No verão europeu de 2010, em busca de calor e sol, resolvi visitar duas regiões bem distintas na Itália: a Sicília, que fica ao sul, e a Toscana, localizada na porção centro-norte do país. O roteiro da viagem, num total de oito dias, começou pela cidade de Trapani, na Sicília.
Localizada na costa ocidental da ilha da Sicília, Trapani é uma cidade voltada para a indústria da pesca e que vê, no momento, um grande crescimento do setor do turismo. Esse crescimento é facilmente verificado pela enorme quantidade de bed & breakfasts, guest-houses, bares e restaurantes voltados principalmente aos turistas. O turismo na região também foi incrementado graças a presença de companhias aéreas low-cost, que fazem a interligação do pequeno aeroporto existente na cidade com Roma - a capital italiana - e outras metrópoles européias como Londres, Paris e Frankfurt.
Como toda a região da Sicília, Trapani sofreu forte influência árabe devido às invasões ocorridas no passado e que é principalmente notada na culinária local, uma mistura de iguarias mediterrâneas, peixes e frutos do mar com tradicionais ingredientes da cozinha árabe gerando, por exemplo, o famoso prato típico e símbolo da região: o couscous di pesce.
Muito pouco da presença árabe se percebe na arquitetura local. Praticamente não há resquícios da antiga cidade de Trapani e a maior parte dos edifícios históricos datam do período Barroco. A cidade, devido à sua localização, foi fortemente bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial, o que contribuiu ainda mais para o desaparecimento da maior parte dos antigos edifícios e, consequentemente, deu lugar a uma grande renovação imobiliária.
Próximo de Trapani, encontra-se a cidadela de Erice, localizada no topo do monte de mesmo nome, a mais de 750 metros acima do nível do mar. Erice tem sua economia quase que totalmente voltada para o turismo, já que atrai milhares de turistas devido às espetaculares vistas aéreas que proporciona de outras áreas da Sicília, como a própria cidade de Trapani, a Reserva Natural de Monte Cofano e da costa marítima.
Erice serviu, no passado, como refúgio para a população de Trapani e cidades vizinhas durante o período das invasões. Estão ali localizados diversas igrejas, monastérios e castelos, de vários períodos históricos.
Palermo, a capital da Sicília, foi a próxima etapa do roteiro. A cidade, que no verão alcança facilmente os 35 graus, é bastante conhecida por sua arquitetura, gastronomia e história, sendo um importante destino turístico na Itália. Suas igrejas, palácios, museus, teatros, fontes e praças atraem turistas do mundo todo.
A Catedral de Palermo é um perfeito de exemplo da mistura de estilos e períodos pelos quais passou a cidade. A catedral começou a ser construída em 1185 e ainda no século 18 sofreu reformas e adições. Pode-se notar em suas fachadas elementos góticos, renascentistas, barrocos e uma forte influência muçulmana.
Muitos edifícios do centro de Palermo parecem estar abandonados ou ainda não foram reformados por seus proprietários, após os bombardeios da Segunda Guerra Mundial, o que dá um certo ar de decadência a esta årea da cidade. Muito interessante notar que praticamente todos os prédios possuem terraços em suas janelas, voltados para as ruas.
Outro edifîcio de interesse turístico é o Teatro Massimo, a maior casa de ópera da Itália e uma das melhores acústicas da Europa, que foi imortalizado na cena final do filme O Poderoso Chefão III, dirigido por Francis Ford Coppola em 1990.
Em determinados dias da semana as estreitas ruas de Palermo são tomadas por mercados, onde é possível encontrar desde equipamentos eletrônicos até iguarias gastronômicas. Nos mercados também podem ser encontrados os famosos cannoli (doce típico da região) e também vinhos de qualidade, como os da variedade catarrato, muito comum na Sicília.
Após cinco dias percorrendo as caóticas ruas sicilianas, chegou a hora de partir e desbravar as ruas da ensolarada Toscana. Com apenas três dias para percorrer a região, o roteiro teve que ser resumido em apenas 2 cidades: Florença e Pisa.
Capital da região da Toscana, Florença é sem dúvida a principal atração deste pedaço tão famoso da Itália. A primeira sensação, logo ao chegar, é de que o clima ao norte é muito mais ameno e agradável se comparado com a ilha siciliana. As ruas são mais largas, os edifícios possuem fachadas menos ornamentadas e mais bem preservadas e a cidade, em geral, é muito mais limpa e organizada, possivelmente devido a importância que o turismo tem para a cidade.
Berço da Renascença, poucas cidades oferecem tanto em termos de arte e arquitetura como Florença. Em seu perímetro central, é possível encontrar obras clássicas de grandes arquitetos e artistas, como a Catedral de Florença, conhecida como Duomo, obra de Brunelleschi e o Campanário de Giotto, além de obras de arte como o famoso Davi, de Michelangelo.
Florença, que foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, é sede de grandes e importantes museus, como a Galeria Uffizi e a Galeria da Academia, onde estão expostas obras de Michelangelo, Botticelli, Leonardo da Vinci, Donatello e muitos outros grandes mestres.
A presença de turistas, provindos de todos os cantos do mundo, é tão grande que chega a incomodar um pouco. É difícil circular pelas ruas, os museus estão sempre lotados e as principais obras de arte parecem mais celebridades perseguidas por paparazzi. Alguns pontos mais turísticos da cidade, como a Ponte Vecchio e a Piazza Michelangelo, além da multidão de turistas ainda abrigam muitos vendedores ambulantes, que oferecem milhares de réplicas das obras encontradas nos museus e ruas de Florença.
A uma hora de trem de Florença, fica a cidade de Pisa, o último destino do roteiro a ser visitado.
Muito se fala em guias de viagem que a cidade nada mais tem a oferecer além da Leaning Tower – a torre torta de Pisa. Mas fato é que, enquanto os milhares de turistas estão ocupados fotografando a torre em poses engraçadas e se acumulando nos restaurantes ao redor da Piazza dei Miracoli, as estreitas e coloridas ruas de Pisa estão vazias e é exatamente nesses pedacinhos escondidos da cidade que se encontram os verdadeiros prazeres de Pisa: as tratorias e cantinas. Os restaurantes oferecem pratos tradicionais da cozinha toscana, feitos a partir de receitas de família, com séculos de história.
Ao contrário do que ocorre em Florença, em Pisa é possível apreciar com tranquilidade a arquitetura da cidade e o colorido das ruas da toscana. E por ser uma cidade relativamente pequena, é o destino ideal para finalizar uma viagem tão densa em informação como este roteiro entre o norte e o sul da Itália.
sobre o autor
Francisco Alves (São Paulo, 1979) possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Braz Cubas e pós-graduação em Sistemas de Informações Geográficas pelo Centro Universitário SENAC. Atuou como arquiteto e urbanista na EMURB e na Diagonal Urbana Consultoria. Atualmente vive em Londres, onde trabalhou em eventos como o London Festival of Architecture e o London Design Festival.