O Lugar
O terreno selecionado situa-se no Bairro de Campo Grande, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Apresenta as maiores temperaturas aferidas na cidade e, por estar localizado num vale, possui baixa circulação de ar e dificuldade de escoamento das águas pluviais.
O bairro é de origem rural, entretanto a expansão da cidade nas últimas décadas promoveu seu crescimento e resultou num lugar com estrutura urbana essencialmente residencial. Como na maioria dos bairros residenciais do subúrbio carioca, Campo Grande caracteriza-se pelo convívio estreito entre moradores, que se apropriam da rua como o lugar de encontro.
O terreno localiza-se na Estrada Professor Daltro Santos, Lote 54; porém, encontra-se parcialmente escondido atrás do Lote 53, impedindo a visualização de toda sua extensão. O local não é cercado nem possui pavimentação, e tem sido utilizado como via pública informal por pedestres e veículos. Para garantir o acesso já existente, optou-se por formalizar o uso público do terreno, considerando o movimento espontâneo identificado. Este aspecto proporciona uma maior interação entre o condomínio e seu entorno, diferenciando-se dos projetos de condomínios atuais cuja interação com o ambiente externo é a menor possível.
O Projeto
A implantação resultou em uma via pública principal (rua externa), quatro ruas com acessos independentes, e uma área de lazer que percorre toda a extensão do terreno. Nas ruas internas distribuem-se vinte blocos de três pavimentos, cada um com duas unidades residenciais.
O traçado remete o transeunte à uma seqüência de vilas que garante ao condomínio um ambiente propício ao convívio. Cada vila possui acesso independente e as ruas têm seu ponto de fuga em praças - espaços comuns que formam uma extensa área de lazer linear e conectam as vilas entre si.
A proposta para a implantação baseou-se principalmente nas características climáticas do local, e, por conta disso, o percurso solar foi imprescindível para determinar a forma e a funcionalidade do condomínio. Desta maneira, os blocos cujas fachadas são dispostas em degrau, promovem uma melhor ambientação das unidades por aproveitar a insolação e ventilação local. A setorização dos ambientes também foi definida com base no percurso solar, com as áreas de serviço projetadas para o norte, recebendo maior incidência do sol e conseqüentemente permitindo áreas sociais mais agradáveis.
O projeto considerou dois aspectos em sua concepção: possibilitar a integração entre as unidades com a proposta de áreas de serviço comuns; e também atender a eventuais portadores de deficiência, otimizando os espaços sem, no entanto, exceder a metragem definida pelo programa.
Diretrizes de Sustentabilidade
A grande maioria das cidades se caracteriza por um quadro ambiental precário, no qual o uso irresponsável dos recursos ambientais implica uma ameaça gradativa à qualidade de vida tanto local quanto globalmente.
Apesar do meio ambiente normalmente ser considerado na etapa do planejamento urbano, de uma forma geral, o viés da sustentabilidade não é aplicado nas propostas de edificação e infra-estrutura. Ou seja, o setor da construção civil, além de ser extremamente poluente e intensivo no consumo de recursos naturais, pouco tem se comprometido com o uso de materiais de menor impacto ao meio ambiente ou o uso racional de água e energia.
Entretanto, algumas medidas simples poderiam ser adotadas para conciliarmeio ambiente, sustentabilidade e economia, os três pilares que fundamentaram a elaboração e desenvolvimento do projeto apresentado. De acordo com esta perspectiva, os seguintes aspectos foram considerados: estudo solar do terreno; pavimentação semipermeável; uso consciente da água (aproveitamento das águas pluviais e reciclagem das águas cinzas); uso eficiente de energia (aquecedor solar e iluminação natural); e uso de materiais de construção com baixo impacto ambiental, como o tijolo de solo-cimento.
Vale ressaltar que as medidas de sustentabilidade adotadas visaram também às reduções de emissões de gases de efeito estufa (GEE) associadas ao projeto, o que se justifica pela relevância que este tema tem assumido na agenda ambiental global, levando inclusive a criação de um mercado mundial para comercialização de créditos de redução de emissões: o mercado de carbono.
No cenário atual de responsabilidade global para a redução de emissões de GEE, o setor da construção civil pode contribuir com projetos inovadores, como por exemplo, a implantação de soluções arquitetônicas que privilegiem a eficiência energética e o uso de materiais menos intensivos na emissão de carbono. Tais projetos, além de reduzirem o impacto ambiental do setor, podem ser beneficiados pela comercialização dos créditos de carbono.
Desta forma, o proponente de um projeto como o que se apresenta pode se beneficiar dos créditos de redução de emissão, tanto para a neutralização das emissões associadas às suas atividades operacionais como para a comercialização dos mesmos, atraindo recursos financeiros para o projeto.
ficha técnica
Autoras do Projeto
Arq. Cristiane Aguiar
Arq. Graziella Vanzan
Arq. Paula Assumpção
Arq. Karina Condeixa
Consultor sobre Mercado de Carbono e Adaptação às Mudanças Climáticas
Marcelo Aguiar