Memória
O bairro do Barreto, Niterói, foi um dos principais pólos industriais do município e abrigava várias fábricas de maior ou menor porte: têxteis, saponáceos, fósforos, formicidas, ladrilhos e olarias, além de um expressivo centro comercial. Nas décadas de 30 a 60, o bairro era ocupado em sua maioria por residências de operários que serviam a estas fábricas e também à indústria naval, então um dos pilares mais importantes da economia brasileira, mas abrigava também residências e serviços da classe média que giravam em torno desta economia. Com a falência ou migração da maioria das indústrias, provocada principalmente pela reformulação do perfil industrial brasileiro, que inviabilizou as pequenas e médias empresas, o bairro foi esvaziado, sofrendo um êxodo urbano e cultural, que acarretou uma forte degradação de sua paisagem urbana.
Hoje, o bairro do Barreto abriga novos estabelecimentos industriais, que lá se instalaram nas últimas décadas (refrigerantes, transporte, alimentação), mas a população ainda recorre ao comércio de outras áreas. Como atração, o bairro apresenta a quadra da escola de samba Unidos do Viradouro, freqüentada não só pelos habitantes de Niterói como pelos de outros municípios.
Encontramos no bairro diferentes formas de ocupação residencial e diversos tipos e portes de comércio, serviços e atividades industriais, decorrentes, em grande parte, de sua proximidade das margens da Baía de Guanabara e do entroncamento rodoviário na saída da Ponte Rio- Niterói. A presença de diferentes padrões de ocupação, formal e informal na região, além de refletir os diferentes momentos da economia do bairro, demarca a necessidade de um maior planejamento habitacional e urbano. Planejamento este que valorize a localização privilegiada do bairro e seja capaz de impulsionar o seu crescimento, e também, de provocar uma melhoria da paisagem urbana, proporcionando assim, uma melhor qualidade de vida para seus habitantes.
O terreno proposto para o projeto, com frente para a Rua Benjamin Constant, está situado em uma área com formas de ocupação residenciais bastante diversas. No entorno imediato, encontramos, em um dos lados, um condomínio residencial, e do outro, uma rua que dá acesso a uma ocupação espontânea (favela) que se desenvolve por esta lateral até o topo do Morro do Holofote. Além disto, a parte frontal da área do terreno já é ocupada por serviço público, o INSS, e, posterior a este edifício, há a presença de ruínas históricas de uma antiga fazenda.
Para a implantação do projeto habitacional, objeto dessa proposta, desmembramos o terreno em três áreas, definidas a partir da identificação das suas características físicas, da legislação e do contexto urbanístico.
Área de Uso Institucional
A área de frente para a Rua Benjamin Constant onde está situado o prédio hoje sub-utilizado pelo INSS, o qual poderá ser recuperado para abrigar também outras funções públicas, como, por exemplo. Posto de Saúde. Cursos profissionalizantes em parceria com escolas técnicas ou com o SENAI. Espaço para exposições itinerantes e permanente
(registro documental das ruínas da antiga fazenda que serão demolidas e da história do próprio bairro)
Área Residencial
Nessa área implantamos 137 unidades habitacionais, sendo 93 de dois quartos e 44 de três quartos, com acesso e estacionamento para 84 automóveis e um caminho alternativo de pedestres que atravessa o terreno passando por pequenas praças e espaços de lazer ativo e passivo.
Área de Recuperação Ambiental
Para a área de terreno acima da cota 35 até a cota 50 projetamos terraços que funcionarão como prevenção contra a erosão e serão utilizados para agricultura urbana, dentro da proposta de implantação de um curso profissionalizante de agricultura urbana e recuperação paisagística que poderão ser instalados no prédio de uso público (INSS). A área acima da cota 50 será destinada à recuperação ambiental e paisagística devendo conter a expansão da favela já instalada. A área ocupada pela favela deverá ser contemplada com projeto específico de melhorias e inserção urbana. Sem pretender propor uma solução fácil para a integração entre assentamentos de diferentes níveis sociais, abrimos, através do projeto / escola de agricultura urbana e de recuperação ambiental e paisagística, uma janela para a utopia. A contenção da expansão da favela poderá ter como contrapartida a utilização conjunta desses espaços produtivos, educacionais e recreativos.
A implantação da área residencial
A implantação da área residencial objeto dessa proposta ocupa uma área de 14.000,00 m2, a ser desmembrada da área total, cujo acesso se dá através da área de uso público.
O arruamento projetado proporciona o acesso de veículos de serviço e dos moradores e visitantes aos estacionamentos localizados de forma a atender aos blocos de apartamentos.
Desenvolvemos a circulação entre os diferentes blocos de forma a utilizar a declividade do terreno para proporcionar um fácil acesso aos apartamentos, ora pela rua, ora pelos caminhos de pedestres projetados. Ainda visando melhorar a acessibilidade projetamos os blocos de dois quartos com um apartamento no piso térreo e sobre ele dois apartamentos tipo duplex, de forma que se possa chegar aos apartamentos subindo apenas meio lance de escadas. Adotamos o mesmo conceito para os blocos de apartamentos de três quartos, superpondo dois apartamentos duplex, totalizando quatro pavimentos, cujo acesso se dá por apenas dois lances de escadas desde o pavimento térreo e por passarelas curtas que se abrem para a paisagem.
Considerando a possibilidade de uma maior integração dos assentamentos vizinhos projetamos o traçado das ruas de modo que possam vir a promover a continuidade do sistema viário local, ou proporcionar essa integração através da criação de amplas escadas de acordo com o perfil do terreno.
A orientação da maioria das habitações privilegia a vista ampla da Baía de Guanabara. Nessas fachadas projetamos esquadrias e balcões de forma a reduzir a insolação nos ambientes internos. As plantas dos apartamentos são auto explicativas, nelas procuramos dimensionar os ambientes de estar proporcionais ao número de quartos das habitações.
A escala dos blocos de apartamentos projetados e as circulações independentes conferem às unidades habitacionais projetadas uma tipologia entre o apartamento e a casa individual.
As cozinhas dos apartamentos permitem uma maior ou menor integração com a sala de comer e estar, visando uma maior flexibilidade no atendimento a forma de viver dos futuros moradores.
ficha técnica
Localização
Rua Benjamim Constant, n.º 350 – Barreto, Niterói, RJ
Área terreno
36.357,00 m2 (a ser desmembrada)
Programa adotado
PAR