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architectourism ISSN 1982-9930

abstracts

português
Neste artigo, o fotógrafo Salomon Cytrynowicz traz um relato de sua viagem para a Europa compartilhando com o leitor sua aventura em busca da história da invenção da fotografia

english
In this article, the photographer Salomon Cytrynowicz brings us a journal of his trip to Europe, sharing his adventures in search of the history of the photography invention with readers

español
En este artículo, el fotógrafo Salomon Cytrynowicz nos trae un relato de su viaje por Europa compartiendo con el lector su aventura en busca de la historia de la invención de la fotografía


how to quote

CYTRYNOWICZ, Salomon. Monsieur Nicephore & Sir Fox. Arquiteturismo, São Paulo, ano 02, n. 015.02, Vitruvius, maio 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/02.015/1420>.


Maria Inês Nassif em Chalon-sur-Saône
Foto Salomon Cytrynowicz

Da pousada com o sugestivo nome Sign of the Angel até o antigo celeiro que hoje abriga o Fox Talbott Museum anda-se não mais do que um quarteirão, mas é uma grande viagem. A pousada, de dez quartos, onde os hóspedes são abrigados em imensos quartos vitorianos com portas sem chave, é uma das casas da pequena Lacock, hoje uma espécie de distrito de Chippenham.

Salomon Cytrynowicz junto a estátua de Joseph Nicéphore Niépce
Foto Maria Inês Nassif

No pequeno trajeto nas ruas de pedra, estávamos na contramão do fluxo de turistas, na maioria ingleses, que para lá afluem no final de semana. A maioria vai à busca dos mistérios de Harry Potter, cujos filmes tiveram locação na abadia, que é o centro não só da propriedade do Museu, mas da própria localidade. Eu e Maria Inês, todavia, terminávamos uma pequena incursão pela história da fotografia, que nos levou ao interior da França e da Inglaterra, em julho passado, atrás dos rastros de dois pioneiros, no primeiro terço do século XIX: Monsieur Joseph Nicéphore Niépce e Sir William Henry Fox Talbot.

Começamos nossa expedição pela França. Da Gare de Lion, em Paris, de TGV, até Chalon-sur-Saône, cidade natal de Niépce, na Borgonha, com baldeação em Dijon, duas horas e pouco de viagem.

Placa da Rua Nicéphore Niepce em St. Loup de Varennes
Foto Salomon Cytrynowicz

Cidade com 50 mil habitantes, cortada pelo rio Saône, com duas ilhas urbanas no centro onde se concentram bares, restaurantes e a ferveção do lugar. Às margens do rio fica o Musée Nicéphore Niépce. Seu acervo fixo conta a história de vários e simultâneos descobrimentos da fotografia.

Paisagem urbana, primeira imagem fotográfica, 1827
Heliographia de Joseph Nicéphore Niépce


O espaço Niépce, dedicado ao autor da primeira imagem fotográfica conhecida até hoje, de 1827, a Heliographia – uma placa de estanho coberta com betume da Judéia e tratada com óleo de lavanda. Rico proprietário rural e ávido inventor, foi empobrecendo com os investimentos em suas criações e, depois de muita relutância, aceitou associar-se a Louis Jacques Mandé Daguerre, um bem-sucedido e articulado empreendedor parisiense do ramo do entretenimento, cenógrafo e proprietário do Diorama, um espetáculo áudio-visual com enormes telas de gaze pintadas dos dois lados, dispostas no espaço e iluminadas com luz cênica mutante que produzem efeitos impressionantes de profundidade. Trabalharam juntos até a morte de Niépce, três anos depois, em 1833.

Boulevard du Temple, 1838
Daguerreótipo de Daguerre

Daguerre, então, seguiu sozinho e aperfeiçoou a técnica, alterou em benefício próprio o contrato com Isidore, filho e herdeiro do único bem deixado por Niépce, e batizou o novo processo com o seu nome: daguerreótipo.

A invenção foi adquirida em 1839 pelo Estado francês e colocada em domínio púbico, o que concedeu a Daguerre uma pensão vitalícia e a Isidore metade do valor. O Bill Gates da fotografia associou-se a fabricantes de produtos óticos e patenteou seu processo em outros países da Europa e EUA. A técnica se espalhou rapidamente pelo mundo, um crescimento vertiginoso apelidado de “daguerreotipomania”.

Outros espaços são dedicados a Fox Talbot, às experiências dos irmãos Lumiére – que, depois de inventarem o cinema, desenvolveram os autocromos, as primeiras transparências a cores, e a estereoscopia, imagens duplas que, olhadas com binóculos apropriados, dão a ilusão de terceira dimensão.

Maison de Le Gras, Saint Loup de Varennes
Foto Salomon Cytrynowicz


Na Maison de Le Gras, em Saint Loup de Varennes, pequena cidade de mil habitantes a seis quilômetros de Chalon, Monsieur Nicéphore, na casa-sede de sua propriedade rural, fez suas experiências com a fixação de imagens produzidas com uma câmera e a primeira imagem fotográfica: uma vista da janela, em 1824, com um tempo de exposição de oito horas em um dia claro.

A casa foi adquirida e restaurada no fim dos anos 90 pela Spéos, uma escola de fotografia de Paris. É possível observar a paisagem muito mudada pela mesma janela por meio de uma réplica da câmera e experiências fotográficas refeitas pelo pesquisador Jean-Louis Marigner.

Em 2007, foi incorporado ao acervo da Maison Nicéphore Niépce, o laboratório de seu vizinho Fortuné Joseph Petiot-Groffier, juiz e depois prefeito de Chalon, encontrado intacto depois de 152 anos e considerado muito semelhante ao de Niépce.

Lacock
Foto Salomon Cytrynowicz


Passagem de tempo. Estação Paddington, Londres. No trem rumo a Bristol, descemos em Chippenham, e de ônibus mais 8 quilômetros até Lacock, o reino de meu maior herói desta viagem: Sir Fox. Uma cidade cenográfica real, casario do século XII ao XVIII.

Quatro ruas (east street, west street, church street e high street), quatro pubs (the red lion, the angel, the george e the carpenters arms), madeira, tijolo e pedra, costelas de carneiro, batatas e cerveja preta do lugar.

Lacock
Foto Salomon Cytrynowicz


Parou no tempo com a revolução industrial e com a ligação rodoferroviária passando por Chippenham, e foi transformada pela bem-sucedida gestão público-privada do patrimônio histórico britânico, em destino turístico.

Ao lado do quadrilátero de ruas, a abadia e parte das terras do aristocrata do lugar, Lord do feudo de Lacock, Sir William Henry Fox Talbot, cortadas cortadas pelo rio Avon.

Abadia de Lacock
Foto Salomon Cytrynowicz


Botânico, matemático, físico, químico, astrônomo e especialista em tradução da escrita cuneiforme assíria, Talbott descobriu um processo, negativo-matriz/positivo-cópias, que passou a ser hegemônico até a chegada da fotografia digital. Os daguerreótipos eram artefatos únicos.

Foi profético quando construiu uma câmera que cabia na palma da mão, um de seus primeiros inventos, carinhosamente batizado por sua mãe de Henry’s little mousetrap, para otimizar o aproveitamento da luz e diminuir o tempo de exposição ao material de pequena sensibilidade que produzia, com papel banhado em solução de sal de cozinha e depois em solução de nitrato de prata. Tempo de duração do click: de uma a duas horas.

Foi o primeiro grande fotógrafo; dentre os pioneiros, o que mais contribuiu para a construção de uma nova linguagem para seus achados científicos. Assim como Daguerre, vislumbrou seu desenvolvimento como indústria e comércio. Produziu intensamente por 12 anos e legou um acervo de imagens de objetos de naturezas muito diversas, apontando os destinos futuros de sua arte.

Coluna de Nelson, Trafalgar Square, Londres, 1844
Foto Fox Talbot


Primeiro os photogenic drawings, impressões diretas sobre papel em negativo de espécimes botânicos e outros objetos; e depois os cálotipos, de Kálos (belo em grego), de sua propriedade e seus habitantes, da ruína de monumentos à construção de novos, como a coluna de Nelson, em Londres, reproduções de pinturas e esculturas e naturezas mortas de objetos que traduzem a luz de maneiras distintas, como frutas e cristais.

Objetos de vidro, 1844
Foto Fox Talbot


Na cidade de Reading, em 1844, montou uma casa editora. Sua principal publicação foi The pencil of nature, um álbum de 24 calótipos em seis séries de 4 imagens, acompanhada de textos explicativos, antecipando os álbuns de figurinhas, os fascículos e o destino da fotografia na indústria cultural. Como empreendimento comercial, a editora de Sir Fox não decolou e foi desativada em 1887.

Abadia de Lacock
Foto Salomon Cytrynowicz

É o antigo celeiro do século XVI, o Fox Talbott Museum, porta de entrada da propriedade do inventor, antes uma abadia – a Abadia de Lacock.

O pequeno museu conta a sua trajetória no pavimento térreo e no segundo pavimento abriga exposições temporárias – hoje, a de Julia Margareth Cameron, a grande dama da fotografia inglesa do século XIX, que utilizava o calótipo. Dali até a abadia passamos pelos grounds, uma área verde bem-cuidada, arborizada com exemplares veteranos e robustos. A abadia é uma construção iniciada no século XIII, adquirida e reformada em 1539 por Sir William Sharington, que não tinha filhos e passou-a ao irmão Henry.

Lacock Abbey
Foto Salomon Cytrynowicz

A filha caçula de Henry, Olive, casou-se com Sir John Talbot em Worcestershire. Desde então o feudo de Lacock esteve ligado aos Talbot. Uma boa parte da construção medieval foi mantida por Sir Sharington e tem sido utilizada como locação de filmes como Harry Potter e Orgulho e preconceito. Na enorme ampliação, mais mudanças e adendos de gerações, biblioteca, coleção de arte, coleção de tábuas de escrita do antigo Egito e espécimes geológicos de Sir Fox. Uma viagem pelo fausto, elegância, pompa e circunstância da aristocracia britânica.

Grounds, Abadia de Lacock
Foto Salomon Cytrynowicz


sobre o autor

Nascido em Ulm, na Alemanha, em 1952, Salomon Cytrynowicz formou-se em Comunicações pela Universidade de Brasília. Trabalhou no Jornal de Brasília, no Correio Brasiliense e revista Veja, sempre na área de fotografia. Com exposições no Brasil e exterior, conquistou prêmios importantes, como o da Casa de lãs Américas e Bolsa Vitae de Artes/fotografia. É professor de fotojornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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