Desde o ano 2000, em sua última grande revisão curricular, o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Uberaba – UNIUBE – inseriu em sua proposta pedagógica o componente “Estudos Analíticos Comparativos”, disciplina de carga horária concentrada em uma semana, anual, que consiste em uma viagem curricular obrigatória com acompanhamento de um ou mais professor arquiteto do curso a uma determinada cidade ou região.
A viagem objetiva “empreender visitas a obras fundamentais, a cidades e conjuntos históricos e a cidades e regiões que ofereçam soluções novas” (1) ou válidas como repertório para a formação do futuro arquiteto urbanista. Os destinos são organizados em função do perfil desejado para cada período do discente dentro de seu percurso acadêmico: iniciando pelas cidades históricas de Minas Gerais (Ouro Preto, Mariana, Congonhas) e ainda Belo Horizonte, seguido por Brasília, São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro (a partir de 2011, pois até então o destino era Salvador). É sempre um momento importante dentro do curso, pois as viagens acontecem ao mesmo tempo – isto é, todas as séries viajam a seus destinos específicos simultaneamente, num momento de interrupção das atividades de atelier e de imersão nas diferentes realidades locais.
No ano de 2005 e a partir de 2007 até 2011 (quando encerrei minha atividade docente na Universidade de Uberaba), tive a oportunidade de acompanhar pouco mais de duas centenas de alunos nestas viagens anuais, sempre à cidade de São Paulo, juntamente com o Prof. Airton Araújo.
Viajar para conhecer a arquitetura, para fazer arquitetura, não é uma experiência nova – muito pelo contrário. Se os mestres do Renascimento já o faziam para desenvolverem seus estudos, Le Corbusier talvez tenha sido o maior propagandista da viagem de arquitetura, com seus clássicos esboços e anotações.
A viagem à cidade de São Paulo no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIUBE insere-se no meio do desenvolvimento do currículo do aluno, colaborando para sua formação dentro da série específica em que se encontra – o 3º ano, como para um entendimento mais amplo das questões que envolvem a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo.
Se nos seus dois primeiros anos de faculdade o discente toma contato com a arquitetura colonial mineira e importante parte do modernismo brasileiro, visitando Belo Horizonte e Brasília, a chegada a São Paulo revela a complexidade da metrópole contemporânea em sua melhor forma.
A multiplicidade de arquiteturas existentes na cidade de São Paulo tornam-na um excelente laboratório para o ensino, quando pode-se perceber o desenvolvimento de quase 500 anos de história da arquitetura e de todos os seus reflexos – na economia, na cultura, na paisagem, na população etc.
Nestas viagens, a clássica afirmação de Lúcio Costa de que “arquitetura é coisa para ser vivida” (2) mostra-se absoluta: não há slide ou fala que apresente melhor a experiência de sentir a dinâmica urbana pulsando nas esquinas do centro velho de São Paulo, da capacidade humana de modificar o território ao presenciar o Sol debruçar-se sobre uma infinidade de edifícios vistos a partir da cobertura do Copan ou de conseguir observar a delicadeza da implantação de um edifício, ao notar a relação da Casa Mendes da Rocha e da Casa do Bandeirante, seu diálogo, suas tecnologias, seus discursos.
Para o aluno, uma experiência certamente fundamental. Uma injeção de repertório sempre retomada na prática do ateliê de projetos – conceitos como monumentalidade, escala, proporção, dinâmica, etc. tornam-se definitivamente menos abstratos.
Como professor, redescobrir anualmente a arquitetura da metrópole e instigar algumas dezenas de jovens a fazê-lo com você é uma experiência de turismo arquitetônico ampliada, certamente inesquecível.
notas
1
Ementário, Proposta Pedagógica, Curso de Arquitetura e Urbanismo, UNIUBE, 2001.
2
COSTA, Lúcio. Arquitetura. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002, p. 23
sobre o autor
Juliano Carlos Cecílio Batista Oliveira é professor de Projeto da Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia.