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PORTAL VITRUVIUS. 4º Prêmio Nacional de Pré-Fabricados de Concreto para Estudantes de Arquitetura 2005. Projetos, São Paulo, ano 07, n. 078.01, Vitruvius, jun. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/07.078/2799>.


Operação Urbana

Usos únicos de grandes proporções nas cidades, têm entre si a característica de formarem fronteiras e zonas de fronteiras, como acontece na Brás, e que geralmente criam bairros decadentes.

As linhas férreas são um exemplo clássico de fronteira, e seu problema basicamente é a formação de becos sem saída para a maioria das pessoas que utilizam as ruas. Elas são literalmente barreiras, de um uso diversificado, e está fadada a ser um lugar morto, com poucos freqüentadores. Essas fronteiras não conseguem gerar uma circulação normal de pessoas que transitam para além delas, em sua direção, porque poucas se dirigem para esse Além, e até as eventuais passarelas que a cruzam se tornam perigosas.

As linhas férreas impedem a interação de usos de ambos os lados.

Este projeto de revitalização tem por objetivo costurar novamente a tessitura, esse retalho da cidade, na trama urbana e, ao mesmo tempo, fortalecer toda a trama ao redor. Consegue-se essa reintegração na estrutura urbana ao cobrir este trecho da linha férrea, em frente ao “Mercadão do Brás”, permitindo que a cidade continue por sob ela. No futuro as pessoas pensarão que se cavou um túnel para a passagem do metrô, sem que se interrompesse a continuidade do espaço público.

Um conjunto habitacional é locado na nova área criada, para completar a operação urbana, e recuperar a área como um todo. O propósito geral é introduzir novos usos que não o industrial e comercial existentes ali. Porque a falta de usos combinados suficientes é exatamente uma das causas da monotonia, do perigo e da falta de comodidade. Isso significa, entre outras coisas que os moradores permanecerão ali por livre escolha. Isso quer dizer que propiciarão lugares seguros e viáveis para a vida urbana. Criam-se personagens públicas informais, espaços públicos vivos, bem vigiados e usados com constância, acompanhamento fácil e natural das crianças e inter-relação de usos com as pessoas de fora. Em resumo, na sua reintegração à estrutura urbana, esse projeto adquiri as virtudes de uma estrutura urbana sadia.

As novas ruas projetadas neste novo território, são ruas verdadeiras, de passagem e permanência. Essas ruas internas do terreno formam quadras pequenas com cotovelos e interseções em T. A localização dessas novas ruas é influenciada por duas considerações físicas principais: ligar as ruas perpendiculares ao terreno, já que a meta fundamental é integrar esse local ao que está à sua volta, aos elementos fixos e imutáveis do local e que sejam ao mesmo tempo retas, com traçado formando uma malha regular dentro do terreno.

A rua deve ser concebida como o que deve ter sido originalmente, ou seja, um lugar onde o contato social entre os moradores pode ser estabelecido: como uma sala de estar comunitária. E o conceito de que as relações sociais podem até ser estimuladas pela aplicação eficiente de recursos arquitetônicos.
A prosperidade crescente parece ter estimulado o individualismo, quanto melhores as condições econômicas das pessoas, menos elas necessitam dos vizinhos, e tendem a fazer menos coisas juntas.
Devemos tentar lidar com esses fatores – ainda que o arquiteto seja incapaz de fazer mais do que exercer uma influência incidental nos aspectos fundamentais de mudança social.

Herman Hertzberger - Lições de arquitetura

O partido e a implantação

Ao contrario do que se tem sido construído em nosso país no campo da habitação popular, esse projeto tem como premissa específica oferecer alternativas qualificadas para a unidade de moradia, para o conjunto habitacional e para a cidade de São Paulo.

A implantação reedita a topografia existente, uma vez que agora se passa por cima da linha férrea, definindo através da movimentação simples de corte e aterro nova geometria para os platôs. Do platô mais elevado, é de onde surgem as edificações, que se projetam em direção a rua. Neste platô foram implantadas áreas de lazer privativas, integradas com o pavimento superior, que abriga um extenso avarandado para festas, reuniões e atividades coletivas.  Neste conjunto habitacional decidimos por uma estratégia horizontal, fazendo os edifícios baixos, garante-se que o maior número possível de moradias estejam direta e intimamente relacionadas com o chão e com os jardins. E ainda possuindo uma vantagem particular a respeito da vigilância das crianças, que podem ser supervisionadas das janelas dos apartamentos.

Os blocos edificados se implantam perpendicularmente às ruas, demarcando enfaticamente o caráter semipúblico de passagem entre ambas as ruas. Assim, configura-se em seu interior uma seqüência de pátios arborizados, controlados visualmente pelas janelas e pelas circulações avarandadas de acesso aos apartamentos. Essa estratégia evita a ruptura drástica entre o espaço público da rua e o interior privado do edifício, evitando a segregação dos seus moradores e estimulando a interação social com os habitantes do entorno imediato. A soleira, à frente dos apartamentos do nível térreo, fornece a chave para resolver a transição e a conexão ente áreas de ordens diferentes, o encontro e a reconciliação entre rua, de um lado, e o domínio privado, de outro. Essas “ruas internas” permitem ainda acomodar os estacionamentos e estimulam a apropriação livre dos usuários ao demarcar territórios diferenciados.

Os corredores dos edifícios de baixa renda, que geralmente tem muitos andares, são como os corredores que aparecem em pesadelos: pessimamente iluminados, estreitos, malcheirosos e cegos. Parecem arapucas, e são, como os elevadores que levam a eles.” Para resolver problemas como o citado acima por Jane Jacobs, em Morte e vida de grandes cidades, foi projetado circulações verticais e horizontais abertas e avarandadas, que além de garantirem boa iluminação, ventilação e visadas, ainda possuem espaços de permanência e intervalos para entrada nos apartamentos.

A fim de reduzir o impacto da poluição sonora decorrente do trânsito do viaduto, foi projetada uma grande área arborizada que define uma barreira para as áreas internas. Distanciou-se a área edificada da fonte de ruído, o que minimiza o impacto e viabiliza a configuração de espaços habitáveis, mesmo estando próximo a um grande corredor de trânsito.

O partido arquitetônico proposto, que define extensos volumes lineares perpendiculares às ruas, marcando de modo rigoroso a sua modulação construtiva, assegura uma unidade arquitetônica. Há uma síntese entre urdidura e trama, em que a superestrutura conforma o edifício na paisagem, determina sua implantação e a relação entre áreas públicas e privadas, assegurando a sua qualificação urbana, enquanto a livre apropriação revela a diversidade e a variedade em uma síntese entre a ordem geral de ordenação do território e as necessidades da vida cotidiana.

As unidades habitacionais

Em virtude da concentração das áreas molhadas no interior da unidade habitacional, os demais espaços, como áreas sociais e privativas, se locam na extremidade do pavilhão. Este arranjo interno típico, amplia a iluminação e ventilação naturais da unidade, favorecendo a ventilação cruzada e a abertura visual para o exterior. Nos blocos hidráulicos centrais que concentram, cozinha, banheiro e área de serviço, a exaustão de gases é feita mecanicamente e escapa pelo shaft central.

Os pavimentos internos da unidade de moradia estão sempre a meio nível um do outro, o que define várias relações de privacidade, e tornam a locomoção vertical dentro do apartamento notoriamente mais fácil e agradável. Sempre no pavimento de entrada, encontra-se a porção social, com sala, copa e cozinha. Meio nível acima, encontra-se o banheiro e o primeiro quarto, provavelmente o quarto do casal. Mais meio nível a cima, tem-se a área de serviço e o segundo quarto, possivelmente o dos filhos.

O programa de financiamento

A fim de atender aos requisitos mínimos definidos pela Caixa Econômica Federal para que os apartamentos possam ser construídos e comercializados através da composição dos Programas PAR (programa de Arrendamento Residencial) e Carta de Crédito associativo Recursos FGTS Individual, que permitem financiamento de até R$ 72.000,00, desde que se localizem na malha urbana e sejam dotados de vias de acesso, abastecimento de água, energia elétrica e esgoto pluvial e sanitário. O PAR é prioritariamente utilizado nos grandes centros urbanos e admite a construção de 500 unidades habitacionais cuja área útil mínima seja de 37 m². Portanto a conformação das unidades nesta tipologia, tem área de 50,60 m²  e possuem custo aproximado entre R$ 32.000,00 a R$ 38.000,00.

A pré-fabricação

O sistema de pré-fabricação é um modelo de industrialização da construção que permite construir sem desperdício de materiais e mão-de-obra; sem formas, escoramentos e andaimes; com controle e garantia de qualidade; sem atraso e com redução do prazo de entrega da obra pronta, com antecipação do retorno do investimento.

Neste empreendimento o conjunto de peças pré-fabricadas de concreto armado, é composto de blocos de fundação, pilares, vigas, lajes, painéis de vedação e blocos hidráulicos. Devido à capacidade das peças padronizadas de se associarem umas as outras, permite grande flexibilidade de implantação, com um esquema estrutural da maior simplicidade. No projeto, a organização do espaço arquitetônico desenvolve-se sobre uma base modular, dentro do melhor desempenho estrutural dos elementos envolvidos, com uma grande repetição de elementos iguais.

Fundações: A estrutura começa, naturalmente, pelas fundações, que são posicionadas diretamente sobre o terreno do fundo da cava ou sobre estacas. O pilar se encaixa no nicho engastando-se no bloco, com a concretagem da folga. De acordo com as cargas dos pilares e as condições do terreno indicadas pela sondagem, os blocos de fundação são empregados com sucesso, especialmente quanto aos prazos. Vigas retangulares funcionam como vigas baldrame. Elas apóiam se no colarinho do bloco, vinculando-se a este pela concretagem das pontas de ferro existentes em suas extremidades e as esperas engastadas na chumbação do pilar.

Pilares: Os pilares incorporam um tubo de PVC, como condutor de águas pluviais captadas pela cobertura e lançados, por ligação no pé do pilar, na rede subterrânea. Além de o topo servir de apoio natural às vigas, estas podem apoiar-se em qualquer altura do pilar através de consolos previstos no projeto e incorporados na produção. Os consolos conferem aos pilares a capacidade de associação no conjunto da estrutura. Há sempre sobre a superfície de apoio do pilar uma placa de elastômero (Neoprene) de dureza Shore 60 e ferros de espera que se encaixam nos furos deixados nas extremidades das vigas, nas posições correspondentes e que são chumbados após a montagem.

Vigas: Completando a definição do esquema estrutural, são utilizadas vigas de concreto armado com perfil retangular padronizado. Elas possuem alças e furos para içamento e montagem no topo e nos consolos dos pilares.

Painéis de vedação de G.F.R.C.: são as iniciais da designação em inglês Glass Fiber Reinforced Concrete, ou Concreto Reforçado com Fibras de Vidro. São produzidas por encomenda para este projeto. Com escala minimizada, são de fácil execução e montagem, e confeccionadas em concreto simples reforçado com fibras sintéticas, sem armação. Possuem alívio de peso com interposição de isolante térmico no interior da peça.

Cada painel é constituído por duas lâminas de G.F.R.C., com 10 mm de espessura e ligadas entre si por uma manta de fibra de lã de vidro. Deste modo, obtêm-se um funcionamento homogêneo na compressão e na flexão das duas lâminas, garantindo-se um componente único e estável. Existem aberturas nas bordas dos painéis, bem como na manta interna de fibra de vidro, que garantem a ventilação e evitam o risco de condensações no seu interior, além de tensões provocadas pelo diferencial térmico entre o interior e o exterior. Deste modo, elimina-se totalmente o risco de aparecimento de fissuras no painel.

Com vista à redução dos custos de acabamento em obra, são executados em concreto colorido por intermédio da adição de pigmentos inorgânicos e estáveis, e com detalhamento orientado para incorporação dos caixilhos de esquadrias, já saindo da fábrica com o acabamento final.

Escadas: As escadas internas dos apartamentos são pré-fabricadas em concreto armado e apóiam na estrutura. São de dimensões padronizadas com peças já existentes no mercado. Constam de vigas suporte com encaixe para os degraus, que são solidarizados aos apoios através de parafusos.

Lajes e Vedações: Apesar das vantagens evidentes da pré-fabricação, ocorrem situações em que estas vantagens podem ser ampliadas com soluções mistas, combinando-se elementos pré-moldados e alvenaria in loco. Devido ao pequeno vão dos apartamentos (3,55m) são usadas lajes pré-moldadas, que se mostram economicamente mais viáveis. As vedações internas e entre as unidades habitacionais são produzidas de blocos de concreto celular autoclavado, por sua praticidade, leveza e simplicidade, que garantem conforto térmico-acústico e facilidade de instalação hidráulica e elétrica.

Coberturas leves: compostas por uma estrutura portante em perfil “C” metálico em formato padrão comercial dimensão nominal de 10x7cm formando uma grelha de 1,85x1,85m; e recoberta na parte superior por telha metálica.

Painel de Piso duplo T – DT80: Para se fazer a cobertura do vão do metrô, utiliza-se uma peça em concreto protendido, produzida pela PREMO, que funciona como laje quando disposta horizontalmente. Esta peça vence vãos de até 17,00m, tem largura de 2,50m e altura de 80cm. A altura se completa com um capeamento aderente de 5,0cm, sobre tela soldada conforme especificação. Toda esta cobertura apóia-se nas vigas VL-120, que possuem um apoio na parte inferior, para o recebimento do painel DT, visando reduzir deformações e redução da altura total do conjunto viga/painel.

Instalações hidráulicas e elétricas:

Como um dos mais importantes componentes da construção no que concerne ao custo são as instalações, sua racionalização e padronização, no caso de projetos de habitação social, é fundamental para a redução do custo final e a viabilização dos empreendimentos. E se mostra o elemento construtivo que mais carece de industrialização.

A definição das instalações hidráulicas visa a um só tempo racionalizar sua montagem e promover maior flexibilidade de uso das instalações. Em virtude de seu alto custo e do tempo de uso reduzido de cada equipamento, a solução de banheiro convencional, com as três peças – cuba, vaso e chuveiro – dispostas em um único compartimento, gera ociosidade no seu uso e prejudica o atendimento a todos os usuários. Com o objetivo de ampliar as possibilidades de uso simultâneo dos diversos equipamentos, bastante desejável para o caso de famílias mais numerosas, foi definido um núcleo hidráulico com compartimentos independentes para chuveiro e vaso, e com a pia no corredor externo de acesso. Articulados ao redor do shaft que concentra todas as prumadas, e reduzem os percursos de instalações, e a área molhada que demanda acabamentos de maior custo.

A distribuição de todas as instalações elétricas, de modo a ampliar sua padronização de fabricação, se concentra nos blocos pré-fabricados, reduzindo ao mínimo os pontos de energia nas alvenarias internas da unidade. Em apenas três situações, propõe-se a utilização de eletrodutos aparentes: no teto da sala e dos quartos, a fim de localizar no centro do ambiente um ponto de luz.

ficha técnica

Autor
Igor Macedo de Araújo

Colaboração
Débora Vieira Mendes de Oliveira

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Equipe premiada
Minas Gerais MG Brasil

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original: português

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Organização do Concurso
São Paulo SP Brasil

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