Deixo como introdução deste texto suas próprias palavras.“Fotografia é meu ofício; linguagem e expressão. Na lente, que no decorrer do tempo transformou-se em extensão do olhar, persigo a posição, como aquela dos pontos plotados em mapas de navegação, pela qual percebo, sinto, penso e significo. A busca desse lugar que, precariamente, vislumbra a possível, imaginada, unidade da experiência. Pela fresta da cortina metálica da câmera localizo pontos de vista que demarcam territórios, articulam trajetórias, constroem redes, gerando uma tessitura que, enquanto inventa o espaço circundante, dispara a imagem, temporalizada, da “minha” realidade.”A fotografia em seu caráter mais imediato, bidimensional, impresso e reprodutível ganha dimensões e densidade existencial quando dialoga tão narrativamente com o espaço nas palavras do fotógrafo.
Se para Sartre a existência precede a essência, me parece que para d’Ávila caminham juntas no espaço. Em suas fotos este grande palco da experiência da vida, traduzido pelo ato fotográfico, se manifesta de diferentes formas. Por vezes é geometrizado, artificial e transcendente. Em outras, sentimos um indelével cheiro regional. Ou mostra sua densidade viscosa, distanciadora, nos lembrando o contemplar ou o horizonte distante daqueles que desejam, que viajam.
Estão mostradas aqui algumas fotos de dois trabalhos seus. O primeiro, em preto-e-branco, resulta de uma viagem feita ao Chile em 1979 e o segundo, em cor, nasceu durante 35 dias em 1993 na Amazônia brasileira.
Fotógrafo viajante foi o título de seu Doutorado e de um de seus mais maduros trabalhos. Anos depois começo a entendê-lo e penso que Barthes estava certo; não existe foto sem aventura. Devemos então aproveitar a viagem. Boa viagem companheiro!
[Texto de Santiago d’Ávila]
sobre o autor
A. C. d’Ávila (1955–1997). Fotógrafo desde 1972, formou-se em Cinema pela ECA-USP. Lecionou fotografia no colégio Equipe, no Museu Lasar Segall e na USP (1982-97) onde se doutorou. Premiado como fotógrafo de cinema, teve seu trabalho exposto no Beaubourg em Paris, na Trienal de Milão, na Cidade do México, Washington e no MASP de São Paulo. Percorreu a América do Sul na juventude, foi à Antártida como fotógrafo do Instituto Oceanográfico da USP, à Amazônia junto a uma equipe de filmagem, ao Arquipélago dos Alcatrazes como fotógrafo-ativista pela conservação do meio-ambiente