A requalificação da Piazza Montecitorio abre uma nova fase da relação entre Roma e a sua "cidade política". A intervenção é relativa somente ao público, limitando-se a dar indicações aos edifícios que confinam essa praça. É uma intervenção de forte impacto urbanístico, mesmo se é um pouco mais que uma manutenção, e, justamente, porquê esse lugar, como em outras tantas praças barrocas, arquitetura e urbanística se fundem em um modo indivisível.
O primeiro objetivo é aquele de encontrar a amplitude e a dinâmica do espaço, simplesmente varrendo todas as partes inúteis, e, começando pela diminuição radical dos veículos estacionados. Deseja-se uma reapropriação, por parte do público, do respiro da cena nas suas proporções edilícias. Tudo é jogado na dinâmica barroca, nos seus bastidores – palácio, edifícios – e no chão – praça, ante-praça, obelisco –, sob um moto ascensional, uma diferença de nível que alcança mais de quatro metros, da ante-praça ao ingresso do palácio; se trata de um arrojo extraordinário na planície do Campo Marzio, uma arquitetura urbana totalmente estabelecida nos próprios traços elementares do palácio.
Retoma-se assim a elegância do movimento do solo, com uma simples manutenção, e procura-se reencontrar o ponto culminante perdido – o Monte – reconstruindo o afunilamento de uma acesso em forma de tronco de cone rumo ao palácio, análogo justamente aquele demolido no início do século para construir uma escada. No projeto se reconsiderou também a história da meridiana, o gnômon de Augusto, que no final dos Setecentos tinha sido recuperada para medir o tempo no espaço urbano, segundo a sabedoria matemática mais atualizada; não se tratava de uma substituição do relógio mas de um instrumento científico de mensuração, sextante, em termos proporcionais, ao próprio lugar. E se trata somente de um risco na terra, do obelisco até o palácio, e que durante oito meses do ano, no "meio-dia real", é possível verificar a passagem de um raio de sol que atravessa um orifício do globo (que está colocado no ápice do obelisco), para furar a sombra estendida no terreno.
É uma história muito importante: o próprio palácio, exposto e curvado para o sul é quase uma máquina solar. E, depois, continuando esse restauro, temos poucas coisas, elementos mínimos em um material novo, o titânio, que é apreçado pela sua leveza e resistência, mas também pela sua pátina assim próxima ao chumbo. São coluninhas e correntes colocadas nos acessos à praça e um "guia" aplicado no chão, em forma estelar, seguindo a borda meridional da área, e cuja função é indicar, como se fosse uma faixa de trânsito, os limites para o tráfico permitido. Soma-se um restauro dos postes de iluminação, substituindo-lhes as lâmpadas com outras mais adequadas e próximas ao espectro luminoso natural, e restituindo-lhes as proteções com o vidro original. Para a iluminação da fachada do palácio foi prevista uma solução mais delicada: os refletores embutidos no chão, muito estranhos, foram retirados, e, para iluminar essa elevação, será feito um estudo in progress, durante os trabalhos.
notas
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Este artigo foi publicado originalmente em Piazza Montecitorio – Progetto di riqualificazione ambientale 1996-1998, Roma, Câmara dos Deputados/Prefeitura de Roma, 1998. Leia também em Arquitextos a série de artigos sobre as Praças Italianas, com editoria de Marcos Tognon:
AYMONINO, Aldo. "Praça para o bairro Decina em Roma". Arquitextos 004, Texto 004.03. São Paulo, Portal Vitruvius, set. 2000 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq004/arq004_03.asp>.
ROTA, Italo; BALDASSARI, Alessandro; VIVIANI, Susanna; CINACCHI, Paolo. "Empoli. Mobiliário urbano para o centro histórico". Arquitextos 005, Texto 005.03. São Paulo, Portal Vitruvius, out. 2000 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq005/arq005_03.asp>.
GHIO, Ricardo. "O desafio da requalificação". Arquitextos 008, Texto 008.03. São Paulo, Portal Vitruvius, jan. 2001 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq008/arq008_03.asp>.
LETO, Maria Raffaella. "Piazza Aldo Moro". Arquitextos, Texto Especial n. 042. São Paulo, Portal Vitruvius, jan. 2001 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp042.asp>.
[editoria da série e tradução de Marcos Tognon]
sobre o autor
Franco Zagari é arquiteto e coordenador do projeto. Grupo de trabalho: Claudia Clementini, Lorenza Bartolazzi, Renato Ferroni e Helene Hoelzl.