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PORTAL VITRUVIUS. 4º Prêmio Nacional de Pré-Fabricados de Concreto para Estudantes de Arquitetura 2005. Projetos, São Paulo, ano 07, n. 078.01, Vitruvius, jun. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/07.078/2799>.


A Proposta

O projeto aqui proposto é o de um Entreposto e Armazéns de estocagem e comercialização de frutas, verduras, legumes, pescados, plantas, entre outros produtos, de circuito de distribuição e consumo regional, com ênfase na construção em Sistemas Construtivos Pré-fabricados de Concreto.

O tema da pré-fabricação sugere e estimula o exercício da otimização do sistema construtivo como um todo. Por outro lado, sugere mesmo o rendimento máximo em variações modulares e que aconteçam dentro da premissa de coerência interestrutural. Possíveis e inusitados são os jogos e desenhos a partir do módulo, culminando mesmo com a sua subversão.

O Ceagesp

Dentre inúmeros exemplos de complexos arquitetônicos que realizam  essas funções – de forma diversa e especializada – o principal objeto de observação, reflexão e crítica que iniciou esta pesquisa foi a unidade CEAGESP – Vila Leopoldina; no caso, o entreposto terminal na cidade de São Paulo da rede paulista de armazenagem.

“O fluxo diário nos entrepostos é de cerca de 10 mil toneladas de frutas, legumes, pescados, grãos, farelos, produtos peletizados, açúcar e granel, plantas e cargas em containeres. Prolongando o Tempo de estocagem e emitindo warrants (1), a CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) acaba por regular os calendários de circulação das mercadorias Ela interfere, assim, tanto nos circuitos espaciais de produção quanto nos círculos de cooperação, uma vez que fornece os instrumentos materiais para armazenagem e os instrumentos financeiros para operações em bolsas e mercadorias” (2).

A unidade CEAGESP – Vila Leopoldina localiza-se na marginal pinheiros, via urbana de caráter regional e que faz ligação com as principais rodovias estaduais: Anhanguera, Bandeirantes, Castelo Branco, Raposo Tavares. As produções que confluem nestas rodovias variam de grandes produtoras e cooperativas (como a Cooperativa Agrícola de Cotia, a Coaceral e a Copermosa), às produções menores e diversificadas. É uma dinâmica complexa e fractal.

Sendo um empreendimento da década de 70 em diante – período expansionista das dinâmicas de Hardpower (3) Nacional –  atualmente este complexo funciona de forma saturada, refletindo problemas de logística e inchaço do transporte massivo urbano; e anômica, visto que a relação com a área que circunscreve seria a de um grande vazio urbano (em termos de significação coletiva e responsabilidade social) rodeado por uma periferia degradada (em termos de baixa expectativa de qualidade de vida).

Ora, este quadro reflete o caráter de um país – e conseqüentes regiões – subdesenvolvido industrializado: pela capacidade, por um lado, de suprir uma faixa de produtos industrializados de alto teor tecnológico (no caso, os profusos sistemas de automatização de produção agropecuária, em conjunto e contraste com pequenas produções artesanais, mas que podem assumir formas de grandes instância regularizadoras, como as cooperativas regionais) e, por outro lado, oferecer ao país bens de consumo ao mesmo tempo em que bens de capital.Tal paradigma reflete espacialmente com as conformações do atual terminal da Vila Leopoldina.

O Rodoanel

As saturações dos meios massivos de transporte metropolitano indicam a necessidade de novas articulações e sistemas da logística. Assim, o Rodoanel, conjunto de rodovias que circundam perifericamente a cidade de São Paulo,  têm por objetivo reduzir o tráfego nas principais vias meridianas urbanas: as marginais Tietê e Pinheiros. Principalmente o tráfego de caminhões, no qual o terminal funciona como pólo.

Por outro lado, surge nos últimos anos a especulação, por várias estâncias de atores urbanos, quanto da desativação do CEAGESP – Vila Leopoldina. Tal especulação, aqui vista como hipótese estratégica de planejamento urbano, articula essa desativação com a potencial reestruturação do complexo em setores do Rodoanel.

O Foco

À possibilidade de se perceber o Rodoanel como circuito altamente potencial de fluxos de bens de consumo soma-se à necessidade de desfragmentar centralidades oligárquicas e entrópicas. Essas possibilidades constituem  novas dinâmicas territoriais que, dentro do planejamento estratégico urbano-regional, significam criar novas centralidades, flexíveis e consistentes, que multipliquem o caráter polivalente e sinérgico, paradigma da cidade e realidade contemporânea.

Frente à descontinuidade do espaço e suas articulações cibernéticas através do alto teor das tecnologias de informação, a idéia de sistemas logísticos – que integrem tanto o movimento como o balizamento de bens de consumo em sincronia a tais tecnologias – desponta como real paradigma e foco de abordagem, quando da proposta e metodologia do projeto arquitetônico.

O Projeto

Visando a reestruturação do CEAGESP – Vila Leopoldina no Rodoanel, a principal escolha de projeto – visando a demanda por novas centralidades – é a de um complexo com proporções de funcionalidades em aproximadamente 30% da expectativa do atual terminal. Esta abordagem visualiza e viabiliza a construção de outras unidades ao longo do Rodoanel, e que assim otimizam sua função potencial. E é ai que a metodologia da construtibilidade de espaços através da pré-fabricação industrial desponta criando o tríptico necessário: desenvolvimento de novas centralidades urbanas; articulação de sistemas de transporte e comunicação; sistemas construtivos integrados, de alto teor tecnológico e, principalmente, resultem em abordagem pragmática e cambiável do projeto arquitetônico.

O Local

O local escolhido para a implantação do empreendimento fica no encontro do Rodoanel Oeste com a Rodovia Raposo Tavares, e é de proporções inferiores a 30% da área do atual terminal CEAGESP. O motivo de escolha do lote é justamente este nó de fluxos, que, se por um lado mostrou-se factível com as dinâmicas logísticas de transportes estudadas, estipuladas e necessárias pelo tema, por outro acarreta forte carga simbólica relativa à simbiose dos fluxos de movimentação inter-regional. A escolha desse lote implica também na desativação e remanejamento de um parque industrial de pequeno porte, ficando o complexo limítrofe a uma zona residencial.

O Programa

Embasado nas premissas de projeto, o programa proposto pressupõe a otimização das funcionalidades dos armazéns, espaço para feira livre, área de serviços, qualificação dos espaços públicos como elementos de integração e diversidade e a requalificação do setor administrativo (frente a potencialização das dinâmicas e meios informacionais).Como afirma Jordi Borja, sobre os espaços públicos: “um objetivo chave da construção da cidade metropolitana. As infra-estruturas e os sistemas de transportes não garantem a mobilidade, mesmo sendo indispensáveis. A criação de um conglomerado de atividades do terciário qualificado não produz automaticamente centralidade. Somente a existência de espaços e equipamentos públicos, acessíveis, seguros e polivalentes, dotados de qualidade estética e de carga simbólica, quer dizer, culturalmente significativos, cria centralidade. Porque a centralidade urbana, entendida como condensação da cidade, não é tanto o nó onde confluem os fluxos do espaço metropolitano, como lugar dos encontros e das identidades, a expressão do civismo e o substrato do marketing e do patriotismo da cidade” (4).

Ora, a área útil de armazenagem, em primeiro lugar, alcançou 30% da área utilizada no terminal de São Paulo num lote de proporções reduzidas a estes mesmos 30%, significando otimização e realização plena do programa. Em segundo lugar, o espaço de feira livre, atividade comum realizada em entrepostos de armazenagem, foi conseguido com o superaproveitamento da infra-estrutura, uma vez que foi desenvolvido um mezanino como setor de serviços (fato possível e factível na mesma superestrutura encontrada no terminal Vila Leopoldina, mas não realizado). Por fim, o setor administrativo destaca-se como elemento simbólico e marco do local.

O sistema construtivo de pré-fabricação em concreto no projeto

O desenvolvimento de projeto a partir da metodologia da de sistemas construtivos de pré-fabricação em concreto resultou, quando da sua resolução, da percepção de cinco paradigmas, altamente factíveis à proposta de projeto como um todo. São esses paradigmas: Funcionalidade, Estrutural, Estética, Sustentabilidade e Economia.

A Funcionalidade aqui é entendida como necessidade de boa resolução logística, quando da realização da obra, e que escolhas de projeto viabilizam necessidades logísticas, ou não. Portanto, a resolução funcional intrínseca às escolhas de projeto deve estar de acordo às problemáticas extrínsecas ao projeto (à escala do lote de intervenção). As peças e sistemas estruturais propostos nesse projeto buscam atender essas especificações. Ainda: de modo que se salienta a fragmentação e reestruturação do projeto em áreas distintas (sendo focado o projeto em uma dessas áreas) parece claro e é consciente (eficiente!) a possibilidade de reconfiguração do projeto em outras cercanias.

O aspecto Estrutural é relativo às questões condicionantes, que são  viabilização dos subsistemas estruturais (superestrutura, vedação, hidráulica, elétrica, esquadrias, coberturas e acabamento) como sistema integrado, sinérgico, e, quando da proposta de novos designes para estes subsistemas, que os mesmos estejam em conformidade com as possibilidades industriais vigentes.

A questão Estética é dialética: se por um lado função e estrutura impõem-se como condicionantes, ou seja, elementos conceituais limítrofes, por outro lado é essa mesma limitação que invoca o caráter estético quando da concepção arquitetônica: que a limitação construtiva seja, adequadamente, explorada, potencializada e, por fim, transcendida.

A Sustentabilidade é aqui citada e aplicada no projeto desta forma: compreensão e consciência dos processos industriais de fabricação de peças em concreto e seu transporte, bem como do alto teor de energia embutido nesses processos; permeabilidade de áreas e espaços; abertura e desenvolvimento de sistemas de aeração – renovação do ar natural, implicando inclusive em conforto térmico; boa resolução e diferenciação de necessidades de circulação diversas (pedestres automóveis leves caminhões); factibilidade de captação de energia solar; possibilidades de captação de águas pluviais (a partir do sistema estrutural) para uso em sanitários; correta setorização e paisagismo dos espaços diversos. Todos esses fatores, utilizados apropriadamente, funcionam como índices de melhoria de qualidade de vida.

A Economia ressalta e sintetiza a multiplicação dos paradigmas acima descritos como ótima concepção de custo-benefìcio dentro de um sistema de valores aberto e abrangente das dinâmicas sociais.

O Cubo

A malha estrutural acontece à modulação de 6.00 X 6.00 m. Esta opção alinhou-se à construção do edifício como marco simbólico (o Cubo), onde coube a proporção na relação entre número de pavimentos desejados e forma macro. Também não foi programado estacionamento interno ao edifício, o que resultaria em estudos à factibilização da malha cm 7.50 X 7.50 m.

Os pilares utilizados, 60.00 X 60.00 cm, são factíveis aos índices de esbelteza dos pilares mais solicitados na estrutura, que são os dos vértices abertos do cubo, de altura relativa 9.00 m; além de realizarem plenamente a função dos carregamentos.

As lajes utilizadas, alveolares, permitem o corte à 45° no desenho das lajes; e também propiciam passagem de tubulações elétricas, com factibilidade de aberturas previstas à instalação.

O Triângulo

Para o projeto deste edifício, foi necessário projetar peças triangulares especiais que são placas de dimensão 05m x 05m x 05m, que permitem fazer essa modulação com pilares de espessura de 60cm em eixos de 15m, que se ajustam à respectiva forma triangular.

Esse desenho permite formar um mezanino que utiliza as mesmas placas, mas configurando um desenho ousado, encaixado dentro da modulação, propiciando uma dinâmica de diferentes percursos neste espaço.

Essas placas triangulares seguem do mezanino até formar a passarela com as mesmas para acabar se conectando ao “cubo” que é o edifício administrativo.

notas

1
Warrant (executivo). 1. Certificado emitido por uma companhia de armazéns gerais para evidenciar o recebimento de mercadoria confiada à sua guarda. O certificado constitui um papel negociável e serve como garantia em bancos. 2. Sob forma verbal, pode ser garantir ou justificar. V. (warranted growth).

2
SANTOS, Milton, SILVEIRA, Maria Laura – O BRASL – Território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record. 2001.

3
Hardpower: sistemas econômicos, industriais e infra-estruturais.

4
BORJA, Jordi – Urbanização e Centralidade In: Os centros de metrópole: Reflexões e propostas para a cidade democrática do século XXI, SP: Viva o Centro. 2001.

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Equipe premiada
São Paulo SP Brasil

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