de veículos ao Campus se apropria de parte do atual traçado da via de circulação interna das glebas, reduzindo o impacto causado pelo desmatamento e movimento de terra. Oferecido a ônibus e vans de fretamento, esse acesso também conduz a dois estacionamentos restritos a veículos de serviço e passeio autorizados.
Fase 2
Os edifícios da Fase 2 se dispõe na continuidade do Percurso Linear. Esse percurso, reafirmado como o grande eixo estruturador das atividades e acontecimentos, distribui seqüencialmente os Restaurantes, o Ginásio de Esportes, as áreas para futuras Unidades de Ensino e Pesquisa, o Centro Poliesportivo e as Atividades Náuticas.
Reverenciando a presença da Represa Billings, o Percurso Linear se conclui avançado como píer sobre a placidez de suas águas.
Conexão das glebas
A Gleba B se apresenta dissociada das Glebas A1 e A2 pelo entroncamento da Avenida dos Pereiras com a Estrada do Alvarenga. A rotatória projetada como receptora da futura ligação com a Rodovia dos Imigrantes reforça essa condição.
Propomos adequar o traçado da futura rotatória de modo a permitir a criação de um amplo Passeio Urbano. Uma passarela simples sobre a Avenida dos Pereiras viabiliza a livre circulação de pedestres da Gleba B para esse espaço público e, conseqüentemente, para o Campus Universitário.
Espaços e edifícios
Rampa de acesso
Receptora dos fluxos urbanos, estabelece com a cidade uma relação franca, direta e fruitiva.
Praça da Reitoria
Espaço de recebimento e de atividades cívicas. Uma cantina, voltada para a praça, estimula o encontro e reforça a convivência.
Edifício Administrativo
Primeiro edifício do Campus. Sua localização destacada pelos espaços da praça, não intimida o acesso por parte de qualquer usuário do Campus.
Respeitando os aclives do terreno natural distribui seus espaços em dois pavimentos. No primeiro pavimento concentram-se os setores do Departamento de Coordenação Administrativa e as salas da Associação dos Docentes e Sindicato dos Funcionários, enquanto que no segundo pavimento, são distribuídas a Reitoria, a Vice-Reitoria e as Salas de Reunião que, envoltas por jardins, abrem-se às vistas da paisagem circundante.
Destacado e visível da Estrada do Alvarenga, o edifício tem suas condições de conforto garantidas por brises em malha metálica de sombreamento, reforçados por um sistema contínuo de pérgulas sobre sua cobertura.
Ponte de ligação
A Ponte de Ligação, mais que conectar platôs e conduzir os fluxos, é um belveder em meio à mata natural.
Complexo de Ensino e Pesquisa
Como coração das atividades do Campus, cinco edifícios, unidos pela cobertura transparente e ventilada da Rua de Convivência, se interligam por planos e passarelas. Abrigam as Salas de Aula, Laboratórios de Ensino, Laboratórios de Pesquisa, Salas para Docentes e Alunos, Anfiteatros, Midiateca, Coordenação Acadêmica, Centro Acadêmico, Ambulatório, Lojas, Deck de Convivência e Cantinas. Acessos individuais controlados garantem a privacidade, a autonomia e a segurança de cada um desses espaços.
Rua de convivência
Como parte do Percurso Linear, em rua aberta e coberta, congrega e distribui as atividades do Complexo de Ensino e Pesquisa.
Salas de aula e laboratórios de ensino
Em edifícios distintos, se acomodam sobre os declives naturais do terreno. Têm circulações voltadas para a massa de vegetação que invade seus espaços, assim como, Passarelas de Encontro que estimulam o convívio. Passarelas de Ligação entre os edifícios dinamizam seus usos por parte dos alunos de qualquer unidade de ensino.
As janelas das salas e laboratórios se compõem por um conjunto contínuo de caixilhos protegidos por brises em malha metálica fixados nos pilares periféricos. Esses brises, que filtram a luz necessária ao desenvolvimento de suas atividades, garantem adequada condição ambiental interna.
Em cada edifício, uma cobertura metálica, com sheds transparentes, ventilados e aliados a uma composição de pérgulas, configura, juntamente com a cobertura da Rua de Convivência, um sistema único de proteção.
Laboratórios de pesquisa
Como uma caixa metálica, esse edifício, que também se projeta em pilotis sobre o terreno natural, é marcado por aberturas horizontais contínuas que regulam a entrada de luz. A restrição de seu uso se dá por meio do controle dos acessos
Docentes, Coordenação Acadêmica, Centro Acadêmico, Ambulatório e Lojas
Edifício paralelo e com imediata relação com a Rua de Convivência. No pavimentos superior, as Salas dos Docentes e Pesquisadores se dispõem próximas dos Laboratórios de Ensino e Pesquisa, enquanto as demais atividades se concentram no pavimento térreo, frontais aos espaços de circulação. A leveza do térreo envidraçado se contrapõe ao fechamento metálico que envolve o primeiro pavimento.
Deck de convivência e cantinas
Uma grande escadaria conduz o público da Rua de Convivência para esse deck sob o edifício das Salas de Aula e Laboratórios de Ensino. Como espaços lúdicos de alimentação e encontro, o Deck de Convivência e as Cantinas, com vistas para a Represa Billings, dispõem-se em meio à massa arbórea.
Anfiteatros e Midiateca
No térreo desse edifício aquadradado, os Anfiteatros acompanham os desníveis naturais do terreno. O foyer único desses Anfiteatros pode também ser utilizado como local para exposições. No pavimento superior a Midiateca, com três de suas faces abertas para a mata, se conecta por passarelas às Salas de Aula e dos Docentes.
Praça de eventos
Contando com um palco ao ar livre, essa grande ágora é espaço capaz de abrigar eventos aglomeradores. Receptora dos usuários que chegam através de ônibus e vans fretados, será, também, a grande “rótula” para onde se abrirão os Restaurantes e o Ginásio de Esportes, previstos para uma futura Fase 2.
Estacionamentos
Os estacionamentos, de acesso restrito a veículos de serviço e de passeio autorizados, distribuem-se em subsolos sob a Rua de Convivência e a Praça da Reitoria. Estando sob espaços construídos que já interferem no terreno natural, causam menor impacto ambiental que se fossem distribuídos em bolsões externos pavimentados. A critério da Unifesp, poderão ser redimensionados ou suprimidos, sem interferir nas arquiteturas propostas.
Modulação e Sistemas
Ordenado por uma malha modular 1,20x1,20m e seus múltiplos e sub-múltiplos, os edifícios expressam uma técnica estrutural que flexibiliza os espaços e otimiza sua execução.
Um sistema de pilares e vigas metálicos, estruturando lajes mistas tipo “steel deck”, proporciona rapidez na execução com baixo impacto no canteiro.
A Ponte de Ligação, em treliças metálicas apoiadas em pilares em “V”, tem seus vãos vencidos entre os engastes nos platôs, com apenas dois pontos de apoio no solo.
Otimizando o processo de produção e montagem, propõe-se, como vedação, painéis de concreto pré-moldado, painéis metálicos de secção trapezoidal e caixilhos em alumínio protegidos por brises metálicos, quando necessário.
Sombreamentos
São propostos sistemas de sombreamento para os edifícios e seus ambientes. Brises em malha de aço e coberturas com sheds transparentes e ventilados (aliados a uma composição de pérgulas), assim como a livre e cruzada circulação de ar, proporcionam em todos os edifícios, boas condições de conforto com consumo mínimo de energia elétrica.
O emprego de equipamentos artificiais de iluminação e de condicionamento, utilizados dentro de suas necessidades mínimas e imprescindíveis, reduz os custos e aproxima os limites entre os espaços edificados e o ambiente natural.
Baixo impacto de intervenção
Como intervenção de baixo impacto ambiental, o projeto respeita as condições naturais do lugar – acidentes topográficos, vegetação e cursos d’água.
Na 1ª Fase de implantação, as áreas ocupadas pelos edifícios, circulações e praças de convivência correspondem a 10,80% do total das Glebas A1 e A2. Como parte de seus edifícios se encontram sobre pilotis (que preserva o terreno natural), atinge-se taxa de permeabilidade de 90,65%.
Considerando o estudo de massas para os edifícios e circulações da Fase 2, obtém-se uma ocupação total aproximada de 16%, com taxa de permeabilidade de 85%.
ficha técnica
Autores
Lilian Dal PianRenato Dal Pian
Colaboradores
Oliver Scheepmaker; Ricardo Canton; Leonardo Gomes; Rodrigo Kim; Filomena Piscoletta