Há muitos anos, eu e o Hans Broos estávamos estudando um projeto para a área da Armação de Baleia e Forte São Luiz no Guarujá, que nunca conseguimos realizar. Ele estava estudando a área para a Fundação Martius do Instituto Hans Staden, pois era interesse da instituição restaurar o local onde morou e foi capturado o alemão Hans Staden.
O nosso projeto ficava na entrada do Canal da Bertioga e parte no mar aberto. O desenho aqui presente é parte do interesse de Broos nessa região.
A coincidência foi que eu estava fazendo um trabalho que se chamava "A Cal de Sambaqui" para um curso do Carlos Lemos e tinha retirado um trabalho antigo do Hans Broos na biblioteca do Condephaat (que eu já conhecia do tempo que trabalhei lá). O autor falava da cal de sambaqui e do óleo de baleia. Em uma de suas visitas ao Iphan, eu mostrei a ele o trabalho sobre as construções tradicionais de Santa Catarina, que ele havia feito para revalidar o diploma no Brasil.
No livro que depois foi publicado, ele escreveu na última parte que fui eu – o "Dr. Hugo Mori" – quem mostrou a ele algo que ele tinha já esquecido dos tempos de juventude (1). Eu insisti para ele publicar, mas demorou muito. Só conseguiu editar quando já estava doente e quase sem memória. No citado texto do final do livro, trocou o Iphan por Centro Cultural, mas no lançamento do Museu da Casa Brasileira me reconheceu, me abraçou e chorou.
Hans Broos, que faleceu no dia 23 de agosto de 2011, foi um grande arquiteto e melhor ainda como pessoa.
nota
NE
Artigos sobre Hans Broos no Vitruvius:
DAUFENBACH, Karine. Reflexões sobre a obra de Hans Broos. Arquitextos, São Paulo, n. 11.123, Vitruvius, ago. 2010 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.123/3530>.
MARQUES, André. Hans Broos, Série "Grandes arquitetos da arquitetura brasileira" <www.vitruvius.com.br/jornal/charges/698>.
1
A passagem é a seguinte: “No final de 1995, em razão de uma pesquisa sobre a História de São Paulo, fui consultar o acervo do Centro Cultural São Paulo (sic). Recebido por seu diretor, Dr. Hugo Mori, começamos a discutir técnicas construtivas antigas. Num determinado ponto da conversa, referi-me ao uso do óleo de baleia como aditivo na composição do concreto. Então ele disse: ‘tenho aqui um interessante livro do Ministério da Educação, que traz detalhes sobre essa composição”. Foi até a Biblioteca do Centro e de lá trouxe um exemplar do meu livro, que reencontrei depois de 38 anos e do qual quase havia me esquecido”. BROOS, Hans. Construções antigas em Santa Catarina. Blumenau, Editora da UFSC, 2002, p. 200.
sobre o autor
Victor Hugo Mori, arquiteto (Mackenzie, 1974) do quadro funcional da 9ª SR/IPHAN de São Paulo.