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architectourism ISSN 1982-9930

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português
Neste artigo, Sérgio Settani Giglio traz um relato emocionante e emocionado de como conseguiu ver Ronaldinho Gaúcho e um bando de super-craques estufarem as redes do Camp Nou, estádio do Barcelona, um dos "templos" do futebol da atualidade

english
In this article, Sergio Giglio Settani brings us a both thrilling and moving story on how he managed to see Ronaldinho and a bunch of super-aces exciting the spectators in Camp Nou, stadium of Barcelona, one of the current football sanctuaries

español
En este artículo, Sérgio Giglio nos trae un relato emocionante y emocionado de cómo consiguió ver a Ronaldinho Gaúcho y a una banda de súper cracks calentar las gradas del Camp Nou, estadio del Barcelona, uno de los "templos" del fútbol de la actualidad


how to quote

GIGLIO, Sérgio Settani. Camp Nou. Arquiteturismo, São Paulo, ano 02, n. 017.06, Vitruvius, jul. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/02.017/1442>.


Sérgio Giglio no Ônibus-Museu do Barelona, de 1957
Foto divulgação

Entre dezembro de 2004 e março de 2005 morei em Barcelona. Teria três meses para conhecer a cidade sem pressa, poderia fazer rotas que os turistas não conhecem. O meu único problema era o pouco dinheiro que dispunha para passar esse período, já que foi o auge do Euro, nessa ocasião 1 Euro valia 3,89 reais.

Sempre que estou em alguma cidade que ainda não conheço procuro saber se haverá algum jogo, se o clube possui museu ou se é aberto à visitação. Em Barcelona, como a cidade é pequena optei em conhecê-la a pé e também seguir alguns caminhos que passavam pelo principal time da cidade, o Barcelona. Existe outro time na cidade, o Espanyol, que disputa os seus jogos no Estádio Olímpico, que abrigou a Olimpíada de 1992.

Vista do estádio Camp Nou e cartaz com preço do jogo entre Barcelona e Valência
Foto Sérgio Giglio


Além de conhecer a cidade, pensava em assistir algum jogo do Barcelona pela Liga Espanhola, porém, o preço dos jogos do Campeonato Espanhol variam de acordo com a posição do time na tabela. Logo que cheguei aconteceria um grande clássico entre o time local e o Valência, e como os dois times estavam bem colocados no campeonato, o valor do ingresso estava entre os mais caros da temporada.

Estádio Olímpico, Barcelona
Foto Sérgio Giglio


Claro que não pude assistir a esse jogo, pois o valor mais barato era o equivalente a 190 reais, e tive que esperar um pouco mais para conseguir assistir a uma partida no Camp Nou. Nesse meio tempo, entre a minha chegada e a primeira partida, fui conhecer o estádio e o museu do clube. A estrutura do clube é impressionante. Ao lado do estádio existe um campo de treino, toda a estrutura para outros esportes, ao todo são mais de 100 portas de acesso ao campo, o museu está acoplado ao estádio.

Complexo Camp Nou, Barcelona
Foto Sérgio Giglio


Depois de conhecer o clube sem a presença da sua torcida, consegui encontrar um jogo realmente “barato”: Barcelona x Mallorca (jogo válido pela 24ª rodada). Nesse momento o Mallorca ocupava as últimas colocações da tabela e por isso o valor do ingresso estava em baixa (20 euros).

Vista do estádio Camp Nou, Barcelona
Foto Sérgio Giglio


Algumas coisas me chamaram muito a atenção durante esse jogo. Ronaldinho Gaúcho estava no auge de sua forma, aparecia como destaque do time, era o craque inconteste do clube, havia sido eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA e, por isso, as pessoas iam, além de ver o Barcelona jogar também para assistir as jogadas do craque.

No início do jogo o atacante camaronês Eto’o pegou o microfone e pediu o fim do preconceito racial que aconteciam no cenário futebolístico europeu naquele momento. Ao final de sua fala, em espanhol, foi aplaudido pela torcida.

O Barcelona encontrou dificuldades no início do jogo, teve um pênalti que o Mallorca desperdiçou quando ainda estava 0 x 0. Jogo tenso, com a primeira chance clara de gol desperdiçada pelo time adversário, o Barcelona encontrava dificuldades em desenvolver o seu futebol. A torcida estava apreensiva até que o telão mostrou que o Real Madrid perdia em casa para o Athletic de Madrid. A rivalidade entre as duas equipes é tão grande que a torcida vibrou mais quando o Real tomou os gols do que no momento em que o Barcelona fez o primeiro gol.

Para entender essa rivalidade é preciso relacionar a história da Espanha com os times de futebol. Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) o ditador Francisco Franco procurou impor uma uniformidade na vida nacional, para isso defendeu o castelhano como língua oficial em detrimento das demais línguas (catalão, basco, galego etc).

O ensino escolar adotou o castelhano como língua oficial, porém, fora das escolas as crianças aprendem a língua local. Se olharmos para as posições políticas que os clubes vão assumir, percebe-se a oposição nesse ponto. O Barcelona tornou-se um símbolo antrifranquista, o escudo do clube possui as cores da bandeira da Catalunha e a língua dessa região é o catalão. O presidente do Real Madrid, presidente Santiago Bernabéu (assumiu esse cargo em 1943) manteve simpatia com o período franquista, fato que fez com que o time da capital fosse visto como clube do regime.

Placar do Camp Nou anunciando resultado parcial do jogo Real Madrid e Athletic de Madri
Foto Sérgio Giglio


Voltando ao jogo. Durante o intervalo outras situações curiosas aconteceram: os torcedores do nosso setor, que era o mais barato e o mais alto do estádio, levavam o seu próprio lanche, talvez pelo preço dos produtos no estádio: um lanche 3,50 euros, uma coca-cola 2,50 euros e um café 1,20 euros.

Cartaz de lanchonete com preços dos produtos no estádio do Barcelona
Foto Sérgio Giglio


Ao final do jogo o time da casa não encontrou maiores resistências e venceu a partida com dois gols do brasileiro Deco. Após a partida, as inúmeras portas que o estádio possui facilitam a evacuação do espaço. Em poucos minutos o estádio estava vazio. Claro que o grande número de pessoas lotou o metrô, mas existe toda uma estrutura (como aqui também há) que organiza o metrô.

Camp Nou após o jogo
Foto Sérgio Giglio

Tinha conseguido um dos meus objetivos que era assistir a uma partida do Barcelona e ver o Ronaldinho Gaúcho jogar, afinal, nunca o tinha visto jogar ao vivo no Brasil. Como os ingressos eram caros e tinha pouco dinheiro para sobreviver até março não me interessei em assistir a outras partidas.

Oração antes do início da partida
Foto Juliana Steinberg


Porém, no final de dezembro de 2004 aconteceu uma tragédia na Ásia: o tsunami. O terremoto de 9 graus na escala Ritcher matou milhares de pessoas, e em fevereiro de 2005, foi organizada uma partida para arrecadar fundos em prol das vítimas do tsunami. O jogo reuniu as maiores estrelas do futebol mundial e foi disputada entre o time do Ronaldinho Gaúcho e o time de Sevchenko.

Início do jogo
Foto Juliana Steinberg


Como era uma partida em solidariedade às vitimas o preço do ingresso foi mais barato que o do Campeonato Espanhol: “apenas” 10 euros. Se já tinha visto Ronaldinho e Cia jogar pelo Barcelona, agora era a chance de ver Sevchenko, Kaká, Beckham, Zidane, Gerrard, Dida, Henry, Del Piero, Cafu, Casillas, Toldo, Thuram, Litmanem, Raúl, Zola, Giuly etc.

Torcida acompanha a partida na arquibancada inferior de Camp Nou
Foto Sérgio Giglio

Se no primeiro jogo que assisti estive no lugar mais alto do estádio, nessa partida ocupamos o lugar atrás do gol, no anel inferior do estádio. A parte em que assistimos a outra partida estava fechada. A presença do público foi grande (40 mil pessoas, embora parecesse menos) apesar do frio que fazia no dia, uma terça-feira à noite.

Gol do time do Ronaldinho
Foto Sérgio Giglio


Assistir a uma partida de futebol em que o erro não será contestado tem outro sentido. É um outro jogo. Ainda mais quando estão em campo os grandes astros desse futebol mundial. Uma partida como essas faz com que a valorização da habilidade individual seja colocada em primeiro plano. Claro que a pouca exigência pela marcação se comparada a uma partida que pertença a algum campeonato altera a dinâmica do jogo. Se o que se preza nesse tipo de jogo é a habilidade e a pouca marcação, o resultado todos já sabem: inúmeros gols.

Placar apresenta resultado do final do primeiro tempo
Foto Sérgio Giglio


Não foi à toa que o placar final da partida, vitória por 6 a 3 do time de Ronaldinho, cause algum espanto nos dias atuais, se no passado, as formas do jogar eram outras e os placares eram mais altos que os atuais.

Ronaldinho acompanha a jogada
Foto Sérgio Giglio


Não há dúvidas que assisti partidas melhores e mais interessantes que as duas descritas nesse texto. Entender como os barceloneses se relacionam com o clube facilita o entendimento da frase que o “Barcelona é mais que um clube”, ele representa o modo de ser do catalão. A oportunidade de ver no estádio jogadores (mesmo brasileiros) que somente vimos pela televisão é uma experiência interessante.

Cena do jogo
Foto Sérgio Giglio

Com a saída cada vez mais cedo dos jogadores brasileiros para o exterior a única forma de vê-los em campo será no exterior. Apesar desse fato, as partidas acompanhadas tornaram-se significativas pelo contexto em que aconteceram (meu primeiro jogo no exterior), a presença das grandes estrelas e um jogo em prol das vítimas de uma das maiores catástrofes da história da humanidade, transformou esses jogos em partidas especiais.

Visão geral do campo
Foto Sérgio Giglio


sobre o autor

Sérgio Settani Giglio é graduado e mestre em Educação Física pela UNICAMP. Integrante do GIEF (Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol); do MEMOFUT (Grupo de Literatura e Memória do Futebol) e do GEPEFIC (Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Física e Cultura). Atualmente é professor no curso de Educação Física da Uninove.

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