Muitos azuis, muitos verdes, alguns vermelhos e amarelos. Muitas flores e folhas estilizadas. Muitas peças com mesmo desenho que, combinadas a outras de desenhos diferentes, transformam-se em um terceiro padrão. Um caleidoscópio estático. E nos perdemos nas paredes de uma sala do Harém do Palácio de Topkapi, como se fosse um labirinto. Azulejos do chão ao teto. Vertigem e uma vontade louca de fazer aquilo tudo caber na tela da câmera fotográfica. Você dá dois passos pra trás. Ajoelha-se. Agacha-se. Deita no chão. Mas não cabe mesmo. Aquela profusão visual é maior que qualquer visor de câmera fotográfica. Só cabe na alma.
Os azulejos são só uma pequena parte de uma vasta temática estética que a misteriosa e deslumbrante Istambul oferece aos visitantes. Em meio a muitas outras preciosidades, eles estão por toda parte. Mesquitas, igrejas, palácios, museus.
E a maioria deles tem motivo floral, em tons de azul. A Turquia, assim como a Holanda e Portugal, sempre foi grande produtora de cerâmica, especialmente azulejos. A cidade de Iznik, situada a sudeste de Istambul, é considerada a capital turca da cerâmica.
O Palácio de Topkapi, construído entre os séculos XV e XIX, além de todo o tesouro digno d’As mil e uma noites que expõe aos olhos curiosos dos turistas – jóias, tronos suntuosos, relíquias sagradas, coleções de cerâmicas chinesas, cristais, pratas, mantos e vestimentas rebordadas em ouro e pedrarias – exibe, em muitas de suas paredes, uma preciosa e variada gama de azulejos turcos.
O Harém do Palácio especificamente é um deleite para os mais detalhistas.
A Mesquita de Sultanahmet, construída entre 1609 e 1616, mundialmente famosa como Mesquita Azul, leva esse nome porque as paredes são revestidas com azulejos de Iznik, predominantemente azuis. Neles, a luz se reflete deixando o interior da mesquita celestialmente iluminado durante o dia.
Outra mesquita, cujo interior é quase que totalmente revestido de belíssimos azulejos de Iznik é a Rüstempasa.
Construída em 1560 por Mimar Sinán, arquiteto dos sultões, é considerada uma das mesquitas mais belas do período otomano e freqüentemente referida como um “museu de azulejos”.
No Grand Bazaar, os que conseguem desviar a atenção por alguns instantes das mais de 4 mil lojas e olham para cima, encontram uma infinidade de padrões diferentes. Mosaicos de azulejos cobrem parte das várias abóbadas do grande mercado e delineiam seus arcos. Detalhes que com certeza passam despercebidos aos desavisados.
Agora uma curiosidade: todos esses azulejos estão lá há séculos e as cores são tão vivas quanto qualquer azulejo produzido no mês passado. Se houver alguma explicação técnica, eu adoraria ouvi-la. Ninguém a quem perguntei in loco soube me dizer a razão.
Enfim, os azulejos em Istambul são fascinantes. Se tiver a oportunidade, explore esse mundo lá mesmo e perca-se pelo olhar. E já que é impossível capturar a totalidade, aqui vão alguns detalhes dessas maravilhas turcas.
sobre o autor
Lu Cury é formada em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP e trabalha como designer gráfica em São Paulo desde 1998.