A água é um elemento da vida e talvez por ser parte integrante dos seres humanos, seja em si um fator de atração. No caso do ecoturismo, aquele turismo voltado para o patrimônio natural e cultural, que envolve a responsabilidade para com o meio ambiente, destaca-se que a água exerce função específica, ao permitir que se desenvolvam atividades contemplativas, visualizando paisagens lacustres locais, ou atividades ativas, permitindo a recreação com passeios em botes nos cursos d’água, descidas de cachoeiras, dentre outros.
Esse tipo de turismo está se desenvolvendo ao mostrar as qualidades geográficas regionais e locais do país e vem atraindo muitos estrangeiros, além de estar movimentando os usuários nacionais. E como se sabe, há turismo quando há pernoite, caso contrário é excursionismo. E a tendência desse tipo de turismo é de crescimento, transformando-se em turismo de massa que além de turistas atrai comércio, serviços e empreendedores, gerando uma cultura de negócios com oferta de emprego. Podem-se descortinar nichos de negócios de ecoturismo, em áreas urbanas e em áreas rurais; nestas destacam-se os festejos rurais, leilões de gado e o agro-comércio.
Com o tempo esse ecoturismo envolvendo água torna-se um fator de desenvolvimento econômico, conhecido como a indústria do turismo. Desse modo demanda a criação de suporte físico específico que se coadune com a manutenção e preservação dos recursos naturais, ao mesmo tempo em que os turistas consomem a cultura, comércio, serviços e artesanato local, dentre outros produtos regionais.
Como necessitam de apoio logístico, hotéis, suporte urbano com pontos de recepção dos turistas, deveria se contar com um Portal de Entrada para o Ecoturismo: além desse portal, o carro não entra; o deslocamento é preferencialmente a pé, individual ou em grupos dirigidos ou levados por bugues ou bondes especiais. Neste portal é que se toma contato com as características daquele espaço a ser visitado; pagam-se os ingressos; consomem-se lanches rápidos; e também se podem comprar lembranças locais, vídeos com a flora, fauna, características das águas locais e do ecoturismo gerado.
Organizar o espaço para a estruturação desse ecoturismo é um trabalho de arquitetura e urbanismo, pois esta arquitetura de recepção por vezes pode ocorrer na área urbana, ou na entrada de empreendimentos rurais, como aqueles em que se visitam grutas, cachoeiras e lagos. A própria área urbana merece cuidado do arquiteto e urbanista, preferencialmente através das prefeituras locais, Brasil adentrando, como se encontra na Chapada Diamantina, coordenações de turismo instaladas na cidade de Lençóis, na Bahia. É preciso ressaltar a característica história da cidade, os pequenos estabelecimentos de produção de artesanato local, os pontos de partida para as trilhas e passeios na Chapada.
Este trabalho local será mais facilmente enfatizado se houver um trabalho de gestão ambiental urbana desenvolvido pela Prefeitura, com projetos especiais que enriqueçam as qualidades daquele ecoturismo. Nestes empreendimentos de ecoturismo a água é um recurso natural que, ao se tornar recurso hídrico, transforma-se em fator econômico. Então precisa ser compartilhada, exigindo arbitragem e controle de seus usos múltiplos.
A sociedade, por sua vez, precisa aceitar as regras de convivência impostas pela arbitragem e controle. Além disso, é importante que as formas de ecoturismo e suas classificações sejam reportadas à Organização Mundial de Turismo, para serem equivalentes às de outras regiões e países.
O tempo livre – ócio, como era chamado – passa a ser prioritário para o ecoturismo e suas atrações. O ócio antes associado à preguiça e a fazer nada, torna-se criativo, pois permite descanso, alívio do stress, ao mesmo tempo em que gera sinergia e aumenta a produção, preparando as pessoas para melhorar seu rendimento e atingir metas.
Para arquitetos e urbanistas caba ainda interpretar e utilizar, dentre as legislações urbanas e ambientais específicas, o Estatuto da Cidade, como fundamento da função social da propriedade a ser prevista no Plano Diretor de Município, principalmente ao focalizar o EIV – Estudo de Impacto de Vizinhança, para obter licenças ou autorização de construção, ampliação ou funcionamento.
Há que prever adensamento, geração de tráfego, equipamentos comunitários e de infra-estrutura, valorização imobiliária, dentre outros. Em termos arquitetônicos destaca-se o papel do patrimônio histórico, cultural e paisagístico, como uma riqueza a ser preservada para a humanidade. Além do Estatuto da Cidade, destaca-se o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, prevendo a conduta humana não predatória face à estrutura e suporte para visitação, naquelas Unidades de Conservação de Uso Sustentável.
Desse modo são importantes para o Arquiteturismo em questão, seus projetos, obras e urbanismo, os aspectos naturais como hidrografia, relevo, tipos de solo, assentamentos, acessos, infra-estrutura, monumentos, preservação histórica e da biodiversidade. O produto do ecoturismo é o lugar com suas qualidades peculiares, exigindo projetos específicos que individualizem a paisagem e gerem no turista a vontade de voltar.
sobre o autor
Gilda Collet Bruna, Arquiteta e Urbanista, Mestre, Doutora e Livre-docente, Coordenadora e Professora do Programa de Pós em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie