O Rei do Futebol não nasceu em Santos, porém nos deu o privilégio da sua convivência em nossa Cidade durante quase toda sua carreira esportiva. Pelé cresceu em todos os sentidos. Chegou menino e virou Rei – com luta e determinação – praticando sua arte com a bola e tornando-se símbolo do melhor futebol do mundo.
Santos o adotou como filho legítimo desde o primeiro momento em que esteve aqui. Foi aqui, mais precisamente no Estádio Urbano Caldeira, na Vila Belmiro, que Pelé jogou por quase 20 anos e conquistou a maioria das glórias que acumulou ao longo de sua brilhante carreira esportiva.
Para mostrar o orgulho da Cidade que o acolheu e, ao mesmo tempo, retribuir ao filho especial as tantas alegrias já proporcionadas, Santos irá homenageá-lo com um Museu de nível internacional: à altura de seu talento.
Raros brasileiros tiveram tal projeção e unanimidade internacional como Pelé. Gênio do futebol, ele ficou famoso e serviu de exemplo em todo o mundo numa época em que a mídia não tinha os recursos técnicos, a força e nem o poder que tem hoje.
Suas qualidades inatas contribuíram para a lapidação e consolidação de uma imagem que persiste e se confirma a cada dia. Não foi por acaso que Pelé ganhou, dentro e fora do campo, títulos como: Atleta do Século e Melhor Jogador de Todos os Tempos. Com ele projetou-se o nome de Santos: somos a terra de Pelé.
O fato de homenagear Pelé em vida cria o diferencial do futuro Museu que, até mesmo antes de ser construído, já é atração. O equipamento possibilitará estabelecer um elo estreito entre o atleta e o público, inclusive com possíveis eventos em que o Rei estará presente. O Museu qualificará e projetará a imagem da Cidade internacionalmente, dentre outras coisas, por ser uma atração exclusiva.
O Museu Pelé será instalado em área criteriosamente escolhida na região central da Cidade, sendo um dos projetos âncoras do Alegra Centro – Programa de Revitalização do Centro Histórico de Santos – que propõem a requalificação da região por meio da restauração do patrimônio cultural, valorização da paisagem urbana e desenvolvimento econômico com a atração de novas atividades, além de propor a integração da região central com o cais do porto. Após completar 5 anos de implantação, em fevereiro de 2008, o Alegra Centro apresentou resultados muito favoráveis decorrentes das ações realizadas.
Entre as conquistas um número elevado de empresas abertas em sua área de abrangência, grandes investimentos realizados pelo poder público e iniciativa privada gerando um aumento nos imóveis restaurados, e áreas que estavam subtilizadas ou deterioradas estão sendo revalorizadas, tanto do ponto de vista imobiliário quanto social. A infra-estrutura urbana está sendo melhor utilizada, novos empreendimentos privados estão buscando a região central, impulsionados pelas oportunidades que surgiram.
O Museu ocupará os antigos Casarões do Valongo (século XIX) que outrora sediou a Prefeitura Municipal e reunirá um acervo rico e variado de peças ligadas à vida do Rei. O local encantará fãs de todas as gerações com os inúmeros momentos geniais do atleta. O museu também está inserido no projeto ‘Marina Porto de Santos’, que revitalizará os armazéns portuários da região central, transformando-os em um dos maiores pólos turísticos, de lazer e entretenimento e empresarial do Brasil.
Esse empreendimento será uma das principais intervenções urbanas em áreas portuárias já realizadas no Brasil, que inclui além de uma marina para 400 embarcações, o projeto prevê um terminal de cruzeiros marítimos, restaurantes, lojas, espaço para eventos, escritórios, espaço para eventos e feiras, estaleiro e serviços de apoio náutico.
O Museu Pelé será um dos indutores de desenvolvimento desse empreendimento, estando em frente ao Marina Porto de Santos e atrairá visitantes de todas as partes do mundo para conhecer as conquistas do Rei do futebol.
A restauração do Casarão do Valongo para sediar o Museu Pelé está sendo recebida com grande expectativa pela população, tendo em vista a situação de abandono e destruição que há muitos anos o edifício se encontra. A implantação do Museu Pelé transformará uma área que até pouco tempo era sinônimo de decadência e degradação num local atrativo com preservação da história.
Projeto
Uma das preocupações do projeto elaborado foi a adaptação de uma nova construção contemporânea dentro de um edifício neoclássico do século XIX, bem tombado pelo Patrimônio Histórico. O projeto possibilita a adaptação do novo programa do museu criando espaços diversificados e de grande valor estético. O imóvel será restaurado valorizando o entorno urbano e no seu interior será construída uma arquitetura nova, contemporânea, que abrigará o acervo do Rei Pelé. Dessa forma, o projeto propõe a recuperação das fachadas, reconstruindo a volumetria original e os acabamentos, refazendo a configuração volumétrica e estética tradicional.
Outro importante condicionante é o entorno do imóvel. Composto pelo Santuário de Santo Antônio do Valongo (séc XVII), Estação Ferroviária (séc. XIX), conjunto de edifícios ecléticos e armazéns do cais (início do séc. XX) que criam uma paisagem única do período do café onde o Casarão se destaca.
No interior, optou-se por adotar um partido arrojado, que trouxesse contemporaneidade à exposição do acervo determinando a adoção de algumas soluções arquitetônicas, como a inclusão de uma esfera com 12 metros de diâmetro que abrigará o auditório em um dos blocos. No outro bloco foram criados três pisos em forma de mezaninos recortados, permitindo uma transparência e leveza, possibilitando a observação quase total do acervo do Rei Pelé. O programa de necessidades definido propõe os usos nos três blocos que compõe o edifício da seguinte maneira:
Bloco central: (550 m2) está a entrada do museu com espaço para duas lojas, café e sanitários;
Bloco 1: (1.405 m2) conterá área para exposições temporárias, auditório em forma de esfera de 12 metros de diâmetro com cerca de 80 lugares, onde serão apresentados documentários, filmes e os gols de Pelé. No terceiro pavimento fica o setor administrativo do museu.
Bloco 2: (1.232 m2) estará o acervo de Pelé com seus objetos pessoais, fotos, filmes, troféus e material impresso dentro de um grande cubo de vidro, onde mezaninos liberam a continuidade das perspectivas e em conjunto com a vedação em vidro de todo o perímetro do edifício. Desta forma, a transparência e leveza são garantidas, minimizando obstáculos visuais no local.
Todo o projeto contempla a trajetória percorrida pelo Rei, com referências simbólicas, resultando em uma construção leve, ampla e iluminada, que guarda surpresas, como um inesperado volume esférico e cúbico de estrutura e revestmento metálicos e vidro, que atravessa o corpo principal dos dois blocos.
Ao intervir em um edifício que possui claros valores artísticos, históricos e culturais, o projeto levou em conta o caráter único e insubstituível do Casarão, entendendo-o como obra única, retomando a configuração volumétrica e estética do partido original (séc XIX) e recuperando as características construtivas dessa arquitetura, adaptando a uma nova função, museu.
Além disso, em decorrência das destruições ocorridas que suprimiu os pavimentos e divisões no interior, a adaptação das novas funções à área existente a fim de atender o programa proposto, permitiu uma maior liberdade na criação do espaço. O projeto teve o cuidado de entender o edifício, reforçando seu caráter de documento histórico e também como espaço cultural de uso contemporâneo, buscando recompor uma referência arquitetônica com maiores qualidades plásticas e espaciais, sem prejudicar a imagem do edifício tombado, promovendo um renovado sentido de qualidade e unidade para o Museu.
sobre o autor
Ney Caldatto, arquiteto pela Universidade Católica de Santos, mestre pela FAU-USP, é Chefe de Departamento de Desenvolvimento e Revitalização Urbana da Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Santos desde 2005, membro do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos, foi sócio da Gepas Arquitetura & Restauração Ltda. Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Santos, é também responsável técnico de vários projetos e obras de restauração de bens culturais de 1988 a 2002