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architectourism ISSN 1982-9930


abstracts

português
Eduardo Sanovicz fala sobre o turismo como atividade econômica, abordando assuntos relacionados ao turismo como arquitetura, ecologia, sinalização, educação e negócio

english
Eduardo Sanovicz talks about tourism as an economic activity, addressing issues related to tourism such as architecture, ecology, signposting, education and business

español
Eduardo Sanovicz habla sobre el turismo como actividad económica, abordando asuntos relacionados con el turismo como la arquitectura, la ecología, la señalización, la educación y los negocios


how to quote

SANOVICZ, Eduardo. O turismo como atividade econômica. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 007.03, Vitruvius, set. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.007/1358>.


O turismo é uma atividade bem organizada no Brasil?

Estamos no meio do caminho, em que pese ter ocorrido quase uma revolução nos anos recentes. De uma atividade que há 5 anos gerava US$ 1,8 bi de ingressos, o Brasil passou a receber US$ 4,3 bi com turistas estrangeiros. Isso gerou uma reestruturação em operação de receptivo, hotelaria e serviços. Ainda temos questões pendentes em planejamento (destacadamente em municípios) e, obviamente, transportes.

É possível distinguir o turismo segundo o caráter dos destinos?

É plenamente possível. Os destinos têm ofertas, público e resultados diferenciados. Não é possível, para se ficar em exemplos nacionais, que Santos e Paraty tenham a mesma dinâmica econômica. Enquanto a primeira recebe milhões de pessoas, praticamente o ano inteiro, a segunda recebe dezenas de milhares, em períodos determinados.

Nossa arquitetura é um estímulo para o turismo?

Eu sou mais do que suspeito, mas definitivamente sim. Uma das coisas que mais me emociona é ter construído um programa de promoção comercial do turismo brasileiro no exterior, conceituado e sustentado nas manifestações culturais do país, entre elas, destacadamente, arquitetura. Apenas como um dos exemplos, posso citar os stands da Embratur, que em mais de uma centena de eventos nos quais passamos a participar nos anos recentes, foram totalmente redesenhados por arquitetos brasileiros, usando objetos de design brasileiro e promovendo, quer seja por imagens quer seja por roteiros propostos em impressos ou imagens, a produção arquitetônica brasileira. Outro dado importante é a Marca Brasil, desenhada por um arquiteto brasileiro – Kiko Farkas, vitorioso em um concurso nacional, que a desenvolveu a partir de um desenho de Burle Marx, proposto pela organização.

A sinalização turística em estradas e pontos estratégicos das cidades não é um imperativo nos dias atuais?

É imperativo e poucas regiões têm a lição de casa feita. A região sul – com destaque para Rio Grande do Sul e Santa Catarina – e certas áreas de São Paulo, Minas Gerais e Bahia, estão bem sinalizadas.

As demais, ou têm programas em andamento (conheço 4 ou 5 bons projetos), ou não andaram nesta área. Um fato a ressaltar é que, ainda que Estados e municípios sejam autônomos para conduzir este tema, todos os projetos são custeados com recursos federais. As unidades regionais não aplicam neste quesito.

Qual seria a melhor forma de combinar escola e turismo?

A melhor forma é criar desde os primeiros anos do ensino fundamental, programas que liguem estudos e viagens. Levar crianças de 7 anos para visitar a Mata Atlântica (consciência sobre preservação, cuidado com lixo, diversidade biológica); levar adolescentes para Brotas (relação entre saúde, exercícios, turismo e preservação ambiental); e depois levar universitários para Lençóis ou Paraty (desenvolvimento sustentado, combate à miséria, arquitetura, história e preservação de memória e patrimônio).

Com certeza isto vai gerar uma outra qualidade de formação, e melhor ainda, outro tipo de exercício de cidadania.

Existe potencial significativo para o turismo segmentado em nosso país?

Em 2003 quando a Embratur – já então redirecionada exclusivamente para promoção do Brasil no exterior, como segue até hoje – lançou os programas de promoção segmentados, esperávamos bons resultados, mas os números foram ainda mais satisfatórios.

Com os bureaux de promoção de resorts, ecoturismo e aventura, pesca, golf, mais a política de promoção articulada a partir do eixo – qualidade e pluralidade cultural – como fato gerador da formação de imagem do Brasil no exterior, o volume de passageiros estrangeiros cresceu aproximadamente 60% e o ingresso de recursos quase 105%.

A passagem pelo governo mudou sua visão pessoal sobre o turismo?

Muito. Passei a compreender primeiro o Brasil complexo e diferenciado em que vivemos, do ponto de vista econômico, mas principalmente quanto a sua diversidade e pluralidade cultural; e depois, ficou impossível viajar por qualquer canto do planeta e não ter um olhar profissional.

Como é ver o turismo do ponto de vista do governo?

É compreender que turismo é uma possibilidade concreta de desenvolvimento econômico para regiões inteiras do país que seguem excluídas, depois dos ciclos agrícola e industrial.

O mix entre turismo e negócio em São Paulo é algo planejado?

Não. A opção de São Paulo por atuar fortemente no segmento negócios e eventos, é resultado das opções políticas adotadas ao longo da história do Brasil, as quais geraram a partir do final do século 19 uma dinâmica que acaba por definir a cidade como o centro econômico de toda a América Latina.

A partir deste fato, foram desenvolvidos ao longo de décadas um conjunto de ofertas para o público gerado como conseqüência desta opção – hotéis de luxo, eventos, gastronomia internacional, lojas de marcas globais, serviços de alta tecnologia e, claro, feiras e eventos.

Um destino turístico é um fato ou algo inventado?

Nunca é um fato dado. Como regra geral, a partir de um conjunto de atrativos naturais e/ou culturais, somam-se ações de planejamento, seguidas de programas de promoção e marketing, e ajustes estruturais. Aí se tem um destino turístico. O Brasil e o planeta estão recheados de exemplos – Bonito, Ouro Preto, Paraty, Cannes, Cancun, etc...

Turismo de massa e sustentabilidade são contraditórios?

Em minha opinião sim. Sustentabilidade pressupõe, entre outras coisas, um estudo e um controle rígido tanto de carga e impacto, como de capacidade de atendimento, de um determinado destino, o que é incompatível com a existência de uma área liberada para visitação sem restrições de utilização e volume de passageiros. Sustentabilidade portanto, significa que o retorno econômico está condicionado pela conjuntura ambiental, e não o contrário.

sobre o entrevistado

Eduardo Sanovicz, 47 anos, é historiador pela USP. Mestre (2002) e doutor (2007) em Ciências da Comunicação pela USP, com os temas "Modelos de gestão em destinos turísticos" e "Promoção comercial do turismo brasileiro no exterior - o caso da reconstituição da Embratur". Atual CEO da Reed Exhibitions no Brasil, foi presidente da Anhembi Turismo (2001-2003) e Embratur (2003-2006). Venceu os prêmios Caio (2002), Profissional do Ano do Turismo Brasileiro (2006) e IMEX (melhor profissional das Américas 2004/2005).

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007.03 Entrevista
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