O projeto da Bicocca, ex-área industrial da Pirelli é uma das intervenções urbanas mais amplas e significativas executadas em Milão, com uma superfície total de 600 mil metros quadrados de vazio urbano e de aproximadamente 20 novas edificações, todas realizadas pelo arquiteto italiano Vittorio Gregotti.
Gregotti foi o vencedor do concurso organizado sob convite pela própria Pirelli. Organizado em duas fases em 1984, teve a participação entre outros do arquiteto Joaquim Guedes. A segunda fase teve a participação de Gino Valli, Aimaro Isola & Gabetti e Vittorio Gregotti. O vencedor foi selecionado somente em 1988, após diversas discussões e modificações de objetivos solicitados pela a Prefeitura
As indústrias Pirelli já haviam se transferido há alguns anos para uma periferia mais adequada já que a área aonde funcionava a sede desde 1905, então uma zona campestre, hoje faz parte da periferia norte de Milão, localização estratégica, próxima à rodovia de ligação com o norte da Europa.
O nome de Bicocca (casa abandonada) dado ao bairro deriva da localização na área de uma casa de campo do séc. XVI que pertencia à uma nobre família milanesa, os Arcimboldi, hoje restaurada e considerada Patrimônio histórico, sede de reuniões da direção da Pirelli. Com o tempo o nome de Bicocca degli Arcimboldi foi simplesmente simplificado para Bicocca.
O projeto vencedor do concurso Pirelli-Bicocca consiste em conciliar a reinterpretação da multiplicidade e densidade da cidade histórica com as exigências do presente, ocupando o "vazio" com edifícios e espaços bem definidos: a Bicocca deve se transformar em um "centro histórico" da periferia com a presença de universidade, residência, comércio, atividades terciárias e culturais, inclusive com a construção de um teatro lírico que substituirá o famoso "Scala" de Milão enquanto este, por 2 anos, estará fechado por obras de manutenção e adequação das instalações.
O projeto de Gregotti propõe a requalificação da área da Bicocca e sua reintegração no tecido e na vida da cidade com a qualidade do espaço aberto e de uso público, a articulação e a diversificação das funções, das atividades e dos serviços que definem a hierarquia das coisas e dos espaços, com a presença de serviços de valor territorial que tornam necessárias os intercâmbios com outras partes da cidade, a possibilidade de suportar variações e complementos sem perda de identidade por parte de uma população local socialmente mista – seja por tipo de atividade, poder econômico, origens ou idade.
sobre o autor
Marisa Barda é arquiteta brasileira formada na FAUUSP em 1979, radicada em Milão desde 1982, aonde desenvolve sua atividade profissional como arquiteta na recuperação e restauro de casas e edifícios e crítica de arquitetura colaborando para a AU no Brasil e Abitare, Costruire e Ufficiostile na Italia.