O trabalho com câmaras de grande formato representa a quintessência do fazer fotográfico, território trilhado por uns poucos virtuoses, profundos conhecedores da técnica e da especificidade da fotografia como meio de expressão, como aquela que Edward Weston cogitou denominar de “oitava arte” em seu texto Photography: An Eight Art?, de 1928.
No mesmo texto em que ele discorria acerca da dificuldade existente entre:
Com a silenciosa obstinação dos sábios, Cesar Barreto soube se submeter a esse longo e árido aprendizado, construindo na última década uma sólida obra fotográfica, totalmente imune ao alarido dos modismos fugazes.
Tomando a fotografia de paisagem como tema, não em virtude de qualquer bem intencionada perspectiva ecológica, e sim por buscar na paisagem aquilo que existe de mais permanente e transcendente em meio à inútil azáfama da vida moderna, Cesar Barreto já se firmou como uma das grandes forças expressivas da fotografia brasileira.
Deu provas inequívocas de sua maturidade na exposição Rio pictoresco, realizada no Museu Nacional de Belas Artes (entre 19 de outubro e 3 de dezembro de 2000), ratificando-a desde então numa série de mostras que têm lhe granjeado prestígio crescente.
Seu principal mérito foi o de atingir o virtuosismo técnico sem tombar no hermetismo rebarbativo, ou no exibicionismo estéril. Com rara habilidade, ele conseguiu desenvolver um trabalho capaz de seduzir tanto o mais inocente dos leigos, quanto o mais exigente dos iniciados.
O primeiro terá farto motivo de deleite na elegante abordagem da paisagem carioca — um dos temas centrais de seu trabalho, juntamente com as marinhas e os detalhes da natureza —, ao passo que o segundo apreciará sobretudo sua mestria no domínio do preto e branco.
Mestria alicerçada em longa experiência como laboratorista que pôs seu talento a serviço de importantes fotógrafos dos mais variados estilos e tendências. O que ambos podem sentir, no entanto, é a certeza de estarem diante de um fotógrafo completo, com domínio total de seu ofício.
Um fotógrafo da mesa estirpe de um Edward Weston, de um Ansel Adams, ou de um Marc Ferrez. Este último uma confessa fonte de inspiração, com o qual Cesar Barreto estabelece um diálogo visual para além do tempo, ao retomar a senda do paisagismo fotográfico trilhada no passado pelo mestre oitocentista, para renovar essa especialidade tão adequada às características físicas do Brasil, mas ainda tão pouco explorada pelos fotógrafos aqui surgidos na segunda metade do século XX.
[texto de Pedro Karp Vasquez, fotógrafo, pesquisador, curador, jornalista e crítico]
sobre o autor
Cesar Barreto desenvolve trabalho de expressão artística em fotografia e, desde 1995, realiza o projeto de fotografar paisagens que compõem um amplo retrato iconográfico carioca. Com 15 exposições individuais realizadas, dentre elas uma no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, tem fotos nos acervos de Joaquim Paiva, Biblioteca Nacional, Coleção Pirelli e Banco de Santos. Recebeu o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte (1996). O texto a seguir é de autoria do curador Pedro Karp Vasquez e tem como título original “O sentimento das coisas e a paisagem como metáfora: a fotografia de Cesar Barreto”