Três décadas de intensas vivências urbana em Paris e Nova York insinuam que essas cidades nunca mudarão na sua configuração. Virtualmente “congeladas” no tempo e no espaço consolidam as imagens dos cartões postais que representam uma iconicidade que continua vigente: uma expressão de identidade, reconhecida nos monumentos e espaços urbanos — tradicionais ou modernos —, que se mostra na sequência inicial do recente filme de Woody Allen, Meia noite em Paris. Acompanhar a dinâmica das multidões que no verão circulam nas ruas, praças, e museus destas cidades evidencia o desejo das pessoas de experimentar a beleza, a história, a tradição e a cultura da Humanidade. Desejo que se coloca em contraposição ao clima catastrófico que domina o mundo atual: os alagamentos e secas na China; os atentados no Iraque, Afeganistão e na Noruega; a violência nas cidades árabes e também em Londres; a falta de segurança no cotidiano do Rio e de São Paulo. Permanece dramático, e ainda persiste como trauma em Nova York, o vazio produzido pela destruição das torres gêmeas do WTC de Minoru Yamasaki — que, substituindo o tradicional Empire State Building, haviam se transformado num símbolo “moderno” no skyline de Manhattan —, resultado da ação terrorista dos emissários de Bin Laden.
Muito além do terror e da destruição prevalece o desejo de viver; enfrentando o pessimismo que a atual crise do sistema capitalista gerou, as pessoas querem desfrutar a vida com alegria, experimentar e assumir a infinita criatividade do ser humano, a contribuição dos artistas que enriquecem as nossas experiências estéticas: dia e noite os museus estavam cheios de visitantes, assim como Time Square e os grandiosos espetáculos da Broadway. Entre as múltiplas opções que a cidade oferece neste verão — incluindo até uma apresentação de filmes brasileiros no MoMA, e uma exposição da arquitetura recente no Brasil, organizada pela AIA de Nova York —, sobressaem no Metropolitan Museum of Art a apresentação da obra de Alexander McQueen — Savage Beauty —, impulsivo e frenético desenhista de modas inglês, que cometeu o suicídio ano passado com pouco mais de quarenta anos. Foi um dos maiores sucessos do museu que atraiu mais de 600 mil visitantes. Em alguns dias a visitação se prolongava até meia noite. Menos concorrida foi à exposição de silenciosas superfícies pretas espalhadas em salas brancas, de Richard Serra. No MoMA, o belga Francis Alÿs, estabelecido no México, apresentou uma série de vídeos sobre a vida cotidiana no contexto da pobreza e da violência. O mais original, foi o que apresentava a tentativa insistente de um Volkswagen vermelho arriscando-se a subir sem sucesso um forte declive para chegar à fronteira entre México e Estados Unidos em Tijuana. Como uma metáfora do mito de Sísifo, representava a tortura a que são submetidos os pobres imigrantes mexicanos. E finalmente no Guggenheim, o maravilhoso espaço central de Wright estava dedicado ao artista, filósofo e poeta japonês, de origem coreana, Lee Ufan — Marking Infinity — cujo primitivismo e minimalismo abstrato, resgatam os valores essenciais e primários da tradição estética da espécie humana.
Chegar de avião na Big Apple, no aeroporto de La Guardia, parece estimular um flash-back: surgem superpostas, como que por encanto, as camadas arquitetônicas da cidade, tão bem detalhadas e documentadas por Robert Stern nos seus volumes publicados pela Rizzoli. A primeira visão é sempre a Estátua da Liberdade, que tanto impressionou Dalí, que acreditava ser o seu primeiro monumento nos Estados Unidos. Nesta percepção quase cinematográfica da paisagem urbana se sucedem a malha compacta das casas tradicionais geminadas do Lower East Side; os apartamentos de luxo no Central Park; o classicismo da sede monumental do Municipal Building, do Woolworth, do prédio dos Correios e do Metropolitan Museum of Art, realizados por McKim Mead & White; o Déco e o modernismo do Rockefeller Center, do Chrysler, do Empire State e do MoMA; o International Style da Lever House, da sede das Nações Unidas, e do Seagram; e a agressiva irrupção do Pós-moderno com a torre de escritórios da AT&T de Johnson & Burgee.
É impossível não se lembrar das representações de Nova York criadas por Le Corbusier, Rem Koolhaas e Dalí: o primeiro, com a sua utopía da Ville Radieuse, que achava Manhattan caótica e desorganizada com os arranha-céus “baixos” compactados ao longo das estreitas ruas do centro; Koolhaas ao contrário ficou maravilhado com a originalidade e liberdade formal dos prédios inseridos na rigorosa malha cartesiana; Dalí, com a imagem onírica e catastrófica de edifícios destruídos numa planície verde deserta, aonde assomam as duas figuras gigantescas do Angelus de Millet, imagens antropomórficas de arranha-céus como lembrança da capital mundial. O crítico surrealista Michel Leiris associou as torres altas com uma metáfora erótica do falo, e com o complexo de Édipo que levaria ao final trágico da castração: visão pessimista que se concretizou com a destruição das torres gêmeas. Se supôs que esse ato terrorista poderia limitar a construção de arranha-céus no mundo, mas a concorrência para atingir a maior altura possível não cessou: o Burj Khalifa em Dubai (2010), projetado por Adrian Smith com Skidmore, Owings & Merrill, duplicou a dimensão do Empire State.
Em Nova York, os mais recentes edifícios altos pouco ultrapassam o limite simbólico dos cem pavimentos. Finalmente começa a ser edificado o conjunto de torres do WTC, com soluções pouco criativas que provavelmente não terão a significação simbólica que as gêmeas de Yamasaki obtiveram: a torre facetada — Freedom Tower — de 102 andares, de David M. Childs & Skidmore, Owings & Merrill, e a torre 2 de Norma Foster e Adamson, de 78 pavimentos, encimada por um chanfro em forma de diamante. No skyline da cidade maior presença tem a torre Hearst (2006) de 46 andares — construída sobre um edifício monolítico projetado em 1928 por Joseph Urban, com detalhes Art Déco —, ao destacar-se pela fachada estrutural de elementos triangulares de aço, em total contraste com o embasamento da sede original da empresa de jornais. Foster quebrou a tradição das torres dos anos trinta, que utilizavam o coroamento como identificação na paisagem urbana: a imagem escultural da totalidade do volume transformou-se na representação icônica de uma leve e movimentada dançarina. É considerada a primeira torre ecológica de Nova York, e obteve o certificado Leed Gold, pela utilização de materiais recicláveis e pela economia energética.
Ainda existem opções possíveis para a imagem do arranha-céu, alem das duas dominantes na paisagem da cidade: o volume sólido e compacto que perdurou até os anos trinta — tipo Rockefeller Center, e logo recuperado pelo Pós-modernismo nos anos oitenta —, ou as caixas de vidro que surgiram nos anos cinqüenta, sob a influência da Lever House e do Seagram Building. Renzo Piano e Frank Gehry desenvolveram duas alternativas antagônicas. O primeiro, em colaboração com o escritório Fox & Fowle Architects, construiu o New York Times Building (2006), uma torre de 52 pavimentos; onde a transparência, a virtualidade e a leveza contrastam com o contraditório entorno, definido pelo caos visual publicitário da Rua 42 e pela agressiva mega-estrutura de aço da Port Authority Bus Terminal. Ao colocar um sutil brise de cerâmica encobrindo as lâminas de vidro, criou um elemento plástico vibratório — quase uma tela branca semitransparente — que diluiu a volumetria do edifício na atmosfera da cidade. Por outro lado, Gehry, na Beekman Tower (2009) voltou à solidez do volume na torre de apartamentos de 76 pavimentos, estabelecendo uma ressonância com os prédios historicistas do contexto próximo: a Neogótica sede da Woolworth e o Neoclássico Municipal Building. Assumindo as tradicionais configurações decorativas que outorgam a identidade estética ao prédio, Gehry as transforma na dinâmica ondulante de uma pele de 10.500 painéis de aço inoxidável. Assim ecoa metaforicamente a afirmação do escritor E. E. Cummings, que “América está sempre em movimento” — segundo o crítico Thomas Fisher —; sugerindo a imagem fluida da brisa proveniente do East River, e ao mesmo tempo estabelecendo uma percepção constantemente variável com o reflexo do sol e das nuvens sobre a movimentada superfície de aço. Mas a coerente unidade estética das principais fachadas do arranha-céu tem como contrapartida negativa, uma cara totalmente plana da torre, o desenho convencional dos apartamentos e um embasamento de seis pavimentos, que abriga alguns serviços sociais, revestido com tijolos vermelhos banais.
Quando se visualiza o plano de Manhattan, denso e compacto, se tem a impressão que nada novo poderia caber na malha urbana existente. No entanto, sem dúvida, a cidade tem uma extraordinária capacidade de se renovar constantemente, de assimilar novos usos e funções, de revitalizar bairros e espaços públicos, tanto pela iniciativa da prefeitura, como pela aguerrida participação de empresários que apoiam e investem na boa arquitetura, como aconteceu com Barry Diller e André Balasz na região do Chelsea. Áreas que perderam sua função original são reocupadas — instalações portuárias, armazéns, pequenas indústrias e manufaturas, zonas residenciais degradadas — e valorizadas com novos edifícios ou com a concentração da vida social e cultural: é o caso de Chelsea, East Village e do Lower East Side. Com a transformação em passeio público — o High Line — de uma estrutura ferroviária elevada para transporte de carga dos anos trinta, em desuso; o bairro popular de Chelsea começou um processo de transformação. Primeiro foi restaurado o tradicional Food Market que ocupa um quarteirão, e a sua vitalidade originou a presença de hotéis, escritórios e luxuosos prédios de apartamentos, vizinhos ao High Line. Tadao Ando projetou o sofisticado Hotel Marimoto com banais janelas circulares; e Polshek Partnership colocou sobre o passeio o refinado Standard New York Hotel (2008), concebido com sóbrias reminiscências corbusianas.
Destacam-se nas proximidades do High Line dois prédios contíguos: o IAC Interactive Corporation de Frank Gehry e a torre de apartamentos One Hundred Eleventh Avenue (2009) de Jean Nouvel. No primeiro, Gehry abandonou o emprego das chapas onduladas de titânio, definindo as fachadas do edifício de escritórios de nove pavimentos com uma superfície de vidro de curvatura variável. A cor branca das faixas horizontais nas superfícies de vidro é produzida por um tratamento cerâmico especial dado ao vidro transparente; um acabamento que outorga uma imagem quase náutica ao edifício, que à distância se assemelha a um iceberg ancorado na cidade. O crítico Martin Filler, o considera, pela sua elegância e delicadeza, uma metáfora da presença de Greta Garbo em Nova York. Nouvel se contrapôs à essa imagem unitária e coerente criada por Gehry com uma torre de 23 pavimentos, com fachadas de vidros coloridos — verde e azul — e de tijolos vermelhos que identificam no muro posterior do edifício, a personalidade da arquitetura tradicional de Chelsea. A particularidade do projeto é dada pela infinita fragmentação da fachada — 1700 painéis de vidro de diferentes dimensões que facilitam a vista do Rio Hudson —, e pelo monumental átrio de entrada com sete pavimentos de altura, que se estabelece como um espaço verde para as atividades sociais dos moradores. No interior, a metragem quadrada dos 72 apartamentos varia entre 80 e 435 m2, disponíveis para aqueles que podem gastar entre 1,6 e 22 milhões de dólares.
Uma característica de Nova York é o contraste que se estabelece entre a arquitetura tradicional e as intervenções dos profissionais contemporâneos. Neles, sumiu a procura de integração ou mimese com a particularidade do contexto. Assim a surpresa e a inovação predominam sobre a proposta de uma continuidade ou condicionamento aos elementos formais predominantes. Isto acontece em três novos museus, espalhados no Low Manhattan. Renzo Piano desenha a ampliação da Morgan Library (2006), que ocupa a eclética mansão do início do século de Pierpoint Morgan na Lower Madison Avenue. Ele insere leves estruturas metálicas com tetos de vidro luminosos, que geram espaços de convivência intermediários, integradores dos diferentes volumes clássicos da mansão tradicional. No reativado bairro do Lower East Side Sjima & Nishizawa (SANAA), projetam o New Museum of Contemporary Art (2008), inserido em um quarteirão de casas geminadas de tijolos vermelhos. O contaste com a horizontalidade das fachadas se estabelece pelo desenvolvimento de caixas brancas independentes em altura, cobertas por painéis perfurados de alumínio semitransparentes, que valorizam a imagem de leveza do prédio. No mesmo quarteirão, a poucos metros de distância, Norman Foster e Adamson Associates situaram a Sperone Westwater Gallery (2010), um volume alto de vidro translúcido entre empenas, cuja originalidade consiste na presença de um paralelepípedo vermelho – com a altura de um pavimento – que se movimenta para que os usuários circulem nos cinco andares do edifício neste “elevador-sala”. Com a branca fachada do museu iluminada á noite, se reproduz com lentidão — na imagem da caixa vermelha — a movimentação dos carros e dos pedestres que circulam pela rua.
Para finalizar esta promenade architectural, duas recentes contribuições adotam atitudes contrastantes em relação à cidade. Thom Mayne e Joann Gonchar, do escritório Morphosis, projetam a sede da escola de desenho Cooper Union for the Advancement of Science and Art (2009), cujo complexo e quebrado volume contém um espaço interior que integra todos os andares da escola, em um vôo expressionista cenográfico e piranesiano, que se inicia no hall do térreo com uma escada monumental. As fissuras na fachada são como explosões para o exterior desse dramático espaço interno; na realidade, o que acontece na dinâmica funcional do edifício é insinuado pela virtualidade da pele metálica furada que define a sua volumetria. Com outra abordagem, Diller Scofidio + Renfro e Fox & Fowle Architects, concebem o Lincoln Restaurant Pavilion & Lawn (2011) que abranda a dura e monumental imagem da Acrópole da Cultura, que durante décadas representou o Lincoln Center, com as frias e pesadas colunatas dos edifícios brutalistas de Philiph Johnson, Pietro Belluschi, Gordon Bunshaft, Wallace Harrison e Eero Saarinen, entre outros. O conjunto está em total fase de renovação, e se adicionaram novas instalações como a Alice Tully Hall e a Juilliard School Extension. Este pequeno e transparente restaurante, integrado em uma das principais praças do conjunto, foi imaginado com o objetivo de ampliar o espaço verde de uso público. Para isso eles projetaram um leve parabolóide hiperbólico na cobertura do restaurante, cuja grama define o teto-jardim com forma de anfiteatro, acessível aos pedestres. Assim, entre a leveza da casca e as fachadas de vidro, o volume é absorvido na continuidade do conjunto urbano.
O interesse pelo desenho urbano, pela qualidade dos espaços públicos, pela identificação das particularidades dos bairros e pela vida cotidiana dos habitantes da Big Apple é uma das principais preocupações das instituições governamentais, privadas e dos líderes comunitários. O crítico Michael Sorkin, no recente livro Twenty Minutes in Manhattan, se propôs valorizar o contexto urbano das regiões do Soho, Tribeca e Greenwich Village, que ele atravessa no seu percurso da casa ao trabalho. O Museu Guggenheim desenvolve workshops nos seus laboratórios urbanos, como o Rethinking New York dedicado a explorar novos conceitos de desenho para vida social – confort in the city, think, talk, play –; e o Stillspotting, organizado pelo compositor Arvo Pärt e o escritório Snohetta, dedicado a estudar o relacionamento entre espaço e silêncio em cinco bairros da cidade. Daí a importância e o sucesso da iniciativa desenvolvida por James Corner Field Operations e Diller Scofidio + Renfro no High Line. São ações concretizadas para a comunidade, que procuram compensar as conseqüências da recessão econômica: segundo o articulista Vicente Katz, diminui o acesso gratuito à alta cultura. “A Metropolitan Opera cancelou os concertos nos parques em 2008, e neste ano, pela primeira vez desde 1965, um dos programas prediletos do verão — os recitais ao ar livre da New York Philharmonic — não vai acontecer”.
No fim das contas, uma boa cidade é feita de pessoas em movimento, de comércio, de habitação, de celebrações e do cotidiano de uma vida rica de experiências. Nova York é tudo isso e, talvez, um pouco mais. A experiência de um passeio no High Line é única: o sabor do sorvete, o perfume das plantas, a prazer dos molhar os pés confortavelmente sentado apreciando o vai-e-vem de todo tipo de gente. O refinado detalhamento do mobiliário urbano, a integração entre elementos metálicos, de madeira e do concreto armado, enriquecem a variedade de alternativas de uso possíveis ao longo do passeio. Chama a atenção o interesse dos projetistas em criar oportunidades para uma vivência da paisagem urbana pelos usuários: de tanto em tanto, surgem pequenos anfiteatros onde o público, sentado, assiste a cena criada pela movimentação das ruas. A crítica tem discutido muito a questão da diferença entre espaço público e coletivo e da questão da “privatização” dos espaços públicos; no entanto, talvez se possa desvendar muito mais sobre esses assuntos no próprio processo de desenvolvimento desse parque: de fato uma dinâmica social rica e inovadora; vale a pena visitar o site para aprender um pouco sobre a história e sobre as ações públicas e privadas que contribuíram para a construção deste belíssimo parque.
Descendo do High Line na rua 14 e caminhando para a Nona Avenida com a Rua Hudson às 19 horas de um belo dia de verão é possível se deparar com umas dessas pequenas praças triangulares, de que Nova York é pródiga — talvez lembrando a forma que definiu um dia os limites de Nova Amsterdã —, cheia de vida e de casais exibindo-se ao som da melhor salsa. Pode-se dizer que lugar é perfeito, bem tratado e provido de todos aqueles recursos — que William Whyte propôs à quase quarenta anos atrás — que podem fazer de um espaço aberto um lugar verdadeiramente público acima de qualquer suspeita ou “especulação crítica”: todos se divertem e a praça parece pulsar.
São inúmeras as praças triangulares: Jackson Square; Sheridan Square; Christopher Park; Petrosino Square; James Madison Plaza; British Garden; Bowling Green; a pequena praça em frente ao New York Vietnam Veterans Memorial, que também tem formato triangular. O Zuccotti Park, ali bem próximo do marco zero, fervilha na hora do almoço cheia de gente com seus “brown bag lunches”. A belíssima praça triangular diante do City Hall, flanqueada pela torre Woolworth, com wi-fi público e uma exposição de esculturas de Sol LeWitt atrai ainda mais pessoas.
Tudo aquilo que Whyte recomendou parece funcionar muito bem: bancos confortáveis, áreas sombreadas, fontes de água, pisos bem tratados, esculturas de alta qualidade. Além dessas é memorável o Fresh Food Market na praça triangular definida pela Canal Street, Sexta Avenida e a West Broadway. De todo modo, o ponto alto dos espaços triangulares é o Times Square, parece que o mundo inteiro resolveu passar por ali. Iconizado como uma espécie de “esquina do mundo” centraliza uma zona de entretenimento famosa e importante, os teatros da Broadway, que irradia novidades para todos os cantos do planeta. De fato, esse lugar parece cristalizar hoje todo o grande esforço realizado por ações públicas e privadas voltadas para a recuperação da Rua 42: uma verdadeira lição de urbanismo contemporâneo.
O sistema de transporte de Nova York e de sua região metropolitana é gigantesco e complexo; no entanto, não é difícil se movimentar por essa grande cidade, o transporte público é farto barato e confortável. Além dos famosos museus, e dos grandes parques públicos — além do Central Park, é de se registrar que o Prospect Park no Brooklyn, também projetado por Olmstead mas pouco visitado por turistas, é belíssimo — possui o maior, e talvez um dos melhores, sistemas de educação pública e privada dos Estados Unidos. A cidade tem como ponto alto as mais de duzentas bibliotecas públicas. Junto à sede da mais importante delas, a New York Public Library — considerada a terceira maior biblioteca dos Estados Unidos — se encontra o Bryant Park, que pode ser admirado como mais um excelente exemplo de aproveitamento do espaço público.
Uma das áreas mais interessantes e dinâmicas da cidade hoje é Williamsburg no Brooklyn. Abrigando uma população muito diversificada, concentra num trecho da Avenida Bedford — uma das mais longas desse Borough — bares, restaurantes, galerias de arte e lojas que atraem muita gente.
A cidade foi fundada como “posto de trocas” por holandeses em meados do século XVII e hoje, uma das aglomerações urbanas mais povoadas — quase vinte milhões, considerando sua região metropolitana — e dinâmica do mundo, continua sendo um lugar de “trocas”. Na “cidade que nunca dorme” estas “trocas” podem ser econômicas, sociais, culturais, ou de qualquer outro tipo imaginável, mas com alguns detalhes muito particulares: são sempre generosas, criativas, estimulantes e inovadoras.
Apesar dos vaticínios, profecias e das previsões assustadoras dos críticos e dos estudiosos assistimos não só a uma cidade segura nos seus alicerces econômicos, políticos e culturais, mas também um fortalecimento da esfera social na vida e nos múltiplos espaços urbanos; sejam eles ditos públicos ou coletivos.
sobre os autores
Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
José Barki, arquiteto (FAU/UFRJ), doutor (PROURB), professor da FAU/UFRJ e do PROURB. Chefe do Departamento de Análise e Representação da Forma e Vice-Diretor da FAU-UFRJ (2006-2008).