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architectourism ISSN 1982-9930


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FENIANOS, Eduardo. Urbenauta: viagem na própria cidade. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 008.03, Vitruvius, out. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.008/1367>.


Urbenauta fotografando
Foto divulgação

Como surgiu o Urbenauta, por onde andou e andará?

Conversava com um senhor, quando ele começou a se vangloriar de suas viagens. Dizia conhecer a Europa, a África, os Estados Unidos. Aí me veio uma pergunta na cabeça. “E a rua que passa atrás de sua casa, o senhor conhece? Ele ficou claramente envergonhado e disse “não”!

Foi aí que pensei: “caramba, essa será minha grande viagem; vou viajar dentro da cidade em que moro”. Vou colocar em prática o pensamento do filósofo oriental Lao Tse, que 2500 anos atrás disse: “antes de começar o trabalho de mudar o mundo, dê três voltas ao redor de sua própria casa”. Algum tempo depois criei a palavra urbenauta (urbe= cidade; nauta=navegador), aquele que viaja. O urbenauta é, portanto, um viajante urbano, um desbravador de selvas de pedra, aquele que faz com a rua o que o astronauta faz com a lua. Que faz com o mundo real o que o internauta faz com o mundo virtual. Ate agora foram desbravadas 3 cidades: São Paulo, Curitiba e Florianópolis. A próxima talvez seja o Rio de Janeiro ou alguma outra metrópole do Brasil.

Como você vê as cidades hoje, depois das suas vivências?

Essa resposta merece um tratado. É o tema principal sobre o qual giram meus livros. Mas resumindo, as cidades são algo muito jovem na evolução humana. Têm apenas 5.000 anos. Se as colocarmos na famosa linha que colocou a criação do universo no período de um ano, as cidades só aparecem no dia 31 de dezembro, às 11 horas, 59 minutos e quarenta e seis segundos. Isso significa que ainda estamos aprendendo a construir cidades, a conviver nas cidades. Por isso, hoje não visito mais cidades, eu as namoro, me apaixono por elas, caso com elas.

Uniformes do urbenauta
Foto divulgação


O que é obrigatório conhecer em uma cidade?

Primeiro, a própria quadra em que moramos. Ter contato com os vizinhos. Depois o centro, o lugar em que a cidade nasceu, o Marco Zero. Dependendo do olhar ou calma isto pode ser feito em meio dia ou dois dias. Certa vez, dei uma volta na quadra que durou um sábado inteiro. Parei pra conversar com todo mundo.

Como você "esquarteja" uma cidade, antes de atacá-la?

O planejamento de uma viagem leva em torno de 2 anos. Divido a cidade em duas partes: selva e selva de pedra. Na primeira parte, procuro o contato com a natureza – rios, matas, flora, fauna – da cidade, buscando os lugares mais distantes e escondidos do município – caso da cachoeira do Capivari, no extremo sul de São Paulo. Estudo cartas topográficas, como se estivesse indo para um lugar distante. Como os acessos são difíceis e as topografias acidentadas, tenho ajuda de membros do Corpo de Bombeiros ou da Força Aérea, como aconteceu em São Paulo, quando tive o apoio do Esquadrão Pelicano, especializado em Sobrevivência na Selva. Na segunda parte, intitulada selva de pedra, encaro cada bairro como se fosse um país. Pego o mapa de ruas e entro em todas, como se pegasse um submarino que submerge até as regiões mais abissais da realidade. Para me aprofundar ainda mais, durmo e como na casa de seus moradores. Nesta fase utilizo a minha Urbevane, veículo modificado para as viagens e conto com a ajuda da população e de vários anjos da guarda.

Em todo o trajeto produzo entrevistas e fotografias, coleto imagens para os programas da TV e vou escrevendo um diário de bordo, que ao final da expedição relata as experiências que só o texto literário pode expressar.

Urbenauta em trabalho de campo
Foto divulgação


Qual a melhor forma de relatar suas experiências?

Na verdade gosto de me comunicar. Sei que tenho que me comunicar para dividir, tornar comum, este ideal que é o de demonstrar que antes de habitar a lua, temos que entender a rua. Por isso, tanto os romances, os diários de viagem, os programas na TV, as matérias para a rádio e internet são formas diferentes de comunicar, cada qual com a sua linguagem e com uma linha editorial definida. O livro apresentando os bastidores da viagem, as reflexões; os álbuns fotográficos revelando a natureza, a história e as mais incríveis paisagens da urbe. Aquilo que a rotina que nos cega, não nos permite mais enxergar. Os diários para a rádio e a internet servem como um instrumento para desabafar e dividir com quem ouve ou lê aquilo que se viveu no dia e os programas de televisão, mais trabalhosos, unem tudo isso.

Por onde mais se aprende e se conhece uma cidade, a partir do seu olhar?

O próprio aprendizado está no olhar. A viagem não está na distância. Está na forma de enxergar e no abrir-se para as experiências que surgem, sem medo. Procuro sempre encarar o objeto cidade da mesma forma que o cientista estuda a bactéria ou que Charles Darwin encarou as Galápagos. Isso já leva naturalmente ao aprendizado. Depois é a conversa com os moradores e a próprias situações que a viagem proporciona que transformam as ruas em um tipo de garçom da realidade e a cidade em uma excelente sala de aula.

Muita gente pergunta: “por quê não voltar para casa?” Porque voltar para casa significa voltar para o meu mundinho. Sempre que faço estas expedições, sinto que ao final do primeiro mês de viagem fujo de minha classe social e meus valores culturais, situação econômica. Com isso levito sobre a pirâmide social e os preconceitos se perdem no processo de pesquisa.

A experiência do Urbenauta é próxima do turismo?

Sim. É uma forma de capacitar e incentivar o morador a conhecer seu hábitat e com isso gerar novos roteiros. Há casos em que sou chamado para ir até as cidades para buscar e criar roteiros a partir deste olhar urbenáutico. Isso porque muitas vezes enxergamos como normal ou que para os outros pode ser maravilhoso. Além disso, a proposta das Expedições Urbenauta é aproximar o turismo da educação. Terminei a pouco um livro que se chama Guia para usar a cidade como sala de aula e um dos capítulos fala sobre como o serviço pode trabalhar em prol da educação.

Com algumas das pessoas que o abrigaram no dia da volta. Praça da Sé
Foto divulgação


Você gosta de guiar pessoas pelas cidades?

Sim. É uma forma de trocar experiências. Tenho um projeto em SP chamado Urbenautinhas. Viajo com a garotada ao redor de sua escola, discutindo a ecologia, cidadania, etc.Mas o que mais recebo são relatos de pessoas que leram os livros e também resolveram fazer suas próprias incursões.

Qual o papel do alojamento? Cria vínculos?

Talvez seja o papel principal de toda a viagem. Pois este abrigo também serve para revelar a realidade, para viver outras vidas sem precisar morrer, para ter contato com mundos, culturas e índoles diferentes. Essa convivência é a parte mais emocionante das viagens. Dormir na casa de policiais, de bandidos, de crentes, ateus, ricos, favelados, eruditos ou analfabetos me revela quantos mundos uma cidade pode ter. Se dormisse em hotéis ou só comesse em restaurantes não teria esse contato com as diferentes realidades urbanas. Vínculos são criados. Lembro de cada família que me abrigou, do dia, dos detalhes, do que conversamos, do que comi.

Você gosta de uma viagem não "urbenáutica"?

Adoro. Também viajo com minha esposa e filha. Nessas oportunidades, vamos a busca da natureza em um esconderijo que temos na praia. Mas quando fazemos uma “viagem normal”, minha esposa me acompanha um dia sim, outro não, porque adoro andar e ela que ainda não está com aquele preparo físico.

Com moradores da favela do Buraco do Sapo, no Capão Redondo, São Paulo
Foto divulgação


Nas suas viagens o que você programa visitar? Como a arquitetura se insere nas viagens?

Gosto das ruas, de observar as construções, o patrimônio histórico que estudo desde os 19 anos. Gosto de ler a cidade, de ver sua história sendo contada através de sua arquitetura. Neste ponto penso que a cidade é a Divina criação humana. Gosto de experimentar os sabores que estão nas ruas ou nos restaurantes, mas sempre com o sabor do local. Gosto de ir aos lugares que não estão nos guias, de me deixar perder. Esse fato, de se deixar perder na selva de pedra, transformei até em semaforopoesia, um tipo de poesia que deve ser escrito enquanto o carro que está atrás de você não buzina avisando que o “sinal” está aberto. Diz o seguinte:

"Me perdendo eu vou me achando
E a cada esquina vou me encontrando, vendo,
aprendendo o que não sabia.
E mesmo que soubesse reaprenderia
Porque só quando me perco
Tenho tempo de me achar."

sobre o autor

Eduardo Fenianos, o "Urbenauta", é graduado em Comunicação Social e Direito. Seus livros, que relatam suas viagens e álbuns fotográficos, editados pela Univer Cidade, já ultrapassam o número de 30, atingindo uma tiragem total de mais de 100.000 exemplares. Ele também é autor de O urbenauta – manual de sobrevivência na selva urbana, Expedições urbenauta – São Paulo, uma aventura radical, Guia para usar a cidade como sala de aula, além de álbuns fotográficos e livros infantis. Seu próximo livro será Almanaque São Paulo, álbum que em textos e cerca de 450 fotos resume seus estudos sobre a natureza, história e realidade paulistana.

Urbenauta em excursão
Foto divulgação


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008.03 Entrevista
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008

008.01 Fotografia

Fotógrafo viajante

A. C. d’Ávila

008.02 Arquiteturismo em questão

Modernistas na estrada

Abilio Guerra

008.04 Viagem de estudo

Salvador, a Roma negra

Paul Meurs

008.05 Roteiro de viagem

México: cosmovisões e cosmopolitismo

Saide Kathouni

008.06 Paisagem urbana

Velib - vélos en libre service - de Paris

Glaucia Hokama

008.07 Arq'culinária

Um lado mineiro de Curitiba

Breno Raigorodsky

008.08 Editorial

Celebração de rotas e caminhos

Abilio Guerra and Michel Gorski

008.09 Ministério do Arquiteturismo

Ministério do Arquiteturismo adverte

Ricardo Hernán Medrano and Carlos Alberto Coelho

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