A fotografia – o documento fotográfico – permite uma infinidade de leituras e pode conduzir a uma reflexão em torno das origens, da formação e da história de uma sociedade. A maneira como o público-visitante se mostrou sensibilizado ao percorrer uma exposição de fotografias em que se mostrava em detalhes as elaboradas platibandas da arquitetura de Januária, no Norte de Minas Gerais, demonstrou essa força da imagem fotográfica como documento e fez surgir a idéia de um estudo. O público em questão, ao observar as imagens retratadas por mim, manifestou o sentimento de surpresa de se encontrar pela primeira vez diante de um tempo histórico e geográfico desconhecido, nunca percebido até então. No entanto, ali estava esse tempo, materializado nas imagens enquanto forma de percepção e de conhecimento, por parte daquele público, de sua própria história e da história das cidades surgidas às margens do rio São Francisco através do tempo. Aquelas edificações somente tinham sido familiares, até ali, a partir da imagem aberta, em panorâmica. O foco, ao buscar a máxima proximidade dos florões, frisos, capitéis e outros detalhes modelados em argamassa nas fachadas de cada uma das casas documentadas, revelava algo inteiramente novo ao olhar do público.
A busca, pela memória, das origens daqueles ornatos estimulou o imaginário histórico do público-visitante e ampliou de modo considerável a função da Mostra. A arte presente nos elementos arquitetônicos, testemunhos da contribuição de uma civilização ribeirinha (com seus símbolos, suas representações de uma realidade) na construção de sua identidade através do tempo, tinha, naquele momento, a força de um chamamento à necessidade de se conhecer o passado histórico da cidade. O documento fotográfico mostrava, por assim dizer, a sua face instrutiva.
A cada novo encontro com o público, com alunos secundaristas e universitários, a Mostra Fotográfica permitia dialogar com temas relevantes como patrimônio, identidade e memória. É também para esse despertar de uma consciência que se destina o olhar fotográfico-documental sobre a arquitetura de Januária, isto é, para que o público possa, a partir dessas imagens, interpretar e naturalmente valorizar mais sua própria história.
sobre o autor
Ana Alaíde Barbosa do Amaral é fotógrafa e graduada em História pelo Instituto Superior de Educação de Januária/ Ceiva
O presente texto é sobre a Exposição Oficina Itinerante "O exercício do olhar" que ocorreu no Sesc Laces e nas escolas da cidade de Januária MG