A revista Projeto de janeiro de 2001, número especial que faz um balanço da arquitetura brasileira na década de 90, publicou a opinião de seis críticos sobre algumas questões formuladas pela editoria. Acompanhando os destacados nomes de Ana Luiza Nobre, Antonio Carlos Sant’Anna, Carlos Eduardo Comas, Matheus Gorovitz e Roberto Segre estava o presente editorialista. Para responder às cinco perguntas foi dado a cada um espaço exíguo de, no máximo, 2 mil caracteres que, evidentemente, só foi seguido por aquele que está sempre envolvido, do outro lado da demanda, com o controle dos espaços alheios. O leitor que não teve a oportunidade de ler nossa opinião na revista Projeto, poderá conhecê-la agora no texto abaixo.
Revista Projeto: Quais os cinco principais projetos de arquitetura concluídos no Brasil na década de 90? por quê?
Abílio Guerra: MuBE Museu Brasileiro da Escultura, por antecipar o que viria a ser a excepcional obra de Paulo Mendes da Rocha no anos 90; as reciclagens do Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro e da Sala de Concertos na estação Júlio Prestes em São Paulo, por consolidarem uma visão mais criativa em relação ao patrimônio arquitetônico; as estações dos metrôs carioca e paulista, por colocarem novamente a engenharia nacional na proa do desenvolvimento tecnológico; o projeto Rio Cidade, por trazer a questão urbana novamente para a âmbito do arquiteto.
RP: Podemos apontar alguma tendência ou corrente arquitetônica iniciada ou desenvolvida no país nesse período?
AG: Mais do que tendências ou correntes, o que poderíamos destacar é o desenvolvimento de algumas perspectivas de abordagem: a preocupação crescente com o centro histórico das cidades, que levou à diversos projetos e algumas intervenções de reciclagem de edifícios isolados ou conjuntos significativos no Rio de Janeiro, São Paulo, São Luiz, Recife, Salvador e outras cidades; a adoção do desenho urbano no vácuo das experiências de Barcelona e que resultaram principalmente nos projetos do Rio Cidade e de Santo André, este último ainda em estudo de viabilidade econômica; e a experiência com outros materiais em ambientes culturais onde havia o monopólio do concreto armado – metal (principalmente Minas Gerais e São Paulo) e madeira (Severiano Porto, Marcos Acayaba e dezenas de arquitetos espalhados pelo país).
RP: Qual é o significado atual da arquitetura brasileira no panorama internacional?
AG: Depois de praticamente esquecida nos anos 70 e 80, a arquitetura brasileira voltou a interessar os europeus na década de 90. A obra de Niemeyer, antes um formalismo estéril, passa a ser referida e reverenciada por arquitetos tão diferentes como Rem Koolhaas, Jo Coenen e Christian de Portzamparc, sinalizando uma mudança de atitude. Exposições e publicações das obras de Vilanova Artigas, Sérgio Bernardes, Affonso Reidy, Lelé, Lina Bo Bardi e Mendes da Rocha na Inglaterra, Holanda, Suíça, Bélgica, França e Itália acentuam o tom de revisão e balanço.
RP: Em relação à década anterior, houve avanço ou retrocesso na arquitetura?
AG: Se no anos 80 podemos observar a predominância do pós-modernismo estéril e caricato, mas que de certa forma sinalizava uma tentativa de "acertar os ponteiros" com a produção internacional, os anos 90 é marcado por um abismo entre a "redescoberta" do moderno por uma nova geração de jovens talentosos e a arquitetura ostentatória e opressiva dos grandes edifícios corporativos – versão nacional da grande conflito mundial gestado pela globalização entre a padronização capitalista e as sobrevivências regionais.
RP: Quais o principais protagonistas da arquitetura brasileira nesse período? Há um grande nome e uma revelação da década?
AG: Paulo Mendes da Rocha é o grande protagonista da arquitetura brasileira nos anos 90, com uma arquitetura inventiva e sem concessões.
sobre o autor
Abílio Guerra é professor da FAU PUC-Campinas e editor de Vitruvius.