No interior do Norte de Minas, a pequena cidade de Campo Azul abrigou durante décadas um casal voluntarioso que ali constituiu família. No total, foram onze filhos, que geraram 21 netos e, até então, dezessete bisnetos. Família grande, de interior.
O anseio por oportunidades fez com que os filhos, ao longo do tempo, saíssem do município de aproximadamente três mil e setecentos habitantes. Brasília acolheu a maior parte, fazendo com que o casal também migrasse para a capital.
O que não ficou para trás foram as raízes e vínculos. As viagens para prestigiar festas religiosas, procissões e rever antigos amigos, se tornaram hábito anual. Questão de tradição.
Surge a partir daí a vontade de restabelecer uma casa de férias, no lote ao lado da antiga casa. Das premissas estabelecidas, destaque para o baixo custo de obra e espaço para acomodar atividades diferentes. Por se tratar de uma família grande, imaginou-se a possibilidade de ocupação com pequena metragem quadrada, relativamente densa, mas sem perder a identificação com a cidade e seus aspectos socioculturais.
A casa possui 80m², técnicas convencionais e foi construída com mão de obra local. Fica em lote de esquina, de frente para uma das duas praças presentes na cidade. Foi implantada no ponto mais baixo da frente do terreno, usufruindo do desnível para tratar de questões de acessibilidade e proporcionar o importante pátio externo, principal articulador espacial entre a casa e a praça. A implantação amplia virtualmente a dimensão de praça para a cidade, enquanto o pátio usufrui das características e visuais da praça. Uma troca.
O pequeno alpendre de acesso, de onde se pode descansar enquanto desfruta da vista da praça, controla a escala e é o responsável pelo ponto chave da transição que acontece gradualmente a partir do acesso ao lote, do espaço público para o privado.
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Essa pequena compressão espacial gera, consequentemente, contraste com o pé direito mais alto encontrado na área social, composta por sala e cozinha que se relacionam diretamente com a parte posterior do lote por meio de seis portas pivotantes que abrem para o quintal.
A conexão com a área privada, quarto único com espaço amplo, acontece por meio de um pequeno corredor que também dá acesso ao banheiro social.
As dimensões do quarto acomodam usos atípicos de uma casa convencional, sendo uma suíte com espaço confortável e suficiente para oferecer diferentes níveis de ocupação. Uma grande janela situada no encontro da elevação leste com a elevação norte adota sistema de abertura nos dois sentidos, controlando assim a entrada dos raios solares sem que se perca a livre circulação da ventilação cruzada, complementada por outra pequena abertura que abre e emoldura vista para a grande amendoeira e a praça.
O sol forte, altas temperaturas e a baixa quantidade de vegetação nos espaços urbanos, faz da grande árvore localizada na praça central, popularmente chamada de sete de copas, um importante ponto de descanso e repouso momentâneo. De lá, para quem se direciona à casa, o barraco pré-existente, restaurado, é enquadrado por uma abertura que possui dimensões iguais às das janelas na elevação frontal, revelando através dessa informação visual as intenções propostas na nova casa. As características construtivas se justificam, assim como as definições das proporções e escala, que não possuem outra motivação que não seja articular as relações espaciais projetadas. O desenho serve o espaço, e o espaço serve as relações humanas.
ficha técnica
projeto
Casa de Dona Zuzinha
local
Campo Azul MG
ano
Projeto: 2019
Obra: 2022
área
80m²
arquitetura
Arquiteto Deryck Dantom / DL Arquitetos Associados
foto e vídeo
Urbansadness